sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A Ideologia Alemã e o consumo na sociedade



"Os pensamentos da classe dominante são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material dominante numa dada sociedade é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios de produção material dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção intelectual está submetido igualmente à classe dominante. Os pensamentos dominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a forma de ideias e, portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante; dizendo de outro modo, são as ideias do seu domínio."(pg. 60)
Para Marx "o modo de produção da vida material determina o caracter geral dos processos da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, ao contrário: o seu ser social determina a sua consciência." 
Na Ideologia Alemã Marx afirma que "são os homens que ao ampliar a sua produção material e as suas relações materiais, modificam, junto com a sua existência real, o seu pensamento e os produtos do seu pensamento."
A ideologia tem um papel político que consiste em impor ao conjunto da sociedade um modo de vida. 
Todos os dias somos bombardeados com publicidade de uma sociedade consumista. A alienação é a principal dimensão do consumismo, está na base da compra desvinculada de necessidade e do desconhecimento em relação ao valor de compra e de uso.  A escolha dos produtos que consumimos diariamente não se baseia apenas na nossa consciência psicológica mas maioritariamente na nossa consciência social. A possibilidade de comprar esteve sempre associada ao poder. O desenvolvimento da económica, da indústria e da publicidade levou a uma "uniformização de desejos". Cada vez mais classes sociais distintas têm as mesmas vontades, vontades essas que são influenciadas pelos padrões de vida que a cultura visual nos apresenta. Isto leva-nos a trabalhar cada vez mais para atingir um nível de vida padrão, e desse modo cada vez mais adquirimos diversos produtos não pela necessidade mas sim devido à ideologia e ao modo de vida que nos é imposto diariamente.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Saltos Altos

(…) um par de sapatos não impõe às mulheres, (…) as ideias do sexo dominante (os homens); mas usá-los é uma prática ideológica do patriarcado na qual as mulheres participam, possivelmente, ainda mais do que a ideologia exigiria. (…) A mulher participa assim na construção de sim mesma como um objecto atraente para o olhar masculino, e como tal coloca-se sob o poder masculino (de conceder ou recusar aprovação).
Fiske, 1993

Nos dias de hoje, a imagem feminina é utilizada em quase todo o tipo de publicidade, quer seja para uma marca de perfumes ou mesmo para promover um supermercado. A ideia de que a mulher deve estar bem vestida em qualquer situação do dia-a-dia, quando vai às compras ou mesmo ficando em casa com os filhos, é uma ideia que tem vindo a ser incutida na sociedade e por isso dá-se cada vez mais importância ao visual feminino.
Essa situação diminui o papel da mulher como um ser inteligente e suficientemente capacitado para desenvolver as mesmas tarefas intelectuais dos homens.
Os sapatos de salto alto podem ser vistos como uma metáfora para algo que reduz a importância da mulher face ao homem, pois esta ao utilizá-los torna-se menos ágil, isto é, com a mobilidade reduzida.

Apesar de ser um dos acessórios mais privilegiados no vestuário feminino, a verdade é que acaba por simbolizar a aceitação da sua fragilidade em comparação ao sexo masculino.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Escapismo da Cultura de Massas

Fala-se em cultura de Massas, em indústria cultural como retrato do século. A tal fuga do quotidiano, que a indústria cultural promete em todos os ramos. Mas a verdade é que está tudo sob o poder desta cultura, e sem a qual o indivíduo não permanecerá. Ora vejamos, acontecimentos actuais em torno da nossa vivência quotidiana;

«Os raptos em Moçambique e a situação sócio-económica do País.»

"Numa altura em que crescem as pressões internas sobre o governo moçambicano por causa da vaga de raptos, Moçambique e Portugal vão analisar acções de cooperação no combate ao flagelo que nas últimas semanas entrou numa espiral descontrolada. O clima de instabilidade está a repercutir-se nos negócios. A CTA, a maior confederação patronal de Moçambique, alerta para "uma grave crise económica" por causa da tensão militar com a Renamo e a vaga de raptos, que já levou vários empresários a abandonarem o país."  (Correio da manhã, 9 Novembro 2013)

Um pouco por todo o Mundo, o poder das grandes Massas intensifica-se e os flagelos que de uma maneira ou de outra são causas sucessivas das grandes estruturas sócio-económicas, reflectem o Escapismo dessas fortes Massificações. Deriva da atitude dessas grandes estruturas, a "Falsa libertação", que exercem sobre si próprias, originando discrepância em países que são pouco auto-sustentáveis. O exemplo acima referido, é talvez o mais actual e dos países que melhor caracteriza esta desigualdade de massas, não só  por ser um país de extensos recursos naturais, onde a principal fonte económica é agricultura. Mas também, pelos baixos índices de desenvolvimento humano e a expectativa de vida ser uma das mais reduzidas a nível mundial.

Numa cultura onde a "diversão é estar de acordo"... então o que haverá de mudar ?
Não existe desconforto ? Estaremos assim tão refugiados e impotentes ao que está em frente dos nossos olhos? Ou será que nos é conveniente atitude egocêntrica ?
"Se divertir significa: não ter que pensar nisso, esquecer o sofrimento até mesmo onde ele é mostrado. A impotência é a sua própria base. É na verdade uma fuga, mas não, como afirma, uma fuga da realidade ruim, mas da última ideia de resistência que essa realidade ainda deixa subsistir." 

