“Overnight two activists have been arrested in the Arctic. They were attempting to occupy a Gazprom oil platform in the Arctic to stop the Russian oil giant becoming the first company to produce oil from the icy waters of the region.”
Assim inicia
a notificação acerca do que seria o mais recente grande episódio da Greenpeace. Dispensando apresentações,
a organização sem fins lucrativos Greenpeace sempre se destacou e atingiu os
seus objectivos através de intervenções perseverantes e arriscadas. A mais
recente dessas intervenções deu-se no passado mês de Setembro, mas que ainda neste
momento decorrem as respectivas consequências.
Uma das mais
poderosas petrolíferas (e também um dos mais velhos inimigos da Greenpeace), a
Shell, aliou-se a Gazprom e juntas pretendem extrair o petróleo existente no
frágil ambiente que é o Árctico. Sendo a Greenpeace uma organização que defende
persistentemente as ideologias sobre as quais se fundou (mudar atitudes e
comportamentos, para proteger e conservar o ambiente e promover a paz), tomou
imediatamente medidas e enviou o navio “Arctic Sunrise” com 28 activistas e 2
fotógrafos freelancers para o local onde a Gazprom se fixou. No caminho à
localização, o Arctic Sunrise foi invadido pela Guarda Costeira russa, que
recorreu à violência para dominar e prender os activistas e fotógrafos, que se
encontravam num protesto pacífico. Foram presos sem nenhuma acusação,
paralelamente a investigações de “potencial pirataria” da parte dos activistas –
uma acusação infundada que até o presidente russo Vladimir Putin rejeitou*. Mais tarde, as
acusações foram mudadas para “vandalismo”.
O Tribunal
Internacional do Direito do Mar interveio e exigiu que as autoridades russas
libertassem os chamados “30 do Árctico”, que se viram obrigadas a ceder, e no
passado dia 22 de Novembro libertaram os activistas e os fotógrafos temporariamente.
Esta é a situação actual.
Posto isto, existem
várias questões que merecem atenção; começando pela imagem enganosa que a Shell,
e tantas outras companhias petrolíferas tentam divulgar delas próprias. Existe
todo um departamento que a Shell dedicou ao desenvolvimento sustentável, que
supostamente defende que “ajuda a preencher a necessidade crescente de energia do
planeta de maneiras economicamente, ambientalmente e socialmente responsáveis.”
Depois deste episódio, só podemos comprovar ainda mais a divergência entre a
imagem que este tipo de companhia passa, e o que realmente acontece por trás de
falsas ideologias de sustentabilidade e slogans
ocos, uma vez que a Gazprom juntamente com a Shell decidiram ignorar a
fragilidade em que o Árctico se encontra actualmente, extraindo petróleo dessa
área.
Outras observações
a retirar desta situação incluem a maneira como este grupo de pessoas foi
tratado pelas autoridades russas, recorrendo a meios violentos de detenção (mesmo
tratando-se de um protesto pacífico) acusando à pressão os activistas de
pirataria e abusando do seu poder; e de como apesar de se falar bastante de
ambientalismo nos dias que correm, poucas pessoas se sujeitam a situações mais
extremas com o objectivo de tentar melhorar, por pouco que seja, o planeta em
que vivemos, e que muitas vezes não vêem o devido mérito atribuído.
*A 25 de
Setembro, o Presidente Russo Vladimir Putin declarou no seu discurso durante o
3º Forum Internacional do Árctico, em Salekhard, que “é absolutamente evidente
que eles [os activistas] não são, obviamente, piratas”.