sábado, 16 de novembro de 2013

Os papers e a cultura industrial.

Os papers e trabalhos do foro científico em geral alertam-nos (público próprio a quem são dirigidos) para os problemas emergentes tanto a nível social e cultural, como do meio ambiente. Sendo estes tanto problemas globais como regionais.
Outra característica destes trabalhos é criticar o estado da "realidade", em particular da cultura, mas eles próprios contribuem para o estado da cultura actualmente. Antes de mais, tal como refere David Hesmondhalgh no seu livro "Cultural Industries", não é possível falar-se em degradação cultural sem uma análise estatística da qualidade estática a longo prazo. No entanto, parece ser "senso comum", dentro do circulo mais "informado", de que a qualidade cultural tem vindo a decair.
Se esse for o caso, podemos questionar-nos porque não tentam os autores, que tanto se preocupam com estas questões, chegar a um público mais amplo?
De acordo com Fiske na sua “Introdução ao Estudo da Comunicação” de certa forma tudo no nosso quotidiano é uma forma de comunicação e a maioria da população (incluindo minorias) cai dentro do pensamento hegemónico de uma minoria dominante de estatuto social mais elevado. Assim podemos também nós pensar os papers uma vez que se dirigem a um público específico, em vez de tentar abranger o máximo da população por forma a levar a que a engrenagem social comece a funcionar e haja realmente uma mudança no estado das coisas. Estes trabalhos podem ter uma ou mais falhas como, linguagem extremamente crítica em relação ao público geral, difícil acessibilidade, leitura difícil a quem não é da área e/ou não apresentação de possíveis soluções aos problemas que apresentam e afastam assim uma grande parte dos leitores que lendo e compreendendo o intento do autor poderiam realmente marcar a diferença.
Pelos  motivos acima referidos não admira que as revistas e jornais “cor-de-rosa”, a pop science, a literatura, filmes e series de estrutura de “contos de fadas” sejam os mais consumidos e repetidos (se uma solução vende, então vai ser repetida até o rendimento monetário começar a decair) pela massa da cultura industrial. E porque não o seriam, se estes em vez de afastarem os leitores, realmente procuram responder ao que mais os inquieta (como a necessidade natural humana de catalogar o mundo e de se definir a si próprio num mundo social cada vez mais alienado).
Os autores dos papers e trabalhos de foro mais objectivo, não podem então queixar-se e criticar o estado da cultura industrial, pois eles próprios são parte do problema. Não é com vinagre que se apanham moscas e certamente não é na elitização destes trabalhos tão importantes que alguma mudança pode advir. Richard Dawkings é um grande autor que procura atingir um público mais amplo, mas sem dúvida que o perde pelo seu tom extremamente crítico em relação à religião (podia atingir os seus objectivos mais eficazmente se mudasse a sua escrita por forma a apelar, mais do que afastar; mesmo que a sua realidade lhe dê razão para ter anticorpos em relação às religiões e seus membros).
Enquanto os estudiosos se recusarem a chegar às massas, o estado da cultura industrial continuará. Mesmo que não haja razão para acreditar algo mudará.

Ao menos fez-se alguma coisa.