segunda-feira, 25 de novembro de 2013

The Dreamers (2003)


      A narrativa deste filme acontece em Maio de 1968 em Paris, palco de inúmeras revoluções e manifestações que apelavam a uma renovação dos valores culturais conservadores, que explode em Maio de 68 com uma greve geral na França que mobiliza aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses. Considerada por alguns pensadores e filósofos, como uma das mais importantes revoluções do século XX, ela viria abanar a sociedade francesa com novos valores de cultura, educação, sexualidade e prazer.

    Os Sonhadores (The Dreamers) são um espelho disso mesmo, jovens que vivem em conflito com o Mundo e si próprios, desprendidos dos valores morais conservadores e que assistem à revolução a que tanto apelam pela janela do apartamento onde vivem, se conhecem e apaixonam. Um filme que surge entre a realidade de uma época, e consequentemente um reflexo da mesma, e uma narrativa controversamente apaixonante baseada no livro de Gilbert Adair, “Os Sonhadores”.

   Bernardo Bertolucci trás até nós três personagens Matthew (Michael Pitt) um jovem norte-americano que se encontra em Paris para aprender Francês, Theo (Louis Garrel) e Isabelle (Eva Green) o irmão gémeos, que conhecem Matthew e que partilham entre si uma paixão enorme pelo Cinema Clássico. Assim este filme tão polémico quanto genial, encontra-se numa dictomia sobre o amor ingénuo mas genuíno carregado de sensualidade e sexualidade, a inversão de valores morais, falando do incesto como algo quase afável e mais poético do que carnal, uma intensa cinefilia nas inúmeras referências que faz a Clássico do Cinema, como se de um poema de amor ao próprio Cinema se tratasse.  

   A história narrada ao som de Joplin, Doors, Dylan, Hendrix, entre outros ícones musicais da época, conta como os três jovens se conhecem e envolvem num romance apaixonante, tórrido e intenso. Tudo começa quando Matthew conhece os irmãos numa das inúmeras manifestações que ocorrem à porta da Cinémathèque Française, depois do despedimento do fundador e director da casa, Henri Langlois. Matthew deixa-se levar pela beleza e sensualidade de Isabelle, e acaba ‘apaixonado’ pelos dois irmãos. Assim começa a amizade entre os três jovens, só finalmente consumada quando os três batem o record dos personagens do filme de Jean-Luc Godard, “Bande à part” (1964). Matthew, Theo e Isabelle passam as tardes a discutir Cinema, cultura, política e comportamento. Constantemente criam desafios envolvem filmes do Cinema Clássico, e é também nestes jogos que a sexualidade e a relação a três evoluí. No entanto este filme pretende mais que chocar pela libertinagem poética com que aborda o sexo e nudez mas sim o ‘amor’ torna-se aqui só mais um elemento da história e não o aspecto dominante da mesma. Os Sonhadores fala de revolução e fala também da crise das personagens perante o Mundo em mudança a que assistem. Theo brada contra o sistema, mas é incapaz de acompanhar as manifestações que acontecem à sua janela. Já Matthew desafia os irmãos a crescerem e a lutarem, mas ele mesmo prefere o discurso pacifista ao confronto de verdade. Isabelle, é ao mesmo tempo sensual e erótica, romântica e misteriosa, mas acima de tudo extremamente envolvente. Para isso Bertolucci usa não só a banda sonora, que nunca soo tão honesta num outro filme quanto neste, como faz uso da sua mestria enquanto realizador, de uma fotografia apaixonante brincando com a luz para criar as sensações dos ambiente, uma edição perspicaz e as já referidas referências Cinematográficas.

Os Sonhadores não é um filme de intensa reflexão, é directo e claro. Tão visualmente explicito que não nos dá espaço para isso. Mas o filme apela acima de tudo ao Cinema, ele próprio, como arma de transformação.