À medida que o comboio avança a fim de que chegue ao seu destino, reparo nos que me
rodeiam. Velhos e jovens, homens e mulheres, que se encontram na mesma situação que
eu: ambos ambicionamos chegar a um destino.
Olho com mais atenção. Cada um de nós, ser individual, não me parece possuir, porém, uma identidade única. Parece-me que todos pensamos, de certa forma, da mesma maneira e para o mesmo fim. Ambos entrámos num comboio que nos leva a um destino, em que o principal objectivo será cumprir as tarefas que de certa forma nos comprometemos a fazer, para que no fim possamos ser recompensados por isso. Quando cumprido o acordo, é hora de embarcar outra vez no comboio que nos trará de volta, para que chegando a casa, realizemos as tarefas que nos são socialmente impostas, que de certa forma "devemos" aos que nos rodeiam.
O que me pergunto é se temos consciência de que o que nos é apresentado como possibilidades de escolha se resume logo de início a uma seleção de ideais construídas para que possam transmitir a ilusão de escolha, quando na verdade se resume tudo à mesma coisa. Marx afirma muito claramente: “Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflecte sempre a coerção económica, revela-se em todos os sectores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa. [...] As mais íntimas relações das pessoas estão tão completamente reificadas para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstração: personality significa para elas pouco mais do que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar livres do suor das axilas e das emoções.”
Vestimo-nos de maneira a que nos sintamos únicos, discutimos assuntos e tomamos lados a fim de nos diversificarmos dos que conversam ao nosso lado no café, trabalhamos para nos destacarmos dos 100 que partilham a mesma sala de aula que nós... O nosso eu procura diferenciar-se ao mesmo tempo que se apercebe dessa impossibilidade, o que resulta num ciclo infinito e que não poderá ter outro fim se não uma eterna frustração.
Pergunto-me se escolhemos este destino, ao mesmo tempo que constato que de certa forma, nenhum outro existia. Somos iludidos de que temos uma quantidade de escolhas à nossa frente, quando na verdade nenhuma outra escolha é válida. O meu dia decorre com a mesma finalidade do dia do senhor que vive na casa ao lado da minha, da senhora que passeia o cão de manhã ou do que serve cafés aos que passam apressados. Estamos perante um ciclo que não deixa de me surpreender à medida que nele reflito. Parece-me que é, inconscientemente, esta a razão pela qual as pessoas procuram criar uma identidade única no seu dia a dia. Ao se aperceberem que estão perante inúmeros indivíduos que em nada diferem deles, procuram de certa forma afirmar um carácter que os possa distinguir, e que os convença de que não são iguais.
Nisto o comboio para bruscamente, as portas abrem-se todas de uma vez, e lá vão eles, os que ainda há momentos partilhavam da mesma carruagem que eu, iludidos que as escolhas que farão hoje são de alguma maneira, verdadeiramente, controladas por eles.
Olho com mais atenção. Cada um de nós, ser individual, não me parece possuir, porém, uma identidade única. Parece-me que todos pensamos, de certa forma, da mesma maneira e para o mesmo fim. Ambos entrámos num comboio que nos leva a um destino, em que o principal objectivo será cumprir as tarefas que de certa forma nos comprometemos a fazer, para que no fim possamos ser recompensados por isso. Quando cumprido o acordo, é hora de embarcar outra vez no comboio que nos trará de volta, para que chegando a casa, realizemos as tarefas que nos são socialmente impostas, que de certa forma "devemos" aos que nos rodeiam.
O que me pergunto é se temos consciência de que o que nos é apresentado como possibilidades de escolha se resume logo de início a uma seleção de ideais construídas para que possam transmitir a ilusão de escolha, quando na verdade se resume tudo à mesma coisa. Marx afirma muito claramente: “Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflecte sempre a coerção económica, revela-se em todos os sectores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa. [...] As mais íntimas relações das pessoas estão tão completamente reificadas para elas próprias que a ideia de algo peculiar a elas só perdura na mais extrema abstração: personality significa para elas pouco mais do que possuir dentes deslumbrantemente brancos e estar livres do suor das axilas e das emoções.”
Vestimo-nos de maneira a que nos sintamos únicos, discutimos assuntos e tomamos lados a fim de nos diversificarmos dos que conversam ao nosso lado no café, trabalhamos para nos destacarmos dos 100 que partilham a mesma sala de aula que nós... O nosso eu procura diferenciar-se ao mesmo tempo que se apercebe dessa impossibilidade, o que resulta num ciclo infinito e que não poderá ter outro fim se não uma eterna frustração.
Pergunto-me se escolhemos este destino, ao mesmo tempo que constato que de certa forma, nenhum outro existia. Somos iludidos de que temos uma quantidade de escolhas à nossa frente, quando na verdade nenhuma outra escolha é válida. O meu dia decorre com a mesma finalidade do dia do senhor que vive na casa ao lado da minha, da senhora que passeia o cão de manhã ou do que serve cafés aos que passam apressados. Estamos perante um ciclo que não deixa de me surpreender à medida que nele reflito. Parece-me que é, inconscientemente, esta a razão pela qual as pessoas procuram criar uma identidade única no seu dia a dia. Ao se aperceberem que estão perante inúmeros indivíduos que em nada diferem deles, procuram de certa forma afirmar um carácter que os possa distinguir, e que os convença de que não são iguais.
Nisto o comboio para bruscamente, as portas abrem-se todas de uma vez, e lá vão eles, os que ainda há momentos partilhavam da mesma carruagem que eu, iludidos que as escolhas que farão hoje são de alguma maneira, verdadeiramente, controladas por eles.