Até quando continuaremos aceitar ser sujeitos passivos deste e de muitos outros flagelos idênticos ?


viver ou sobreviver?

Actualmente o ser humano encontra-se intimamente ligado ao seu trabalho devido ao facto de ter como objectivo primordial a satisfação das suas necessidades. O bem-estar depende da satisfação destas necessidades pelo que o trabalho, segundo esta visão, será como uma unidade básica da vida.
O trabalhador, na sociedade em que vivemos, está dependente do trabalho, daí Karl Marx falar numa “ objectivação do trabalho”; contudo esta objectivação é vista como algo, de certa forma negativo, pois retira à pessoa a qualidade de ser pessoa, uma vez que a sua vida não vai evoluir conforme a produção do seu trabalho, apenas evolui o objecto, sendo este fruto do seu esforço.
A remuneração do trabalho acaba por transparecer no objecto em si, surgindo, assim, o termo “objectivação do trabalho”. Com esta objectivação o trabalhador aliena-se, isto é, afasta-se da sua força e do seu ser, passando toda a sua energia para o objecto que produz. Como diz o autor o trabalho acaba por virar-se contra o trabalhador.
Penso ser bastante importante referir que o trabalho só é possível através da natureza, pois esta permite a existência física do trabalhador e, assim, contribui para que este trabalhe com a finalidade de produzir o objecto.
Esta dependência exagerada ao trabalho remete para uma vida quase animal do ser humano que passa a ver o “trabalho como única forma de existência” estando, literalmente, a ser comparado a um animal irracional que se limita a satisfazer as suas necessidades mais básicas.
O trabalho varia conforme as necessidades/objectivos a cumprir daí haver uma grande diferença entre o ser humano e os restantes animais. Enquanto que todos os animais se limitam a satisfazer a sua necessidade primordial, o ser humano ao ser uma espécie genérica, tem como finalidade a satisfação de vários objectivos que variam conforme o tipo de pessoa/trabalhador que estamos a falar.
A meu ver, a vida humana, segundo este prisma, fica de certa forma diminuída, visto que a natureza deixa de ser a base do bem-estar passando a corresponder aos meios de subsistência da pessoa ao proporcionar apenas trabalho.
Este facto remete para a triste realidade de que os objectivos do ser humano na sociedade afastam-se da felicidade e do bem-estar que a natureza lhe podia proporcionar, dando origem apenas ao fruto do trabalho, o objecto. 
Com isto penso ser importante referir que os objectivos das pessoas passam a ser, pura e simplesmente, um restrito conjunto de necessidades individuais a satisfazer, o que acaba por se traduzir na perda das características únicas que o ser humano é possuidor.
Com tanta dedicação ao trabalho, na sociedade actual, vivemos ou sobrevivemos?

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sociedade Actual



Hoje em dia as pessoas vivem no seu próprio mundo, com as suas próprias ideias sem tentar interiorizar e perceber o que está à sua volta. Se calhar fazem-no inconscientemente, se calhar como um mecanismo de defesa. Acham-se “senhoras de si” mas tudo o que são não passa de uma reflexão do que as rodeia, o que acaba por ser um bocado contraditório.
  Ao olhar à minha volta deparo-me com um ponto comum a todas as pessoas: esta mania de que são detentoras da verdade. Mas afinal o que é que é a verdade? O que é ou não real? O que para mim é real pode ser o oposto do que é real para a pessoa que está ao meu lado.
  Marx defendia, ao contrário de Hegel, seu mentor, que não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência. Ou seja, as condições que cada um tem na sua própria vida (em que ano nasceu, onde nasceu, o que os pais lhe transmitiram, etc.) são factores que determinam a consciência de cada um. A minha definição do que é certo ou errado, certamente que não é igual à de um jovem que nasceu no Sudão, num clima de guerra, habituado ao peso de uma arma nas mãos. Com é que consigo descobrir quem está mais certo? Porque tanto a minha visão da realidade como a dele são falsas porque são deturpadas por tudo o que nos rodeia, por tudo o que os outros nos oferecem.
   Claro que existem leis, escritas e aceites socialmente, comuns à maioria dos países, crenças e culturas, como por exemplo os Direitos Humanos. Mas apesar de estarmos em concordância sobre este bem-comum, quem nos diz que estas leis são as leis a seguir, as leis que levam à aceitação mundial e respeito mutuo? Porque a minha consciência sobre a vida, o que para mim são necessidades básicas vão ser diferentes das das outras pessoas. O que me leva a questionar a criação destas leis comuns a todos. Note-se que não estou a afirmar que não concordo com elas mas, por um lado, uma das razões principais para a necessidade de criação das mesmas foi o facto de o ser humano não aceitar as diferentes consciências de cada um. Mas ao criarem estas leis estão a afirmar que existe uma consciência mais correcta que todas as outras.
  Falo agora de algo mais concreto: o direito que o ser humano tem à vida. Esta lei é das leis aceites por quase todo o mundo, mesmo quem decide o destino de uma vida humana, se tem direito a esta ou não, sabe sempre no seu consciente que não possui esse direito de decisão, mesmo que isso “não se mostre muito”, todos têm a mínima noção que isso está errado, à excepção daqueles que não conseguem responder pelos seus actos.
   Maior hipocrisia que esta, aos meus olhos, é a pena de morte. Como é que uma pessoa supostamente consciente e defensora da justiça, consegue julgar outra pelos seus actos, condenando-a do mesmo modo? Repreendem-na por ter por ter tomado a decisão de quem deve ou não morrer, matando-a.
   Em suma, a evolução do Homem, da tecnologia, da mentalidade levou ao mesmo tempo a um retrocesso da consciência humana. Chegámos a um ponto em que não é possível existir uma consciência mais correcta e soberana pois estamos todos condicionados ao que nos rodeia. O que nos poderia, talvez, levar à aproximação da realidade e da verdade, do conhecimento, seria a aceitação das múltiplas e variadas consciências.
  À medida que reparo “complicação” do que nos rodeia, consciências deturpadas, tanto intencionalmente como involuntariamente, à medida que reparo que cada vez mais nos afastamos da Natureza, noto que a simplicidade é o melhor caminho.

