domingo, 24 de novembro de 2013

Assalto ao Castelo

“A categoria do sujeito é de uma ‘obviedade’ primária” Louis Althusser (1976) “Idéologie et appareils idéologiques d´État”.
Consideramos como óbvio o facto de sermos sujeitos, ou seja, de sermos “nós” próprios. Se nos disserem que nós não somos “nós”, ficaremos indignados, porque isso é algo que tomamos como certo e garantido. Temos consciência da nossa existência enquanto seres separados do mundo e dos outros. O facto de sermos “re-conhecidos” por outrem e vice-versa é consequência desta consciência de que somos sempre sujeito e sempre o mesmo sujeito.
Esta noção de existirmos como seres separados do que nos rodeia recordou-me uma história chamada “Assalto ao castelo”, que narra uma visita de estudo de uma creche a um castelo, com o imaginário de uma assalto ao castelo. Chegado ao local, todas as crianças com um escudo e uma espada de fantasia saltam da camioneta à indicação da educadora e correm em direcção ao castelo. Contudo, uma criança permanece sentada no seu lugar do autocarro a chorar. A educadora pergunta-lhe qual a razão pela qual ele chora, ao que o menino lhe responde, “o meu pai está em Paris”.
A ausência do progenitor significa um abalo na sua sensação de segurança e na certeza de protecção. Apesar da criança não estar vinte e quatro horas por dia com o pai, esta tem a certeza de que este estará com ele no final do dia. Quando isso não ocorre durante dias consecutivos, o menino sente-se inseguro e desprotegido, porque  este encontra-se vinculado ao progenitor, uma vez que ainda existe entre os dois uma ligação forte e dependente. O menino ainda se vê a si próprio como um ser dissociado do seu pai, não lhe permitindo possuir a coragem necessária para enfrentar o desconhecido e “assaltar o castelo”.

Após os três anos, a criança aumenta as suas capacidades cognitivas o que lhe permite apenas suportar o afastamento da figura de vinculação durante um curto período de tempo. Só alguns anos depois, a criança passa a ter consciência dos seus pais como um elemento exterior.