Saussure descreveu o signo linguístico como o “laço que une
um nome a uma coisa”. Por signo linguístico tomemos o elemento em que se baseia a nossa linguagem, na associação de nomes e ideias. Quando comunicamos com outra pessoa através de
palavras, estas estão associadas ao seu significado no nosso cérebro de forma
psíquica, mas são transmitidas pela articulação de sons. Aliás, quando pensamos
numa coisa qualquer, não a interpretamos de forma visual, quer pela sua
aparência quer pelas letras que compõem a palavra que a descreve, mas sim pelo
conjunto de sons que emitimos quando a pronunciamos, a marca que a língua
deixou nos nossos sentidos. A este fenómeno Saussure deu o nome de “imagem
acústica”, afirmando que esta é uma das duas faces do signo linguístico,
completado pelo conceito que a palavra representa. Ou seja, podemos considerar
a “imagem acústica” como significante e o conceito como significado do signo.
A nossa tendência para denominar as coisas, para
catalogarmos o que vemos, nasceu da necessidade da existência de um meio de
comunicação eficaz entre nós, quase como um instinto de sobrevivência. No
entanto, a utilização exaustiva da linguagem tornou-a tão intrínseca na nossa
mente que, de forma inconsciente, a utilizamos constantemente, mesmo sem
existir uma verdadeira necessidade.
Entra aqui a questão do sonho. Habitualmente lembramo-nos
dos nossos sonhos como um conjunto de imagens que pode ou não ter uma sequência
lógica. Não nos apercebemos é que estes sonhos contêm, na sua maioria, sons,
palavras e até conversas inteiras. Uma prova disso é o facto de as pessoas multilingues
sonharem frequentemente em línguas diferentes, ou até misturarem vários dialetos
num só sonho. Mas porquê que um sonho precisa de palavras, de um idioma? Tal
como os pensamentos, que não necessitam de qualquer consistência para
existirem, mas surgem-nos na forma de palavras, os sonhos servem-se da nossa
linguagem para exprimirem o seu significado. Aliás, um sonho seria igualmente
eficaz se fosse constituído apenas por ideias imateriais, pensamentos puros.
Mas o nosso cérebro funciona por associações. Na minha opinião, é uma espécie
de mecanismo de defesa, que serve como auxiliar de memória. Tal como utilizamos
esquemas e diagramas para nos ajudar a decorar a matéria de uma disciplina, de
forma a fazer uma associação visual ao seu conteúdo, o nosso cérebro utiliza
imagens e sons para os associar às ideias. De outra forma, nunca haveríamos de
nos lembrar do que sonhámos.