“A categoria do sujeito é de uma ‘obviedade’ primária”
Louis Althusser (1976) “Idéologie et appareils idéologiques d´État”.
Consideramos como óbvio o facto de sermos sujeitos, ou
seja, de sermos “nós” próprios. Se nos disserem que nós não somos “nós”, ficaremos
indignados, porque isso é algo que tomamos como certo e garantido. Temos
consciência da nossa existência enquanto seres separados do mundo e dos outros.
O facto de sermos “re-conhecidos” por outrem e vice-versa é consequência desta
consciência de que somos sempre sujeito e sempre o mesmo sujeito.
Esta noção de existirmos como seres separados do que
nos rodeia recordou-me uma história chamada “Assalto ao castelo”, que narra uma
visita de estudo de uma creche a um castelo, com o imaginário de uma assalto ao
castelo. Chegado ao local, todas as crianças com um escudo e uma espada de
fantasia saltam da camioneta à indicação da educadora e correm em direcção ao
castelo. Contudo, uma criança permanece sentada no seu lugar do autocarro a
chorar. A educadora pergunta-lhe qual a razão pela qual ele chora, ao que o
menino lhe responde, “o meu pai está em Paris”.
A ausência do progenitor significa um abalo na sua
sensação de segurança e na certeza de protecção. Apesar da criança não estar
vinte e quatro horas por dia com o pai, esta tem a certeza de que este estará
com ele no final do dia. Quando isso não ocorre durante dias consecutivos, o
menino sente-se inseguro e desprotegido, porque este encontra-se vinculado ao progenitor, uma vez que ainda existe entre os dois uma
ligação forte e dependente. O menino ainda se vê a si próprio como um ser
dissociado do seu pai, não lhe permitindo possuir a coragem necessária para
enfrentar o desconhecido e “assaltar o castelo”.
Após os três anos, a criança aumenta as suas capacidades
cognitivas o que lhe permite apenas suportar o afastamento da figura de
vinculação durante um curto período de tempo. Só alguns anos depois, a criança
passa a ter consciência dos seus pais como um elemento exterior.