sábado, 23 de novembro de 2013

30 do Árctico



“Overnight two activists have been arrested in the Arctic. They were attempting to occupy a Gazprom oil platform in the Arctic to stop the Russian oil giant becoming the first company to produce oil from the icy waters of the region.”

Assim inicia a notificação acerca do que seria o mais recente grande episódio da Greenpeace. Dispensando apresentações, a organização sem fins lucrativos Greenpeace sempre se destacou e atingiu os seus objectivos através de intervenções perseverantes e arriscadas. A mais recente dessas intervenções deu-se no passado mês de Setembro, mas que ainda neste momento decorrem as respectivas consequências.

Uma das mais poderosas petrolíferas (e também um dos mais velhos inimigos da Greenpeace), a Shell, aliou-se a Gazprom e juntas pretendem extrair o petróleo existente no frágil ambiente que é o Árctico. Sendo a Greenpeace uma organização que defende persistentemente as ideologias sobre as quais se fundou (mudar atitudes e comportamentos, para proteger e conservar o ambiente e promover a paz), tomou imediatamente medidas e enviou o navio “Arctic Sunrise” com 28 activistas e 2 fotógrafos freelancers para o local onde a Gazprom se fixou. No caminho à localização, o Arctic Sunrise foi invadido pela Guarda Costeira russa, que recorreu à violência para dominar e prender os activistas e fotógrafos, que se encontravam num protesto pacífico. Foram presos sem nenhuma acusação, paralelamente a investigações de “potencial pirataria” da parte dos activistas – uma acusação infundada que até o presidente russo Vladimir Putin rejeitou*. Mais tarde, as acusações foram mudadas para “vandalismo”.
O Tribunal Internacional do Direito do Mar interveio e exigiu que as autoridades russas libertassem os chamados “30 do Árctico”, que se viram obrigadas a ceder, e no passado dia 22 de Novembro libertaram os activistas e os fotógrafos temporariamente. Esta é a situação actual.

Posto isto, existem várias questões que merecem atenção; começando pela imagem enganosa que a Shell, e tantas outras companhias petrolíferas tentam divulgar delas próprias. Existe todo um departamento que a Shell dedicou ao desenvolvimento sustentável, que supostamente defende que “ajuda a preencher a necessidade crescente de energia do planeta de maneiras economicamente, ambientalmente e socialmente responsáveis.” Depois deste episódio, só podemos comprovar ainda mais a divergência entre a imagem que este tipo de companhia passa, e o que realmente acontece por trás de falsas ideologias de sustentabilidade e slogans ocos, uma vez que a Gazprom juntamente com a Shell decidiram ignorar a fragilidade em que o Árctico se encontra actualmente, extraindo petróleo dessa área.
Outras observações a retirar desta situação incluem a maneira como este grupo de pessoas foi tratado pelas autoridades russas, recorrendo a meios violentos de detenção (mesmo tratando-se de um protesto pacífico) acusando à pressão os activistas de pirataria e abusando do seu poder; e de como apesar de se falar bastante de ambientalismo nos dias que correm, poucas pessoas se sujeitam a situações mais extremas com o objectivo de tentar melhorar, por pouco que seja, o planeta em que vivemos, e que muitas vezes não vêem o devido mérito atribuído.


*A 25 de Setembro, o Presidente Russo Vladimir Putin declarou no seu discurso durante o 3º Forum Internacional do Árctico, em Salekhard, que “é absolutamente evidente que eles [os activistas] não são, obviamente, piratas”.