The Dreamers (2003)


      A narrativa deste filme acontece em Maio de 1968 em Paris, palco de inúmeras revoluções e manifestações que apelavam a uma renovação dos valores culturais conservadores, que explode em Maio de 68 com uma greve geral na França que mobiliza aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses. Considerada por alguns pensadores e filósofos, como uma das mais importantes revoluções do século XX, ela viria abanar a sociedade francesa com novos valores de cultura, educação, sexualidade e prazer.

    Os Sonhadores (The Dreamers) são um espelho disso mesmo, jovens que vivem em conflito com o Mundo e si próprios, desprendidos dos valores morais conservadores e que assistem à revolução a que tanto apelam pela janela do apartamento onde vivem, se conhecem e apaixonam. Um filme que surge entre a realidade de uma época, e consequentemente um reflexo da mesma, e uma narrativa controversamente apaixonante baseada no livro de Gilbert Adair, “Os Sonhadores”.

   Bernardo Bertolucci trás até nós três personagens Matthew (Michael Pitt) um jovem norte-americano que se encontra em Paris para aprender Francês, Theo (Louis Garrel) e Isabelle (Eva Green) o irmão gémeos, que conhecem Matthew e que partilham entre si uma paixão enorme pelo Cinema Clássico. Assim este filme tão polémico quanto genial, encontra-se numa dictomia sobre o amor ingénuo mas genuíno carregado de sensualidade e sexualidade, a inversão de valores morais, falando do incesto como algo quase afável e mais poético do que carnal, uma intensa cinefilia nas inúmeras referências que faz a Clássico do Cinema, como se de um poema de amor ao próprio Cinema se tratasse.  

   A história narrada ao som de Joplin, Doors, Dylan, Hendrix, entre outros ícones musicais da época, conta como os três jovens se conhecem e envolvem num romance apaixonante, tórrido e intenso. Tudo começa quando Matthew conhece os irmãos numa das inúmeras manifestações que ocorrem à porta da Cinémathèque Française, depois do despedimento do fundador e director da casa, Henri Langlois. Matthew deixa-se levar pela beleza e sensualidade de Isabelle, e acaba ‘apaixonado’ pelos dois irmãos. Assim começa a amizade entre os três jovens, só finalmente consumada quando os três batem o record dos personagens do filme de Jean-Luc Godard, “Bande à part” (1964). Matthew, Theo e Isabelle passam as tardes a discutir Cinema, cultura, política e comportamento. Constantemente criam desafios envolvem filmes do Cinema Clássico, e é também nestes jogos que a sexualidade e a relação a três evoluí. No entanto este filme pretende mais que chocar pela libertinagem poética com que aborda o sexo e nudez mas sim o ‘amor’ torna-se aqui só mais um elemento da história e não o aspecto dominante da mesma. Os Sonhadores fala de revolução e fala também da crise das personagens perante o Mundo em mudança a que assistem. Theo brada contra o sistema, mas é incapaz de acompanhar as manifestações que acontecem à sua janela. Já Matthew desafia os irmãos a crescerem e a lutarem, mas ele mesmo prefere o discurso pacifista ao confronto de verdade. Isabelle, é ao mesmo tempo sensual e erótica, romântica e misteriosa, mas acima de tudo extremamente envolvente. Para isso Bertolucci usa não só a banda sonora, que nunca soo tão honesta num outro filme quanto neste, como faz uso da sua mestria enquanto realizador, de uma fotografia apaixonante brincando com a luz para criar as sensações dos ambiente, uma edição perspicaz e as já referidas referências Cinematográficas.

Os Sonhadores não é um filme de intensa reflexão, é directo e claro. Tão visualmente explicito que não nos dá espaço para isso. Mas o filme apela acima de tudo ao Cinema, ele próprio, como arma de transformação. 



Dar / Receber

“Melhor dar que receber!” 

Uma frase que nos vem seguindo ao longo dos anos. Espera-se que seja uma espécie de regra, um ideal que toda a humanidade deve seguir, para que possamos estar todos felizes. No entanto, lá no fundo, onde ao ser humano lhe custa admitir, ele sabe o regozijo que é receber comparando ao de dar. Não é culpa sua, a sociedade é que educou para assim ser. Seduziu com o prazer.  Com a evolução da tecnologia foi-se perdendo comunicação “dar-receber”. Claro que o telefone é uma óptima maneira de comunicar com outros, no entanto o número de receptores-locutores é mínimo, comparando com a grande dimensão da rádio. Esta suscitou um monólogo que antes não existia, fez com que a mensagem passasse sem que qualquer resposta voltasse. O ouvinte passou a ser como uma esponja, ao absorver. 

