domingo, 24 de novembro de 2013

Pseudo-liberdade de escolha


À medida que o comboio avança a fim de que chegue ao seu destino, reparo nos que me rodeiam. Velhos e jovens, homens e mulheres, que se encontram na mesma situação que eu: ambos ambicionamos chegar a um destino.
Olho com mais atenção. Cada um de nós, ser individual, não me parece possuir, porém, uma identidade única. Parece-me que todos pensamos, de certa forma, da mesma maneira e para o mesmo fim. Ambos entrámos num comboio que nos leva a um destino, em que o principal objectivo será cumprir as tarefas que de certa forma nos comprometemos a fazer, para que no fim possamos ser recompensados por isso. Quando cumprido o acordo, é hora de embarcar outra vez no comboio que nos trará de volta, para que chegando a casa, realizemos as tarefas que nos são socialmente impostas, que de certa forma "devemos" aos que nos rodeiam.
O que me pergunto é se temos consciência de que o que nos é apresentado como possibilidades de escolha se resume logo de início a uma seleção de ideais construídas para que possam transmitir a ilusão de escolha, quando na verdade se resume tudo à mesma coisa. Marx afirma muito claramente: “Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflecte sempre a coerção económica, revela-se em todos os sectores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa. [...] As mais íntimas relações das pessoas estão tão completamente reificadas para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstração: personality significa para elas pouco mais do que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar livres do suor das axilas e das emoções.”
Vestimo-nos de maneira a que nos sintamos únicos, discutimos assuntos e tomamos lados a fim de nos diversificarmos dos que conversam ao nosso lado no café, trabalhamos para nos destacarmos dos 100 que partilham a mesma sala de aula que nós... O nosso eu procura diferenciar-se ao mesmo tempo que se apercebe dessa impossibilidade, o que resulta num ciclo infinito e que não poderá ter outro fim se não uma eterna frustração. 


Pergunto-me se escolhemos este destino, ao mesmo tempo que constato que de certa forma, nenhum outro existia. Somos iludidos de que temos uma quantidade de escolhas à nossa frente, quando na verdade nenhuma outra escolha é válida. O meu dia decorre com a mesma finalidade do dia do senhor que vive na casa ao lado da minha, da senhora que passeia o cão de manhã ou do que serve cafés aos que passam apressados. Estamos perante um ciclo que não deixa de me surpreender à medida que nele reflito. Parece-me que é, inconscientemente, esta a razão pela qual as pessoas procuram criar uma identidade única no seu dia a dia. Ao se aperceberem que estão perante inúmeros indivíduos que em nada diferem deles, procuram de certa forma afirmar um carácter que os possa distinguir, e que os convença de que não são iguais.
Nisto o comboio para bruscamente, as portas abrem-se todas de uma vez, e lá vão eles, os que ainda há momentos partilhavam da mesma carruagem que eu, iludidos que as escolhas que farão hoje são de alguma maneira, verdadeiramente, controladas por eles.