O trabalho enquanto projecto do homem, é caracterizado por uma actividade que implica por parte do ser humano conhecer todo o caminho que o leva ao resultado, desde o estado primário ao final daquilo que se pretende criar, trata-se precisamente de um acto de criação. O homem parte para a criação de determinado objecto através das suas necessidades, conhece-as, e então elabora o projecto que consegue melhor responder ás mesmas.
O artesão, ao produzir o objecto com as próprias mãos precisa de o conhecer, inteirar-se deste, desde a sua matéria-prima passando pela técnica até obter o produto final. Existe uma ligação quase umbilical entre o trabalhador (criador) e o produto (criação). Através do domínio total sobre o produto do seu trabalho, o artesão concebe a sua criação como o resultado de um projecto, de um investimento emocional, onde domina todo o percurso, desde o momento da concepção até ao nascimento do objecto, tomando consciência do seu valor. O homem está ligado ao objecto criado através do seu conhecimento sob o mesmo, onde o resultado é a projecção do sujeito.O trabalho estava assim inteiramente ligado aquele que o fazia. No homem, existia a valorização de si mesmo e a realização pessoal do conhecimento da riqueza produzida.
Num retrato económico vulgar nos dias de hoje, temos noção da clara divisão do trabalho, já não encontramos um único homem dedicado a todo o processo, mas sim uma cadeia de produção, que responde a uma sociedade capitalista. Foi desta maneira que o trabalho foi distribuído, separando o trabalhador por funções, o que iria de certo modo acelerar o processo de produção, onde ao trabalhador era imposta uma função repetitiva e sistemática. Esta divisão, causou também a fragmentação do sujeito relativamente ao processo, pois este agora deixa de inteirar o mesmo, passando a tornar-se apenas uma ferramenta para a sua concretização. O trabalhador perde o seu interesse na actividade pois esta já não lhe pertence, na medida em que deixa de conhecer o seu valor. Como visto por Marx (em O trabalho alienado), torna-se consequência deste desinteresse, a alienação do trabalhador em relacção ao trabalho como também a si mesmo. No acto repetitivo que lhe é destinado, já não toma conhecimento do resultado final, ao contrário do artesão que conhecia toda a concepção do seu produto.
Na sociedade actual, perdem-se cada vez mais as relacções humanas em resposta á necessidade capitalista da sociedade, criam-se medidas de primeiro plano para o aumento da produção e deixa-se de lado a concretização do sujeito em si. Neste contexto o objecto mais valioso é aquele que implicou menos custo de produção, consequentemente, uma maior quantidade produzida num menor tempo. Para tal foi necessária por parte do trabalhador uma atitude cada vez mais robotizada. Será esta a ordem de valores que queremos manter? Pode o homem, na sociedade contemporânea, deixar de ter este papel de mera ferramenta de produção que o desvaloriza e põe de parte enquanto sujeito?
Tal como o artesão mantém ligação com o produto do seu trabalho, deve do mesmo modo o trabalhador de uma empresa, procurar soluções para quebrar a divisão do trabalho que o fragmenta e escraviza numa existência meramente de apropriação por parte do objecto, e passar desse modo a tomar o objecto como parte do seu domínio e criação.