domingo, 24 de novembro de 2013



 A educação e o trabalho alienado



Desde muito novas, as crianças são expostas a uma sociedade dominada pelo consumismo e pelo dinheiro. Aprendem que com ele podem ter acesso a um universo ilimitado de bens materiais, que por sua vez podem proporcionar popularidade, reconhecimento ou diversão. É muito fácil de verificar que hoje em dia, até nas escolas primárias, a criança com o brinquedo ou o videojogo mais recente, ou seja, o mais caro, é geralmente a mais popular.
Na sociedade de hoje em dia, as crianças são postas na escola muito cedo, para que possam adquirir conhecimentos que lhes possam vir a ser úteis no futuro, assim como para aprender tudo aquilo de que necessitam para se tornarem melhores cidadãos. Mas na verdade, se pensarmos bem neste assunto, verificamos que acima de tudo, as crianças são educadas, podemos até dizer formatadas, para que mais tarde possam vir a integrar-se com sucesso no mercado de trabalho.
Como cidadãos, passamos cerca de um quarto das nossas vidas na escola, horas infindáveis em transportes, e o resto da nossa vida a trabalhar (para quem tem a sorte de arranjar um emprego). E para quê? Porque fazer aquilo para o qual fomos programados durante toda a nossa vida nos trás felicidade? No final de contas a resposta é simples, nós estamos aqui para trabalhar e consequentemente produzir e ganhar dinheiro. É a isto que se resumem as nossas vidas, e por mais bem-sucedida e gratificante que seja uma carreira profissional, esta trata-se do resultado dos valores da sociedade em que estamos inseridos. Tal como Karl Marx referiu no seu texto denominado “O Trabalho Alienado”:

O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, e quanto mais o trabalhador se esgota a si mesmo, tanto mais poderoso se torna o mundo dos objectos, que ele cria perante si, tanto mais pobre fica ele na sua vida interior, tanto menos pertence a si próprio. (Marx, K. (1993) Manuscritos Económico-Filosóficos, Lisboa: Ed.70).

Ao fim ao cabo, a nossa vida gira, invariavelmente, à volta do dinheiro e de convenções sociais. Tudo à nossa volta, incluindo a nossa educação, nos condiciona para sermos meras marionetas do sistema, que fazem aquilo que lhes é dito sem contestarem seja o que for. Para onde quer nos viremos, somos bombardeados com anúncios, com programas televisivos, slogans, cartazes e músicas que apelam ao consumismo e à superficialidade, e que mantêm os cidadãos sob controlo, moldando-lhes os valores morais, os interesses e os gostos.
Por vezes imagino como será estar na fase final da nossa vida, olhar para trás no tempo e fazer a seguinte pergunta: O que fiz eu durante a minha vida que tenha tido como único propósito fazer-me verdadeiramente feliz? Calculo que muitos ficariam decepcionados com a resposta.