domingo, 24 de novembro de 2013

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"A melhor maneira de evitar que um prisioneiro escape é ter a certeza de que ele nunca se aperceba de que está na prisão."
Fyodor Dostoyevsky

Foi preciso chegar à recta final de uma pena prisional de mais ou menos 19 anos para ouvir (finalmente!) um dos guardas admitir que, sim senhora, quer queiramos quer não, estamos presos à mais ou menos 15 anos.
A escola não educa, a escola amestra.

Um senhor importante relacionou a criação da escolaridade obrigatória (e não só) com a mudança do sistema penal no século XVIII.
Até ao final do século XVIII (salvo erro), o sistema penal era um sistema de suplício - o castigo era físico e público, o pobre coitado era decapitado em público, a audiência divertia-se ao saber que ainda tinha cabeça e seguia para casa para pensar duas vezes da próxima vez que contemplasse cometer um crime.
Mas muitas das vezes o castigo aplicado não era de todo proporcional ao crime cometido. Isto causou tumultos e os carrascos começaram a ser perseguidos e os tribunais atacados. Causou agitação porque se viviam tempos muito complicados e era criminoso matar-se alguém porque roubou um pedaço de pão.
Consequentemente, os órgãos judiciais da altura viram-se obrigados a reformar o sistema penal.
E assim nasceu o sistema penal actual, o de encarceramento! Mas sejamos honestos, é complicado explicar seja a quem for que alguém que mata 15 pessoas vai passar o resto da vida a jogar no pátio da prisão e a ver telenovelas.
Para habituar as pessoas de que estar fechado num sítio, a cumprir regras, X horas por dia é simultaneamente uma seca e uma coisa perfeitamente normal foi criado todo um sistema de organização social baseado na prisão. E com isto a escolaridade obrigatória.

Como tudo na vida, a escola é uma faca de dois gumes - é verdade que sim, é imprescindível que toda a gente (sem excepções) tenha acesso a educação e literacia MAS será que essa educação e conhecimento residem na escola?
A grande questão aqui é esta: Será que a escola como a conhecemos nos dá realmente ferramentas para crescermos enquanto ser humano, ou será que a escola não é nada mais que uma obrigatoriedade para nos preparar para as penas que ainda nos faltam cumprir? Mais, será que eu estou na escola para aprender ou para responder a questões escolhidas a dedo?
Quantos de nós se viram com uma corda ao pescoço porque aquilo que era importante tratar, ou aquilo de que era (in)conveniente falar não saía em exame? 

De que é que serve formar indivíduos se isso estraga o esquema todo?
As resposta de exame têm de ser todas iguais.

(O senhor importante é Michel Foucault)