Vou falar sobre uma questão que ainda hoje é algo de
certa forma tabu. Algo tão comum e impregnado na nossa sociedade desde tempos
pré-históricos, mas que no entanto na nossa sociedade contemporânea é algo que
contém regras sociais muito rígidas.
Falo pois do uso de maquiagem, mas não apenas o seu
papel e o que representa, mas como é algo que ao longo dos tempos foi mudando
de significado e de praticalidade. No entanto nos dias de hoje é algo comum
categorizá-la como algo pertencente à esfera feminina. Mas nem sempre foi
assim, e mesmo com padrões sociais muito definidos e sem grande margem de
escape, podemos ver que o seu papel nem sempre é tão feminino, sendo pois
utilizada pela comunidade masculina, não num âmbito tão geral como com o seu
sexo oposto, mas em determinadas categorias. E porque? Por quem? Em que
circuito?
Tentarei abordar esta temática, dando a conhecer um
pouco sobre o história da própria maquiagem, e tentando dar a saber alguns
exemplos.
Nos tempos mais antigos a maquiagem tinha vários papéis,
pelo que podemos supor, tais como pura ornamentação, distinção de clãs, povos,
aldeias; uso “mágico” usada pelos xamãs, para distanciar alguém e assim dar-lhe
um maior grau de poder social, tentar atrair o sexo oposto destacando algumas
partes da fisionomia humana, religião, enfim um sem fim de motivos. Com o
passar dos séculos o seu papel foi adquirindo diferentes nuances e padrões mais
pré-estabelecidos.
Hoje em dia quando pensamos em maquiagem, pensamos
quase que instintivamente em mulheres, que a usam com o intuito primário de se
tornarem mais atrativas, embora haja outras razões, tais como: conseguir
sentir-se integrada num determinado ambiente social, escolar, trabalho, lazer;
para de certa forma sentir-se “melhor consigo própria”, ou seja com a
utilização da maquiagem, pensa conseguir corrigir certas “falhas” ou melhorar
algumas áreas onde acha que necessita ou quer melhorar. Se formos a pensar bem,
e falo mais no que eu própria experienciei, na minha geração dos anos 90 até
agora, foi algo que progressivamente teve mais ênfase e importância nas vidas
das adolescentes e jovens adultas. E porque?
Talvez o
maior impulsionador deste “fenómeno” seja a indústria multimilionária que é a
“media”. Esta entidade tão presente nas nossas vidas desde a nossa juventude,
tem vindo a criar cada vez mais uma ideia altamente padronizada e impossível de
atingir, de como é que as mulheres devem ser, ter um determinado aspeto, usar
determinados objetos, roupas, sapatos etc. E a maquiagem faz parte dessa imagem
de suposta perfeição feminina, onde queremos uma pele perfeita, lábios
voluptuosos, nariz alongado, pestanas com um quilómetro de comprimento, entre
uma infinidade de outros aspetos. No entanto nem todas as mulheres sentem tanto
esta espécie de pressão social de assimilação, havendo muitas que simplesmente
ignoram ou menorizam a sua importância, ou não lhe dando qualquer importância,
havendo outras em que a maquiagem são uma espécie de bens preciosos e todos os
dias têm que passar por aquele “ritual sagrado” ou então sentem-se quase “nuas”
ou demasiado expostas, como se a sua própria naturalidade fosse chocar as
outras pessoas, ou o próprio espelho as olha-se com olhos de poucos amigos.
Passando agora para o outro lado da esfera,
encontramos a comunidade masculina. Uns gostam, outros preferiam arder na
estaca a ter qualquer tipo de maquiagem tocando uma célula que fosse do seu
ser. Pois assim manchariam a sua imagem de “macho”, e isso não é algo que
ponham sequer em questão. É uma ideia tão inerente ao seu próprio eu, o ter que
passar a ideia que é puramente macho, forte, poderoso, garanhão, sempre pronto
a se reproduzir. Embora nem todos pensem nem ajam desta forma. Há sempre
exceções, a maquiagem é usada por homens na indústria da moda, tanto numa forma
de expressão artística tanto numa forma de “melhorar”, atenuar ou enfatizar
certos atributos físicos. Havendo outros homens que simplesmente gostam de
maquiagem, ou da ideia que ela passa, e usam-na regularmente, uns mais
discretos outros nem tanto. Mas é quase garantido que ao fazê-lo atraíram
olhares curiosos, ou julgadores na rua. Pois é algo onde não existe uma
tolerância social abrangente, falo de maquiagem, cosméticos, mas poderia também
falar de vestuário, certas peças têm o mesmo diferencial sexual, como saias.
Mas porque esta atitude na grande maioria das pessoas? Com certeza que a forma
como foram educados tem um grande papel nestas atitudes, há pessoas com uma
mentalidade mais “antiquada” onde outras têm uma mais progressiva e aberta às
constantes mudanças do mundo. Gerem-se por certos valores, e quem não os segue
é imediatamente tornado num alvo. Sair da norma, quebrar as regras, fugir à
tradição.
O mais interessante é o facto de se falar tanto em
mudança e aceitação, mas estarmos numa época histórica em que podemos observar
uma das maiores barreiras entre “masculino” e “feminino”, com regras sociais
muito fortes e presentes nas vidas das pessoas, e de uma maneira geral um pouco
da mesmo forma por todo o mundo, pois a globalização é algo que já se faz
sentir e muito, mesmo que nos passe de certa forma despercebido pois é algo
cada vez mais comum e o óbvio nem sempre é tão percetível.
Pondo isto podemos ver como Simone de Beauvoir
também fala sobre a temática dos dois sexos.