sábado, 23 de novembro de 2013

Walter Benjamin e o Cinema

Desde sempre existiu grande polémica em torno do cinema enquanto obra de arte. O facto do cinema ser a primeira forma cultural dependente de um aparelho tecnólogo, para ser reproduzido e desfrutado, deu azo a grande discussão ao longo dos tempos. É através do cinema que se nota a crescente separação existente. A máquina como substituto do próprio corpo humano é quase que um sonho do ser humano. Ao haver essa substituição, há a perda do aqui e agora – a sua existência única no lugar em que se encontra, a sua originalidade.
Na obra de Walter Benjamin (A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade), o autor fala da diferença entre o actor de cinema e o actor de teatro. No teatro, o desempenho do actor é apresentado ao público pela sua própria pessoa, enquanto que, o desempenho do actor de cinema é apresentado por um equipamento, não havendo qualquer contacto com o público. Perante isso, há dois tipos de consequência de que nos fala Walter Benjamin: a representação do actor é submetida a vários testes ópticos, havendo alterações dessa mesma actuação, e por não haver qualquer tipo de contacto com o público o actor não se pode adaptar perante a reacção do mesmo. É nestes dois âmbitos que se vê a enorme diferença entre algo que inicialmente parte do mesmo princípio mas que termina de duas formas totalmente opostas.
No cinema, pela primeira vez, o homem actua na sua totalidade como pessoa viva, mas sem a sua aura, pois a sua aura está ligada ao aqui e agora que não existe no cinema. Walter Benjamin, introduz-nos o conceito de aura, como sendo um conceito em completa decadência e isso é bem visível no cinema que todos conhecemos. Como reacção à decadência associada ao cinema, este recorre à construção da “personality” (culto da “estrela”), fora do estúdio de filmagem. Este culto é promovido pelo capital cinematográfico, conservando a magia da personalidade que há muito tempo que não passa de mercantil. Todos os dias somos “bombardeados” com isto e, a meu ver, este culto está a tornar-se cada vez mais poderoso e influente na nossa sociedade.
Ao compararmos a tela onde é projectado o filme com a tela de um quadro, conseguimos ver as diferentes reacções por parte do público. A tela do quadro convida o observador à sua contemplação, posto isto, o observador pode fazer as suas próprias associações, não havendo essa possibilidade na tela do filme. Quando o olhar regista a imagem projectada na tela do filme já esta deu lugar a outra completamente diferente, não podendo ser fixada. Assim há uma perturbação no processo de associação do espectador.

As massas estão cada vez mais a diminuir a importância da arte, a sua crescente obsessão por “aproximar” as coisas através da sua reprodução (cópia) não deixa espaço para a unicidade. Trata-se de um tema muito inserido no nosso quotidiano, é quase como algo que já faz parte de nós e por isso não nos apercebemos do que nos faz enquanto seres humanos.