Liberal, o telefone permitia que os participantes ainda desempenhassem o papel do sujeito. Democrático, o rádio transforma-os a todos igualmente em ouvintes, para entregá-los autoritariamente aos programas, iguais uns aos outros, das diferentes estações.”

Sem que o ouvinte se aperceba, mesmo quando com a interação do público, foi resultado de uma “selecção profissional”. 
Quando surge a televisão esta vem poderosa, pois adiciona à rádio algo que lhe fazia falta, a imagem. Mesmo que algo possa ser dito muitas vezes nunca é tão credível como uma boa imagem. Ela tem as suas possibilidades ilimitadas. A seleção de material a exibir, a propaganda que pode oferecer, o observador cai em algo que é familiar: a semelhança com a realidade. Tudo o que a televisão exibe, sejam os seus programas, como publicidade, filmes, noticias ou novelas,  transmite uma semelhança. O espectador identifica-se com aquilo que vê. Passa a haver um ciclo, as canções com os seus ritmos fáceis de memorizar, os clichés de episódios passados numa novela que voltam a acontecer noutra. A audiência já espera isso, espera pelo previsível, quando no início do filme já se pode vislumbrar como será o seu final. 

A velha experiência do espectador de cinema, que percebe a rua como um prolongamento do filme que acabou de ver, porque este pretende ele próprio reproduzir rigorosamente o mundo da percepção quotidiana, tornou-se a norma da produção. Quanto maior a perfeição com que suas técnicas duplicam os objectos empíricos, mais fácil se torna hoje obter a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se descobre no filme.”


O sujeito começa a querer que o mundo seja como o que vê na televisão, dá-se uma busca pela perfeição. O cabelo precisa de certo produto para que fique sedoso e brilhante, e certamente que sem esse produto esse sujeito não será feliz. Acaba por haver uma globalização, pois o que existia de diferente de pessoa para pessoa, agora são diferenças mínimas que não se desenvolvem porque toda a comunidade absorve do mesmo. A sociedade recebe o que a media lhe tem para dar, pois infelizmente dá menos trabalho receber do que dar.

Less is more

A obra de arte torna-se na procura da elaboração de algo mais, produzindo a sua própria transcendência. Esta transcendência é a coerência dos seus momentos, que nela existem e adaptam, tornando a obra de arte em algo mais do que aparenta. No entanto, o facto da obra de arte se degradar e da procura da reprodução da mesma, perde o seu caracter de arte.
A aura é descrita como o fenômeno único de uma certa distância, exigindo um certo distanciamento para a contemplação da obra de arte, nesse sentido, para Walter Benjamin a reprodução da obra de arte relaciona-se com a sua autenticidade, sendo que ao reproduzir-la está-lhe a retirar a aura, o "aqui e agora" e a essência simbólica que apenas o original capta. 
Desta forma, e devido às novas técnicas de reprodução, prevalece uma transformação em relação à concepção de arte. Esta transformação e decadência da obra de arte revela-se mais presente no aprimoramento da fotografia e no cinema. Nas civilizações antigas encontrava-se já presente a reprodutibilidade por meio de imitação manual, onde demonstravam as mais variadas habilidades artísticas. Ao longo dos tempos são desenvolvidas novas técnicas e novos processos de produção e reprodução artística. Esta evolução da reprodução dos meios de expressão humanos permitiu uma maior divulgação e circulação das obras de arte literárias e plásticas. A xilogravura, a litografia, a chapa de cobre, a impressão são alguns exemplos dessa evolução.
Devido a esta possibilidade de divulgação e circulação em massa, surgem várias questões relativas aos valores artísticos da pintura e da fotografia, na medida em que põe em causa os valores de culto e extingue a aparência de arte autónoma. A grande questão do século XIX é saber se a fotografia é realmente uma arte. 
A obra de arte deixa de ter um original e passa a ter um número infinito de cópias, baseando a sua arte numa lógica de reprodução. No campo da fotografia, o autor passa a ter um registo que pode ser impresso as vezes que este desejar, deixando de existir um original. Enquanto que um pintor cria uma obra única, um original que contém o aqui e agora, tornando a obra numa peça autêntica.

Um século depois, surge o cinema e estas questões intensificam-se. Associado ao cinema, começaram as comparações com a arte do teatro. Enquanto que no teatro o actor interage directamente com o publico adaptando a sua performance à sua reacção, no cinema o actor interage directamente com um equipamento, sendo apenas possível ver a reacção do público muito mais tarde. Como consequência a este procedimento maquinado e trabalhado no cinema, o actor perde a possibilidade de interacção com o espectador, de se identificar com um papel e de uma sequência real de acontecimentos. Sendo a aura essencialmente o aqui e agora e dela não existir qualquer tipo de cópia ou reprodução, o actor ao interagir unicamente com equipamentos e não directamente com o espectador, este perde a sua aura. 

Formigas e experiência

A pouco tempo li um artigo que achei interessante num blog de ciência onde são feitos posts sobre novas descobertas.
O que me chamou a atenção foi o título! "Ants are capable of changing their priorities".
Pensei, bom mais uma descoberta de como os animais se organizam como coletivo, e se são muito diferentes de nós humanos como sociedade.
No artigo era descrita uma experiência para tentar responder as perguntas:

"All animals have to make decisions every day. Where will they live and what will they eat? How will they protect themselves? They often have to make these decisions as a group, too, turning what may seem like a simple choice into a far more nuanced process. So, how do animals know what’s best for their survival?"

