domingo, 24 de novembro de 2013

A infiltração de simbologia oculta nos produtos da indústria musical é algo que nos parece improvável. Talvez pudéssemos associá-la a estilos musicais que bebem mais desse mundo e cuja imagem remete de facto a esse imaginário. E no entanto, como explicamos o recente empenho por parte da indústria musical mainstream para incluir estes símbolos nos seus produtos, glorificados por artistas idolatrados pelo público? A sua abundante e repetida presença torna esta infiltração num fenómeno real que não deve ser ignorado ou menosprezado. 

São inúmeros os websites, fóruns e blogs que se dedicam à procura, identificação e análise de vários símbolos e temáticas específicas que podem ser actualmente encontradas nos vários objectos produzidos pela cultura pop. Os exemplos são demasiados; basta uma pesquisa rápida para que sejamos confrontados com eles. É importante salientar, porém, que não me interessa falar das teorias de conspiração relativas a este tema que povoam a Internet. Interessa-me sobretudo a introdução destas imagens e conceitos em produtos pop de grande consumo - na sua maioria, vídeos de música - e as suas possíveis consequências.

É difícil identificar o momento a partir do qual símbolos como o triângulo, o olho da providência ("all-seeing eye"), o pentagrama, o esquadro e compasso, o padrão em xadrez - ligados à maçonaria e à sua prática -, a repetição do número seis, a cabeça de Baphomet, o conceito de dualidade e de controlo da mente foram introduzidos de forma tão óbvia neste meio. Mesmo ignorando a conotação que estes símbolos possuem, é interessante verificar que foi através da cultura pop (nomeadamente de cantores e artistas) que os mesmos se propagaram.

Os símbolos são vários e facilmente identificáveis em inúmeros vídeos de música de grande sucesso. No entanto, perante estes símbolos, o indivíduo que não está com eles familiarizado irá ignorar o sentido latente que em si encerram. Esta simbologia oculta torna-se, então, parte do imaginário que relacionamos com determinado artista (ou mesmo com a música pop no geral). Considerando que a pop é maioritariamente consumida por uma camada mais jovem da sociedade - e por isso mais influenciável - tais símbolos, já aparentemente afastados do seu real significado, transformam-se em algo "cool"; numa tendência que os jovens mimetizam nos seus gestos e poses e usam no corpo, sob forma de estampados de temática descaradamente maçónica ou satânica.
     
Para além do estranho conteúdo que a indústria musical nos tem vindo a proporcionar, ainda a ele se alia uma visão submissa e extremamente sexualizada da mulher - que na maioria destes vídeos se torna num objecto passivo destinada a satisfazer fantasias masculinas. A título de exemplo basta olharmos para recentes êxitos pop: o novo single do cantor Justin Bieber utiliza uma expressão que se refere ao abatimento de um animal de modo a insinuar um acto sexual on the roofbalconywe don’t care who sees/girlI’mma put you down/all the way down down down»); um dos maiores êxitos dos últimos meses, "Blurred Lines", tem versos como «tried to domesticate you/but you're an animal/baby, it's in your nature/just let me liberate you» ou «I hate these blurred lines/I know you want it», que remetem demasiado a palavras que um abusador diria à sua vítima para que as ignoremos; já o perturbador vídeo da música "Love me" do rapper Lil Wayne está povoado de mulheres enjauladas em redor dos intérpretes. 

Com tanto que parece errado neste cenário, é difícil continuar a pensar na música pop como algo inócuo. Quais os efeitos da permanente presença destes símbolos e conceitos na indústria pop? Ser-nos-á sugerido que, por detrás daquilo que é mostrado ao público, existe uma realidade não tão apelativa; e quereremos nós apenas ser entretidos e ignorar o que se passa por detrás da cortina?