Jane Austen, Simone
de Beauvoir, Coco Chanel, Maya Angelou, Hillary Clinton, Oprah Winfrey, Ashley
Judd, Malala Yousafzai... e poderia continuar a enumerar muitos outros nomes,
muitos deles desconhecidos, que juntos definem um crescente movimento de
mulheres que se tornaram mulheres chamado feminismo.
Em 1963, Betty
Friedan criticou a ideia de que as mulheres poderiam encontrar satisfação
apenas através da criação dos filhos e das actividades do lar no seu livro “A
Mística Feminina”.
Seria natural, há
uns tempos, que as mulheres fossem sustentadas, encarregadas de determinadas
tarefas naturais que incluíam a reprodução, a lida da casa, a cozinha e a
educação dos filhos, descartando tudo o resto que lhes havia sido concedido por
Deus. Para além de ventre e seios, as mulheres sempre tiveram cérebro, mas como
seria natural utilizarem somente ventre e seios para benefício da família,
tarefa que lhe havia sido incumbida pelo homem, e porque a força e a
mentalidade da sociedade residia no género masculino, toda a naturalidade do
pensar, do escolher, do decidir não era natural.
Porém, há uma
diferença entre natural e ideológico. Seria natural a mulher respeitar
determinados assuntos sociais, determinadas atitudes, posturas, comportamentos
que definem a sua sexualidade, de preferência submissos às ideias do homem. Mas
as questões de género que se disfarçam do que parece natural são apenas
ideológicas. O que é natural, isso sim, é que as mulheres, “privadas de
lazeres, herdeiras de uma tradição de submissão, comecem a desenvolver um
sentido político e social”, como refere Simone de Beauvoir.
E então a mulher “deixa
de ser um parasita”. “O sistema baseado na sua dependência desmorona;
entre o universo e ela não há mais necessidade de um mediador masculino.” O
que pode traduzir-se na libertação feminina, liberdade que é ainda hoje um
direito questionado em certas culturas.
As reivindicações
femininas dos séculos passado podem ter-se virado ligeiramente contra as suas
próprias reivindicadoras, na medida em que ambicionaram ser capazes de aguentar
tudo, e declarando-se em pé de igualdade com os homens, podem ter-se
sobrecarregado e tornado incapazes de carregar o fardo de todas as árduas
tarefas, inclusive a maternidade. Mas nada é em vão, quando o destino é a
liberdade. Na constante mudança e evolução dos dias de hoje, o tráfico humano,
e de mulheres corrói a sociedade. Ainda há muito a fazer. Mas ainda envoltas
pelo medo e a opressão, hoje, assistimos a discursos de mulheres que parecem
não ter medo, uma delas, Malala.
“Os extremistas
têm medo de livros e de canetas, o poder da educação assusta-os. Eles têm medo
das mulheres."
Recentemente tomei
conhecimento de um projecto online chamado “Everyday Sexism Project” que tem
como objectivo catalogar casos de sexismo vividos pelas mulheres diariamente. A
descrição diz:
“Desde situações
graves, não tão graves, escandalosamente ofensivas ou tão corriqueiras e intrínsecas
na nossa cultura contra as quais nem se sentem capazes de protestar. Usem o
vosso nome, ou um pseudónimo. Ao partilharem a vossa história estão a mostrar
ao mundo que o sexismo existe mesmo, que é vivenciado por mulheres todos os
dias e é um assunto importante e válido a discutir.”
Devo salientar que
algumas histórias relatadas neste website sujeito a verificação são chocantes,
para não mencionar o número de posts de relatos de mulheres que não tentando
vitimizar-se, relatam honestamente o que é, em parte, ser mulher.
Com exemplos destes,
com correntes e manifestações feministas recorrentes e até com uma cultura pop
em grande parte feita de figuras de mulheres independentes que apelam sem
limites ao feminismo, a mulher dos dias de hoje sente-se já apoiada, ainda que
injustiçada.
Um dos muitos
exemplos é o do serviço militar e da questão da diferença de género aqui bem
presente. É frequentemente argumentado – e aceite – que as mulheres são o “sexo
frágil” e que, sendo as principais prestadoras de cuidados na sociedade, são
menos agressivas que os homens. Fossem-lhes dados os direitos apropriados e
completos, não poderiam as mulheres contrabalançar um mundo dominado pelos
homens, caracterizado pela agressão em atitudes, pensamentos, sociedade e, em última
análise, a guerra?
Em 2004, as tropas
de ocupação no Iraque foram notícia em todo o mundo por exercerem tortura e
outros actos grotescos em prisioneiros iraquianos. Mas para espanto e choque
das feministas e de outros, alguns destes actos foram perpetrados por mulheres
nas forças armadas dos EUA.
A activista
feminista Barbara Ehrenreich relata algumas reacções a esta matéria.
“Esperei que a
presença de mulheres no Exército dos EUA mudasse o exército ao longo do tempo,
tornando-se mais respeitoso com as outras pessoas e culturas.”
“Um certo tipo de
feminismo viu os homens como os responsáveis perpétuos, as mulheres como
vítimas perpétuas e violência sexual masculina contra as mulheres como a raiz
de toda injustiça. A violação tem sido repetidamente um instrumento de guerra.
Parecia haver pelo menos alguma evidência de que o sadismo sexual masculino
estava ligado à propensão para a violência trágica da nossa espécie. Isso foi
antes de termos visto o sadismo sexual feminino em acção.”
“A suposição
(dentro do feminismo) da superioridade (das mulheres) sobre os homens, ou pelo
menos de uma menor inclinação para a crueldade e violência, não era assunto
sujeito a debate. Afinal, as mulheres fazem a maioria do actividades de
assistência na nossa cultura, e nas pesquisas são sempre menos inclinadas para
a guerra do que os homens.”
“Precisamos de um
feminismo que ensina a mulher a dizer não, e não apenas ao date-rapist ou ao
namorado excessivamente insistente mas, quando necessário, ao exército ou
hierarquia da empresa dentro da qual ela se encontra.”
E assim, as mulheres
lutam para ter direito de fazer o que os homens fazem, mas se o que os homens
fazem é visto como negativo, então a igualdade de género não é suficiente.
Ehrenreich termina:
“Citando um
velho, e longe de ser ingénuo, ditado feminista: "Se achas que a igualdade
é o objetivo, os teus padrões são muito baixos." Não é o suficiente ser
igual aos homens, quando os homens estão a agir como animais.”
É natural ser-se uma
mulher independente? Ainda não. Não quando esta independência já conquistada
por alguns milhões de mulheres tem à sua volta os outros muitos milhões de
mulheres dependentes de quaisquer factores que as excluam ou denigram, e os
outros muitos milhões de homens que apenas agem “naturalmente”.