A conclusão a que chegaram foi que as formigas mudam as suas estratégias de toma de decisão baseado na experiência, e o mais interessante é que o fazem coletivamente.
Esta conclusão fez-me lembrar uma aula recente onde foi exposto o conceito de juizo sintético (à posteriori) que, segundo Kant, o ser humano faz juízos através de experiência (acumulação de experiência) e toma decisões baseados nessa experiência.
Penso que é um bom exemplo de como uma espécie se organiza como "sociedade".

"...Their greater goal is to apply what they discover to help society better understand how humanity can make collective decisions with the same ease ants display."

Será que algum dia a sociedade se organizará de modo a tomar decisões tão facilmente como as formigas? Se isso acontecer, certamente não será no meu "tempo"

De seguida deixo o link para o artigo em questão:
http://www.iflscience.com/plants-and-animals/ants-are-capable-changing-their-priorities

Criatividade, Autenticidade e Reprodutibilidade

A criatividade é algo que me fascina. O que é que nos faz "criar" coisas? Necessidade, ambição? De onde vêm as ideias? Ter ideias é algo que se aprende? Este processo, tão necessário à nossa evolução, coloca-nos num patamar muito diferente de todas as outras espécies no mundo. Reflecte o nosso carácter lógico e racional, a nossa necessidade inata de ultrapassar a condição humana e o engenho infinito (parece-me) da humanidade.
Deparei-me com Everything is a Remix, de Kirby Ferguson, e a minha ideia de criatividade mudou drasticamente. Remix, como definido pelo autor, é o processo de combinar ou editar materiais existentes de forma a criar algo novo, ou seja, "criar", ao contrário do que se pensa, é o acto de associar diferentes criações ja existentes, de forma a satisfazer novas necessidades.



Segundo Walter Benjamin, em "A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica" (in Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política. Lisboa: Relógio d'Água) aquilo que é criado por um homem pode (e vai ser) copiado, ou imitado, por outros homens. Esta imitação é visível até nos nossos processos de aprendizagem (especialmente no estudo das artes); começamos por aprender o que foi feito por todos os grandes mestres para depois podermos, com esse material, criar algo nosso.

Com isto cria-se a problemática da autenticidade. Digo problemática dada a conotação empírica que a este termo é atribuída, o associar de algo que é autêntico a algo no seu estado mais puro. Esta temática foi abordada por Platão em "Fedro" que defende que a oralidade traduz a "voz da alma", o verdadeiro pensamento (o pensamento mais puro), enquanto que a escrita é apenas um instrumento exterior ao Homem que tenta traduzir o pensamento mas é insuficiente, podendo ser mal interpretada por quem a lê. A oralidade exige a presença do autor (aqui e agora) enquanto que a escrita permite a sua ausência e perpetua no tempo (aqui pode ser introduzido o conceito de reprodutibilidade). Walter Benjamin, a este respeito, diz que é precisamente o aqui e agora- a sua existência única no local onde se encontra - que se cumpre a história, à qual, no decurso da sua existência, esteve submetida.


Assim, pretendo redigir um trabalho sobre a temática da criatividade, autenticidade e reprodutibilidade, as diferentes percepções das mesmas e analisar as suas relações simbióticas, adaptando-as ao contexto moderno apoiando-se em paralelos com o passado.

