Desde sempre existiu grande
polémica em torno do cinema enquanto obra
de arte. O facto do cinema ser a primeira forma cultural dependente de um
aparelho tecnólogo, para ser reproduzido e desfrutado, deu azo a grande
discussão ao longo dos tempos. É através do cinema que se nota a crescente
separação existente. A máquina como substituto do próprio corpo humano é quase
que um sonho do ser humano. Ao haver essa substituição, há a perda do aqui e agora – a sua existência única no
lugar em que se encontra, a sua originalidade.
Na obra de Walter Benjamin (A Obra
de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade), o autor fala da diferença entre o
actor de cinema e o actor de teatro. No teatro, o desempenho do actor é
apresentado ao público pela sua própria pessoa, enquanto que, o desempenho do
actor de cinema é apresentado por um equipamento, não havendo qualquer contacto
com o público. Perante isso, há dois tipos de consequência de que nos fala
Walter Benjamin: a representação do actor é submetida a vários testes ópticos,
havendo alterações dessa mesma actuação, e por não haver qualquer tipo de
contacto com o público o actor não se pode adaptar perante a reacção do mesmo.
É nestes dois âmbitos que se vê a enorme diferença entre algo que inicialmente
parte do mesmo princípio mas que termina de duas formas totalmente opostas.
No cinema, pela primeira vez, o
homem actua na sua totalidade como pessoa viva, mas sem a sua aura, pois a sua aura está ligada ao aqui e
agora que não existe no cinema. Walter Benjamin, introduz-nos o conceito de
aura, como sendo um conceito em
completa decadência e isso é bem visível no cinema que todos conhecemos. Como
reacção à decadência associada ao cinema, este recorre à construção da
“personality” (culto da “estrela”), fora do estúdio de filmagem. Este culto é
promovido pelo capital cinematográfico, conservando a magia da personalidade
que há muito tempo que não passa de mercantil. Todos os dias somos
“bombardeados” com isto e, a meu ver, este culto está a tornar-se cada vez mais
poderoso e influente na nossa sociedade.
Ao compararmos a tela onde é
projectado o filme com a tela de um quadro, conseguimos ver as diferentes
reacções por parte do público. A tela do quadro convida o observador à sua
contemplação, posto isto, o observador pode fazer as suas próprias associações,
não havendo essa possibilidade na tela do filme. Quando o olhar regista a
imagem projectada na tela do filme já esta deu lugar a outra completamente
diferente, não podendo ser fixada. Assim há uma perturbação no processo de
associação do espectador.
As massas estão cada vez mais a
diminuir a importância da arte, a sua crescente obsessão por “aproximar” as
coisas através da sua reprodução (cópia) não deixa espaço para a unicidade. Trata-se
de um tema muito inserido no nosso quotidiano, é quase como algo que já faz
parte de nós e por isso não nos apercebemos do que nos faz enquanto seres
humanos.