Hoje em dia as pessoas vivem no seu próprio mundo, com as suas próprias ideias sem tentar interiorizar e perceber o que está à sua volta. Se calhar fazem-no inconscientemente, se calhar como um mecanismo de defesa. Acham-se “senhoras de si” mas tudo o que são não passa de uma reflexão do que as rodeia, o que acaba por ser um bocado contraditório.
Ao olhar à minha volta deparo-me com um ponto comum a todas as pessoas: esta mania de que são detentoras da verdade. Mas afinal o que é que é a verdade? O que é ou não real? O que para mim é real pode ser o oposto do que é real para a pessoa que está ao meu lado.
Marx defendia, ao contrário de Hegel, seu mentor, que não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência. Ou seja, as condições que cada um tem na sua própria vida (em que ano nasceu, onde nasceu, o que os pais lhe transmitiram, etc.) são factores que determinam a consciência de cada um. A minha definição do que é certo ou errado, certamente que não é igual à de um jovem que nasceu no Sudão, num clima de guerra, habituado ao peso de uma arma nas mãos. Com é que consigo descobrir quem está mais certo? Porque tanto a minha visão da realidade como a dele são falsas porque são deturpadas por tudo o que nos rodeia, por tudo o que os outros nos oferecem.
Claro que existem leis, escritas e aceites socialmente, comuns à maioria dos países, crenças e culturas, como por exemplo os Direitos Humanos. Mas apesar de estarmos em concordância sobre este bem-comum, quem nos diz que estas leis são as leis a seguir, as leis que levam à aceitação mundial e respeito mutuo? Porque a minha consciência sobre a vida, o que para mim são necessidades básicas vão ser diferentes das das outras pessoas. O que me leva a questionar a criação destas leis comuns a todos. Note-se que não estou a afirmar que não concordo com elas mas, por um lado, uma das razões principais para a necessidade de criação das mesmas foi o facto de o ser humano não aceitar as diferentes consciências de cada um. Mas ao criarem estas leis estão a afirmar que existe uma consciência mais correcta que todas as outras.
Falo agora de algo mais concreto: o direito que o ser humano tem à vida. Esta lei é das leis aceites por quase todo o mundo, mesmo quem decide o destino de uma vida humana, se tem direito a esta ou não, sabe sempre no seu consciente que não possui esse direito de decisão, mesmo que isso “não se mostre muito”, todos têm a mínima noção que isso está errado, à excepção daqueles que não conseguem responder pelos seus actos.
Maior hipocrisia que esta, aos meus olhos, é a pena de morte. Como é que uma pessoa supostamente consciente e defensora da justiça, consegue julgar outra pelos seus actos, condenando-a do mesmo modo? Repreendem-na por ter por ter tomado a decisão de quem deve ou não morrer, matando-a.
Em suma, a evolução do Homem, da tecnologia, da mentalidade levou ao mesmo tempo a um retrocesso da consciência humana. Chegámos a um ponto em que não é possível existir uma consciência mais correcta e soberana pois estamos todos condicionados ao que nos rodeia. O que nos poderia, talvez, levar à aproximação da realidade e da verdade, do conhecimento, seria a aceitação das múltiplas e variadas consciências.
À medida que reparo “complicação” do que nos rodeia, consciências deturpadas, tanto intencionalmente como involuntariamente, à medida que reparo que cada vez mais nos afastamos da Natureza, noto que a simplicidade é o melhor caminho.