“(…) the categorical
imperative of the culture industry no longer has anything in common with
freedom.” (Adorno, Culture Industry
Reconsidered)
Quando o mercado de um produto dá conta de indícios de
fraqueza, tende para o planeamento de uma segmentação, apostando num produto à
medida de cada consumidor.
Esta decisão, ao contrário do que nos pretendem fazer
acreditar, não se destina primordialmente à satisfação do consumidor, mas para
garantir o crescimento do produto no mercado, uma vez que esta segmentação,
para além de categorizar os produtos, divide também os consumidores por
tipologias. Estas distinções categóricas relacionam-se em grande medida com a
sua utilidade para a classificação, organização e análise estatística dos
consumidores, do que propriamente o seu conteúdo. Está tudo previsto, cada
consumidor, de acordo com expectativas e “cálculos”, age em conformidade com a
sua identidade e escolhe o produto fabricado para a sua tipologia de
consumidor.
Esta estratégia com algum carácter manipulador é aplicada sobretudo,
se não unicamente, para que possam alcançar um público mais variado e em maior
número possível.
Tal como no mercado, esta segmentação também se faz sentir
no cinema. Dois realizadores, como Tim Burton e Quentin Tarantino, desenvolvem
categorias fílmicas distintas, pelo que podem ser apreciadas de diferentes
formas e por diferentes públicos.
Um sujeito aleatório tanto pode torcer o nariz como ter uma
reacção de aceitação automática. Mas este sujeito, se sempre optar por assistir
a filmes realizados por Tim Burton, ou seja, limitar-se ao que é fiel à sua
identidade (se assim o considerar) e, portanto, quase “obedecer” a uma
categoria predestinada, nunca vai conhecer Quentin Tarantino, e tantos outros.
Fecha-se, em si.
O que pretendo dizer é que esta segmentação pode, ou não,
ser beneficial. É, no sentido em que existe uma maior variedade de escolhas,
exposta ao consumidor. Por outro lado, o consumidor, ao colocar a sua identidade
em primeiro lugar, está a limitar a sua experiência face a tudo o que lhe é
proporcionado. Tal como confirma Adorno, o público, embora seja confrontado com
grande variedade, cai na ilusão de que lhe é fornecida liberdade.
Esta liberdade leva-nos a caminhar para a nossa área
de conforto, mas devemos evitar o que está para além dela?