quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A linguagem do sonho



Saussure descreveu o signo linguístico como o “laço que une um nome a uma coisa”. Por signo linguístico tomemos o elemento em que se baseia a nossa linguagem, na associação de nomes e ideias. Quando comunicamos com outra pessoa através de palavras, estas estão associadas ao seu significado no nosso cérebro de forma psíquica, mas são transmitidas pela articulação de sons. Aliás, quando pensamos numa coisa qualquer, não a interpretamos de forma visual, quer pela sua aparência quer pelas letras que compõem a palavra que a descreve, mas sim pelo conjunto de sons que emitimos quando a pronunciamos, a marca que a língua deixou nos nossos sentidos. A este fenómeno Saussure deu o nome de “imagem acústica”, afirmando que esta é uma das duas faces do signo linguístico, completado pelo conceito que a palavra representa. Ou seja, podemos considerar a “imagem acústica” como significante e o conceito como significado do signo.

A nossa tendência para denominar as coisas, para catalogarmos o que vemos, nasceu da necessidade da existência de um meio de comunicação eficaz entre nós, quase como um instinto de sobrevivência. No entanto, a utilização exaustiva da linguagem tornou-a tão intrínseca na nossa mente que, de forma inconsciente, a utilizamos constantemente, mesmo sem existir uma verdadeira necessidade.

Entra aqui a questão do sonho. Habitualmente lembramo-nos dos nossos sonhos como um conjunto de imagens que pode ou não ter uma sequência lógica. Não nos apercebemos é que estes sonhos contêm, na sua maioria, sons, palavras e até conversas inteiras. Uma prova disso é o facto de as pessoas multilingues sonharem frequentemente em línguas diferentes, ou até misturarem vários dialetos num só sonho. Mas porquê que um sonho precisa de palavras, de um idioma? Tal como os pensamentos, que não necessitam de qualquer consistência para existirem, mas surgem-nos na forma de palavras, os sonhos servem-se da nossa linguagem para exprimirem o seu significado. Aliás, um sonho seria igualmente eficaz se fosse constituído apenas por ideias imateriais, pensamentos puros. Mas o nosso cérebro funciona por associações. Na minha opinião, é uma espécie de mecanismo de defesa, que serve como auxiliar de memória. Tal como utilizamos esquemas e diagramas para nos ajudar a decorar a matéria de uma disciplina, de forma a fazer uma associação visual ao seu conteúdo, o nosso cérebro utiliza imagens e sons para os associar às ideias. De outra forma, nunca haveríamos de nos lembrar do que sonhámos.