segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Dificuldade Humana em Lidar Com a Diferença


Se descermos da nossa confortável posição enquanto "o ser racional do mundo", podemos observar que o Homem é, sem dúvida alguma, também o ser que mais dificuldade tem em lidar com a diferença. É certo que a "culpa" reside nessa racionalidade, no entanto, também é certo que o nosso acto mais reflexo é julgar e estabelecer opiniões, muitas das vezes mal fundamentadas, acerca do que e de quem nos rodeia. Afastamo-nos cada vez mais de um ser observador e racional, para passarmos a agir por instinto. Um dos preconceitos mais comuns que se veio a desenvolver, e que está agora a tentar ser eliminado, tem a ver com algo tão básico como a diferença entre homem e mulher, e cada vez mais, todos os espectros que cada um pode optar por seguir. 
Platão sentiu necessidade de dividir claramente o mundo material do mundo espiritual, sendo o mundo espiritual um lugar de verdade e moralidade, superior ao mundo físico na medida em que tem uma forma pura, não afectada pelas formas sensuais do mundo real a que nós tão habituados estamos. Tal entra em concordância com diversas filosofias orientais, o que ajuda a provar que enquanto ser, não somos assim tão diferentes uns dos outros. Somos todos dotados de um pólo de razão e outro de desejo. De acordo com o autor, possuímos todos algo superior ao físico, por isso, deverá o físico entrar em conflito com aquilo que nós somos, ou deve apenas ser aceitado, sem questão? 
Em 1984, Judith Butler explora a exclusão da mulher no mundo filosófico e intelectual. Torna-se óbvio que a mulher sempre foi desvalorizada nesse aspecto, e que do ponto de vista social, mesmo que de forma inconsciente, o homem representa a verdade, a moralidade, o desenvolvimento intelectual, enquanto a mulher representa o físico, o impulso e o desejo. Quer seja propositado ou acidental, esta ideia tem raízes profundas em toda a civilização ocidental. 
Ao fim de algum tempo torna-se óbvio que o problema é muito mais profundo do que a desvalorização da mulher enquanto ser racional. Todos os problemas que advêm dessa simples ideia criam um mundo de conflito e uma imagem que se torna cada vez mais difícil de eliminar na nossa sociedade, quando muitas das vezes são, de facto, as mulheres a aceitarem a posição que lhes é atribuída, optando por alimentar a ideia de se têm que ornamentar, arranjar e agradar aos seus contemporâneos masculinos através do físico. 
Retomando a linha do pensamento platónico, se a observarmos como pessoas do século XXI que somos, podemos concordar que de facto todos possuímos um pólo físico e um pólo racional. No entanto, se nós somos seres racionais como tal nos afirmamos todos os dias, penso que seria sensato guiarmo-nos por essa racionalidade, e não pelo físico nem pelo impulso. Falta à humanidade compreender conscientemente que somos mais do que o corpo que possuímos, e que esse não deve apresentar uma barreira no modo como nos relacionamos nem nas opiniões que possuímos acerca do mundo físico de que somos parte. Cabe-nos elevarmo-nos a cima dessas questões, de modo a que nos possamos preocupar com o que realmente importa.