A Dificuldade Humana em Lidar Com a Diferença


Se descermos da nossa confortável posição enquanto "o ser racional do mundo", podemos observar que o Homem é, sem dúvida alguma, também o ser que mais dificuldade tem em lidar com a diferença. É certo que a "culpa" reside nessa racionalidade, no entanto, também é certo que o nosso acto mais reflexo é julgar e estabelecer opiniões, muitas das vezes mal fundamentadas, acerca do que e de quem nos rodeia. Afastamo-nos cada vez mais de um ser observador e racional, para passarmos a agir por instinto. Um dos preconceitos mais comuns que se veio a desenvolver, e que está agora a tentar ser eliminado, tem a ver com algo tão básico como a diferença entre homem e mulher, e cada vez mais, todos os espectros que cada um pode optar por seguir. 
Platão sentiu necessidade de dividir claramente o mundo material do mundo espiritual, sendo o mundo espiritual um lugar de verdade e moralidade, superior ao mundo físico na medida em que tem uma forma pura, não afectada pelas formas sensuais do mundo real a que nós tão habituados estamos. Tal entra em concordância com diversas filosofias orientais, o que ajuda a provar que enquanto ser, não somos assim tão diferentes uns dos outros. Somos todos dotados de um pólo de razão e outro de desejo. De acordo com o autor, possuímos todos algo superior ao físico, por isso, deverá o físico entrar em conflito com aquilo que nós somos, ou deve apenas ser aceitado, sem questão? 
Em 1984, Judith Butler explora a exclusão da mulher no mundo filosófico e intelectual. Torna-se óbvio que a mulher sempre foi desvalorizada nesse aspecto, e que do ponto de vista social, mesmo que de forma inconsciente, o homem representa a verdade, a moralidade, o desenvolvimento intelectual, enquanto a mulher representa o físico, o impulso e o desejo. Quer seja propositado ou acidental, esta ideia tem raízes profundas em toda a civilização ocidental. 
Ao fim de algum tempo torna-se óbvio que o problema é muito mais profundo do que a desvalorização da mulher enquanto ser racional. Todos os problemas que advêm dessa simples ideia criam um mundo de conflito e uma imagem que se torna cada vez mais difícil de eliminar na nossa sociedade, quando muitas das vezes são, de facto, as mulheres a aceitarem a posição que lhes é atribuída, optando por alimentar a ideia de se têm que ornamentar, arranjar e agradar aos seus contemporâneos masculinos através do físico. 
Retomando a linha do pensamento platónico, se a observarmos como pessoas do século XXI que somos, podemos concordar que de facto todos possuímos um pólo físico e um pólo racional. No entanto, se nós somos seres racionais como tal nos afirmamos todos os dias, penso que seria sensato guiarmo-nos por essa racionalidade, e não pelo físico nem pelo impulso. Falta à humanidade compreender conscientemente que somos mais do que o corpo que possuímos, e que esse não deve apresentar uma barreira no modo como nos relacionamos nem nas opiniões que possuímos acerca do mundo físico de que somos parte. Cabe-nos elevarmo-nos a cima dessas questões, de modo a que nos possamos preocupar com o que realmente importa.
Atualmente, existe uma gigante cultura global à qual pertencem quase todos os  países que se conhecem. Aí pertencem os países ocidentais, geralmente. São excluídos os pequenos povos, tribos e povoações que se recusaram tornar-se "civilizados".
Na cultura ocidental, as pessoas vestem-se, agem, comportam-se e pensam da mesma forma. No entanto, existem diversas subculturas que integram a global.
Essa divisão dá-se pois, consciências dependem das condições materiais da vida, isto é, estão todas condicionadas pelo meio onde vivem, nascem, foram criadas. Isto é claramente observável na sociedade onde vivemos. Dependendo da educação, das áreas onde habitamos, campo cidade ou até mesmo as zonas da mesma, etc, as diferenças de consciências são notórias. Alguém que mora numa zona "rica" da cidade, não terá a mesma consciência que terá alguém da zona ''pobre'' (ou até mesmo de classe média)  da mesma ou de qualquer outra cidade. Cheguei a presenciar um acontecimento que exemplifica a situação: a rapariga, de classe social elevada, foi abordada por uma colega de classe média; a segunda perguntou quanto tinha custado um material para a escola e a primeira respondeu. O grupo onde se inseriam ficou boquiaberto. «Isso é caro?», perguntou após verificar a reação dos colegas. «Isso é mesmo muito caro». «Não sabia».
Este é apenas um pequeno exemplo da diferença de consciências. Esta também pode ser afetada pela forma como as outras pessoas reagem à aparência física, isto é, a falsa consciência é moldada devido ao pensamento dos outros sobre a beleza\fealdade. Como é o caso de uma rapariga de que tenho conhecimento. Utiliza a suposta beleza para obter o que quer do mundo e das pessoas que a rodeiam, achando que pode maltratar quem lhe apetece, porque, ao final do dia, vai tudo cair-lhe aos pés, sem esforço, sem dedicação: os rapazes vão sempre querê-la, as raparigas vão sempre querer ser suas amigas. Este comportamento afeta os que a rodeiam, os que são novos na sua vida e o namorado tentam agradá-la, os que permanecem há mais tempo (com diferentes consciências) têm duas soluções: ou se afastam (como aconteceu com os dois "amigos"\colegas de trabalho que ela tinha) ou se deixam influenciar e tornam-se iguais (sobretudo raparigas).

Assim, embora habitemos numa supercultura, esta estará sempre dividida em subculturas que diferem umas das outras devido a consciências influenciadas pelos meios e condições da vida. O ambiente que nos rodeia será sempre moldado por falsas consciências, quer sejam boas, más ou indiferentes (de acordo com a nossa própria consciência).

A cultura da violação


Por vezes pergunto-me como é que vemos a nossa sociedade como algo desenvolvido e tão superior quando actos tão violentos como a violação são aceites e incentivados. Digo incentivados porque isto é algo que está apreendido pela mentalidade geral: que a violência é sexy e que sexo tem de ser algo violento. Uma cultura que aceita estas ideias como regras e ensina que o que é necessário recolher do acto sexual é o poder em vez do prazer irá obviamente sofrer por isso e tornar-se aquilo a que se chama uma "rape culture".
A "rape culture" ou cultura da violação, é algo que tem de se desmantelar o mais rápido possível.
Deixemos de dizer ás mulheres para ter cuidado na rua, em vez disso ensinemos o erro desumanidade da violação aos jovens, sem prepetuar a sua "romantização".
Deixemos de acreditar que a violação é uma táctica a ser utilizada em tempos de guerra ou uma maneira correctiva para a homossexualidade.
Deixemos de ignorar que um homem pode ser violado.
Deixemos de ignorar que uma em seis mulheres será violada na sua vida.
Deixemos de ignorar que neste número se incluem trabalhadores da indústria do sexo, pessoas casadas e em relações.
Deixemos de ignorar que praticamente todas as pessoas já foram alvo de atenção não desejada com forte conotação sexual.
Deixemos de pensar que é "a filha de alguém" ou a "irmã de alguém" porque não é em relação a um outro que uma pessoa ganha valor, mas sim por ser humana.
Deixemos de culpabilizar a vítima porque nessa noite tinha uma saia curta ou tinha bebido um copo a mais. Ela não "estava a pedi-las".
Começemos a educar.
Começemos a mudar.
Talvez assim a nossa sociedade começe a merecer o estatuto de desenvolvida.


