“Melhor dar que receber!”
Uma frase que nos vem seguindo ao longo dos anos. Espera-se que seja uma espécie de regra, um ideal que toda a humanidade deve seguir, para que possamos estar todos felizes. No entanto, lá no fundo, onde ao ser humano lhe custa admitir, ele sabe o regozijo que é receber comparando ao de dar. Não é culpa sua, a sociedade é que educou para assim ser. Seduziu com o prazer. Com a evolução da tecnologia foi-se perdendo comunicação “dar-receber”. Claro que o telefone é uma óptima maneira de comunicar com outros, no entanto o número de receptores-locutores é mínimo, comparando com a grande dimensão da rádio. Esta suscitou um monólogo que antes não existia, fez com que a mensagem passasse sem que qualquer resposta voltasse. O ouvinte passou a ser como uma esponja, ao absorver.
“Liberal, o telefone permitia que os participantes ainda desempenhassem o papel do sujeito. Democrático, o rádio transforma-os a todos igualmente em ouvintes, para entregá-los autoritariamente aos programas, iguais uns aos outros, das diferentes estações.”
Sem que o ouvinte se aperceba, mesmo quando com a interação do público, foi resultado de uma “selecção profissional”.
Quando surge a televisão esta vem poderosa, pois adiciona à rádio algo que lhe fazia falta, a imagem. Mesmo que algo possa ser dito muitas vezes nunca é tão credível como uma boa imagem. Ela tem as suas possibilidades ilimitadas. A seleção de material a exibir, a propaganda que pode oferecer, o observador cai em algo que é familiar: a semelhança com a realidade. Tudo o que a televisão exibe, sejam os seus programas, como publicidade, filmes, noticias ou novelas, transmite uma semelhança. O espectador identifica-se com aquilo que vê. Passa a haver um ciclo, as canções com os seus ritmos fáceis de memorizar, os clichés de episódios passados numa novela que voltam a acontecer noutra. A audiência já espera isso, espera pelo previsível, quando no início do filme já se pode vislumbrar como será o seu final.
“A velha experiência do espectador de cinema, que percebe a rua como um prolongamento do filme que acabou de ver, porque este pretende ele próprio reproduzir rigorosamente o mundo da percepção quotidiana, tornou-se a norma da produção. Quanto maior a perfeição com que suas técnicas duplicam os objectos empíricos, mais fácil se torna hoje obter a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se descobre no filme.”
O sujeito começa a querer que o mundo seja como o que vê na televisão, dá-se uma busca pela perfeição. O cabelo precisa de certo produto para que fique sedoso e brilhante, e certamente que sem esse produto esse sujeito não será feliz. Acaba por haver uma globalização, pois o que existia de diferente de pessoa para pessoa, agora são diferenças mínimas que não se desenvolvem porque toda a comunidade absorve do mesmo. A sociedade recebe o que a media lhe tem para dar, pois infelizmente dá menos trabalho receber do que dar.