Os papers
e trabalhos do foro científico em geral alertam-nos (público próprio a quem
são dirigidos) para os problemas emergentes tanto a nível social e cultural,
como do meio ambiente. Sendo estes tanto problemas globais como regionais.
Outra característica destes trabalhos é criticar o estado da "realidade", em particular da cultura, mas eles próprios contribuem para o estado da cultura actualmente. Antes de mais, tal como refere David Hesmondhalgh no seu livro "Cultural Industries", não é possível falar-se em degradação cultural sem uma análise estatística da qualidade estática a longo prazo. No entanto, parece ser "senso comum", dentro do circulo mais "informado", de que a qualidade cultural tem vindo a decair.
Se esse for o caso, podemos questionar-nos
porque não tentam os autores, que tanto se preocupam com estas questões, chegar
a um público mais amplo?
De acordo com Fiske na sua “Introdução ao
Estudo da Comunicação” de certa forma tudo no nosso quotidiano é uma forma de comunicação
e a maioria da população (incluindo minorias) cai dentro do pensamento
hegemónico de uma minoria dominante de estatuto social mais elevado. Assim
podemos também nós pensar os papers uma
vez que se dirigem a um público específico, em vez de tentar abranger o máximo
da população por forma a levar a que a engrenagem social comece a funcionar e
haja realmente uma mudança no estado das coisas. Estes trabalhos podem ter uma
ou mais falhas como, linguagem extremamente crítica em relação ao público
geral, difícil acessibilidade, leitura difícil a quem não é da área e/ou não
apresentação de possíveis soluções aos problemas que apresentam e afastam assim
uma grande parte dos leitores que lendo e compreendendo o intento do autor
poderiam realmente marcar a diferença.
Pelos motivos acima referidos não admira que as
revistas e jornais “cor-de-rosa”, a pop
science, a literatura, filmes e series de estrutura de “contos de fadas” sejam
os mais consumidos e repetidos (se uma solução vende, então vai ser repetida
até o rendimento monetário começar a decair) pela massa da cultura industrial. E
porque não o seriam, se estes em vez de afastarem os leitores, realmente
procuram responder ao que mais os inquieta (como a necessidade natural humana
de catalogar o mundo e de se definir a si próprio num mundo social cada vez
mais alienado).
Os autores dos papers e trabalhos de foro mais objectivo, não podem então
queixar-se e criticar o estado da cultura industrial, pois eles próprios são
parte do problema. Não é com vinagre que se apanham moscas e certamente não é
na elitização destes trabalhos tão importantes que alguma mudança pode advir.
Richard Dawkings é um grande autor que procura atingir um público mais amplo,
mas sem dúvida que o perde pelo seu tom extremamente crítico em relação à
religião (podia atingir os seus objectivos mais eficazmente se mudasse a sua
escrita por forma a apelar, mais do que afastar; mesmo que a sua realidade lhe
dê razão para ter anticorpos em relação às religiões e seus membros).
Enquanto os estudiosos se recusarem a chegar
às massas, o estado da cultura industrial continuará. Mesmo que não haja razão
para acreditar algo mudará.
Ao menos fez-se alguma coisa.