Sugestões de leitura sobre a "rape-culture":
http://finallyfeminism101.wordpress.com/
http://geekfeminism.wikia.com/ - acerca de rape culture dentro dos meios de entertenimento
http://globalrapeawareness.tumblr.com/
http://www.incasa.org/advocacy/survivor-resources/when-men-are-raped/
http://en.wikipedia.org/wiki/Rape_by_gender

"O mundo é seu"

"La Haine", filme produzido por Mathieu Kassovitz relata a vida de três jovens imigrantes que vivem nas periferias de Paris, o filme situa-se no contexto das revoltas urbanas em França de 1991.
O tema fulcral é a repressão violenta que o governo faz aos moradores dessas periferias, passa-se durante as vinte e quatro horas de Vinz (o judeu), Said (o árabe) e Hubert (o africano) com o perigo eminente da polícia. O ódio começa quando Abdel Ichah, um árabe de 16 anos e amigo dos três, fica em coma após um interrogatório brutal da polícia.
A vida quotidiana destes três imigrantes demonstra a desigualdade social existente naquela época, repleta de violência. Estes jovens não têm uma visão de futuro da sua vida, pois estão inseridos numa "cultura" muito própria onde as relações são estabelecidas com a violência e a exclusão, a isto Albert Cohen e Alessandro Baratta referem-se como "subcultura delinquente", uma cultura onde as hierarquias são semelhantes e onde a solução de problemas sociais e económicos são a de completa adaptação sem ter resultados no mínimo satisfatórios por parte das culturas "superiores". Estas revoltas que levam à destruição sem qualquer lucro, contêm uma qualidade política apesar da irracionalidade e da violência expressa, porém com carácter de reinvindicar algo.
Um dos aspectos mais reais do filme é a influência capitalista dos Estados Unidos no mundo inteiro, aspecto existente numa cena onde Vinz encontra uma arma de um polícia e finge ser Travis Bickle de Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese.
Frases presentes no filme como "O mundo é seu" expressam a cultura de consumo existente na sociedade. O desequilíbrio entre o consumo e a estrutura económica atinge maioritariamente os jovens e acrescenta problemas de aceitação social e de estilo, também afecta a nível de mercado de trabalho para esses jovens que são negados pelo sistema governamental.
Temos ainda mais recente os casos de execuções feitas por polícias nas periferias de São Paulo em Maio de 2006, onde as frustrações e necessidades aumentaram e houve revoltas atrás de revoltas sobre a política repressora e acabaram por ser só mais umas vítimas.
Em "La Haine" sentimos uma sociedade em decréscimo social. por muito avançada e desenvolvida que seja, pois usa formas violentas para dominar as subclasses marginalizadas.
"So far so good... So far so good... How you fall doesn´t matter. It´s how you land!" - fala de Hubert 


http://www.youtube.com/watch?v=6IHO1LzLgIg

Realidade Irreal

O cinema, cada vez mais, busca interessar-se por temas do quotidiano. Mais concretamente pela vida de supostos sujeitos 'normais', como quem diz que o que se encontra representado naquela hora e meia podia acontecer a qualquer um de nós.

No mundo das comédias românticas, temos o homem que acaba por dizer as palavras certas, numa sequência pensada, como se fosse algo comum; e a mulher que acaba por se render, apesar de ser mostrada como uma pessoa forte e que merece ser valorizada simplesmente pelos minutos fantasiosos e românticos que ela passou com o homem ao longo do filme. 

Com base no que já foi mencionado, confrontei-me com uma situação entre um casal adolescente, em que foi perceptível que a mente da rapariga se encontrava um quanto moldada pela fantasia cinematográfica. A situação assistida consistiu na rapariga a dizer que não devia ser assim, que ele devia dar-lhe valor, prestar-lhe mais atenção, entre outras semelhantes coisas, e o rapaz a dizer que não percebia o que tinha feito de mal. Nisto continuei caminho e afastei-me. Quando regressei, ainda estavam a discutir, e pelo meio ouvi uma referência a um filme, uma comparação entre a relação deles e a projectada numa produção cinematográfica.

O que me ficou na cabeça foram as duas coisas: a indignação dela por ter falta de atenção por parte do seu cônjuge e o facto de ter mencionado um filme como se fosse uma verdade universal da nossa realidade. O facto de ela ter dito que precisava de mais atenção e ele ter tido a paciência para ficar quase uma hora a ouvir o como devia ser tendo como base o cinema, nota-se a discrepância entre a realidade e a fantasia, pois paciência e atenção já lhe dá o rapaz mas não da forma singularmente fantasiosa que ela imaginou. A comparação com o filme tornou óbvio a esperança dela de ter um romance como o das personagens fictícias, ao invés de ter um com base na dimensão em que nós vivemos. Tal como Horkheimer e Adorno sumarizam: "A velha experiência do espectador de cinema, que percebe a rua como um prolongamento do filme que acabou de ver, porque este pretende ele próprio reproduzir rigorosamente o mundo da percepção quotidiana, tornou-se norma de produção."1

