domingo, 24 de novembro de 2013

O Simples

Ao que parece, as marcas de hoje em dia estão a trabalhar em produtos cada vez mais simples, lisos, insípidos. A que se deve esta tão notória mudança de rumo?Em “O novo Citroën”, da obra “Mitologias” de Roland Barthes, podemos ver uma reflexão sobre este tema, utilizando como produto de referência o novo Citroën, como o próprio nome indica. Barthes dá conta do novo fascínio pelos objectos “clean”, onde os elementos soldados substituem os justapostos, e compara este automóvel às grandes catedrais góticas, criações que fizeram época.
De facto, se pensarmos nestes dois grupos tão distintos de objectos damos conta de que se deu uma grande mudança entre um e o outro. A humanidade vê agora a simplicidade como um sinónimo de perfeição, enquanto que antigamente quanto mais ornamentado fosse o objecto mais valor tinha. Será pela funcionalidade? Será que foram abandonados todos os elementos que não acrescentassem nenhuma utilidade ao produto?
Este fenómeno não é só visível a nível dos automóveis, em qualquer produto se dá conta da mudança, até a nível da arquitectura. E a simplicidade também se reflecte no preço, de forma irónica. Aquilo que na mentalidade de antigamente seria barato e dirigido aos menos afortunados, por não ter qualquer tipo de ornamentos e consistir apenas em algo que cumpre uma determinada função, é agora dirigido a uma elite. A marca Apple é um exemplo disto: apesar de outros telemóveis desempenharem as mesmas funções, os iphones têm preços muito mais elevados e há sempre consumidores interessados.
Em suma, é um verdadeiro enigma esta mudança de mentalidades. Mas Barthes ainda faz uma relação entre este fenómeno e a túnica de Jesus Cristo para o tentar explicar: esta não tinha costuras, era lisa, símbolo de perfeição.