quinta-feira, 21 de novembro de 2013

liberdade=limitação?

“(…) the categorical imperative of the culture industry no longer has anything in common with freedom.” (Adorno, Culture Industry Reconsidered)

Quando o mercado de um produto dá conta de indícios de fraqueza, tende para o planeamento de uma segmentação, apostando num produto à medida de cada consumidor.
Esta decisão, ao contrário do que nos pretendem fazer acreditar, não se destina primordialmente à satisfação do consumidor, mas para garantir o crescimento do produto no mercado, uma vez que esta segmentação, para além de categorizar os produtos, divide também os consumidores por tipologias. Estas distinções categóricas relacionam-se em grande medida com a sua utilidade para a classificação, organização e análise estatística dos consumidores, do que propriamente o seu conteúdo. Está tudo previsto, cada consumidor, de acordo com expectativas e “cálculos”, age em conformidade com a sua identidade e escolhe o produto fabricado para a sua tipologia de consumidor.
Esta estratégia com algum carácter manipulador é aplicada sobretudo, se não unicamente, para que possam alcançar um público mais variado e em maior número possível.
Tal como no mercado, esta segmentação também se faz sentir no cinema. Dois realizadores, como Tim Burton e Quentin Tarantino, desenvolvem categorias fílmicas distintas, pelo que podem ser apreciadas de diferentes formas e por diferentes públicos.
Um sujeito aleatório tanto pode torcer o nariz como ter uma reacção de aceitação automática. Mas este sujeito, se sempre optar por assistir a filmes realizados por Tim Burton, ou seja, limitar-se ao que é fiel à sua identidade (se assim o considerar) e, portanto, quase “obedecer” a uma categoria predestinada, nunca vai conhecer Quentin Tarantino, e tantos outros. Fecha-se, em si.
O que pretendo dizer é que esta segmentação pode, ou não, ser beneficial. É, no sentido em que existe uma maior variedade de escolhas, exposta ao consumidor. Por outro lado, o consumidor, ao colocar a sua identidade em primeiro lugar, está a limitar a sua experiência face a tudo o que lhe é proporcionado. Tal como confirma Adorno, o público, embora seja confrontado com grande variedade, cai na ilusão de que lhe é fornecida liberdade.
Esta liberdade leva-nos a caminhar para a nossa área de conforto, mas devemos evitar o que está para além dela?