No dia-a-dia, a sociedade é cada vez mais influenciada pela realidade alterada, planeada, limpa e escrita representada nos ecrãs. Ao basearmo-nos numa selecção de momentos a que se resume um filme, parece-nos que a vida podia ser mais interessante, ou mais romântica, em vez de estimarmos os vários momentos que presenciamos no nosso quotidiano. O cinema cada vez mais não deixa o espectador tomar o seu lugar de espectador livre, prende-o com semelhanças ao quotidiano tornando a linha que separa o fictício do real muito ténue; por outras palavras, e por palavras de outros: "Ultrapassando de longe o teatro de ilusões, o filme não deixa mais à fantasia e ao pensamento dos espectadores nenhuma dimensão na qual estes possam, sem perder o fio, passear e divagar no quadro da obra fílmica permanecendo, no entanto, livres do controlo de seus dados exactos, e é assim precisamente que o filme adestra o espectador entregue a ele para se identificar imediatamente com a realidade."1



1 Horkheimer, M.; Adorno, T. (1947) 'Indústria cultural. O Iluminismo como Mistificação das Massas'

Reprodutibilidade à distância de um 'click'

O aparecimento da fotografia trouxe consigo não só uma nova forma de arte, mas simultaneamente uma nova forma de ver a arte. Walter Benjamin explora em “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica” os efeitos desta reprodutibilidade sobre a arte, apontando a possibilidade de reprodução e a proximidade criadas pela fotografia entre o objeto fotografado e o observador do retrato como quebras com os conceitos de unicidade, autenticidade, o “aqui e agora” até então característico de qualquer obra de arte, espaço…
Atualmente é possível afirmar que esta inicial proximidade conseguida pela fotografia entre obras de arte (ou qualquer objeto, lugar…) e o público foi sem dúvida dinamizada através da internet. A “distância de um click” permite a qualquer pessoa “viajar” para os mais longínquos locais, observar diferentes obras de arte, ou seja, estar em todo e qualquer lugar sem sequer sair do mesmo local.
Apesar dos benefícios que se possam tirar desta proximidade, visto fazer chegar a um público mais abrangente e de forma rápida peças que só seriam contempladas na visita ao seu local de exposição, o conhecimento tirado desta contemplação é apenas um conhecimento virtual, possível. A experiência direta não pode ser substituída pela representação do objeto. 
O desejo de ultrapassar a condição humana, vencer limites através da reprodutibilidade técnica de obras de arte e não só, apresenta-se certamente como uma forma de progressão na medida em que permite um contato aparente com diferentes peças. Porém a experiência e contato direto com diferentes obras de arte, o carater único, autêntico, o “aqui e agora” de cada peça só poderá ser contemplado no encontro direto com cada peça, estando a fotografia, a internet ou qualquer outro meio dinamizador de informação incapazes de superar.

Falsas diferenças e possibilidades de escolha com base em “Adorno, Horkheimer, indústria cultural”

Cada vez mais nos dias que se seguem nos deparamos com uma multiplicidade de gamas e modelos em certas marcas de certos produtos. Todas as marcas nos oferecem uma infinidade de variedades que nos dão a ilusão de possibilidade de escolha. Tirando como exemplo os gadgets, mais especificamente os telemóveis, existe uma vasta variedade de opções; desta forma, o consumidor apoiado pelo seu nível financeiro, consegue escolher aquele que mais se adequa às suas posses. Mas todos estes modelos (mais baratos e mais caros) se resumem cada vez mais a: uma câmara com melhor qualidade, um disco com maior capacidade, melhor sistema operativo, mais cores no ecrã, melhores colunas, entre outros aspetos. Todas as marcas oferecem estas opções que no fundo são versões do mesmo produto; também as marcas se rivalizam entre si de forma a oferecer o melhor produto ao consumidor.  Como diz o texto: “As vantagens e desvantagens que os conhecedores discutem servem apenas para perpetuar a ilusão da concorrência e da possibilidade de escolha.”; assim, as marcas que competem entre si, disputam um produto com as mesmas características, mas que é mostrado ao publico como sendo completamente diferente. Desta forma conseguem dar a “(...)ilusão da concorrência e da possibilidade de escolha.”. Nos dias de hoje, como caso prático, temos as marcas de gadgets Samsung e Apple como principais. Estas marcas promovem “(...)uma distinção ilusória.” como  Adorno e Horkheimer referem.  As marcas rivalizam os seus produtos entre si e através da publicidade tentam manipular o público e mostrar que o seu produto é o melhor. Mas em quase todos os aspetos os seus produtos se assemelham. Cada vez que uma marca lança um produto novo, a outra lança um produto equiparado como forma de concorrência; desta forma, as marcas andam numa constante disputa por um produto igual, mas que aos olhos do consumidor tem de ser diferente.

 

A fábrica

A ideologia segundo Marx, é uma falsa consciência da realidade. Ao contrário da filosofia de Hegel, afirma que "não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam nem daquilo que são nas palavras, no pensamento na imaginação e na representação de outrem para chegar aos homens em carne e osso; parte-se dos homens, da sua actividade real".As condições de vida que cada indivíduo tem é que vão determinar a sua consciência. 

 "Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência. "


Esta consciência depende de pessoa para pessoa. Posto isto, haverá tantas consciências diferentes mas nenhuma verdadeira. É uma consciência que vai deformando ao longo dos tempos, dependendo das condições de vida, das opiniões (se discordam ou concordam).Marx vai associar esta ideologia á fantasmagorias, algo que parece mesmo verdade mas não é, é o inverso. Esta falsa consciência esconde-se atrás do óbvio. Ou seja, esconde-se atrás do que são as regras culturais e do que é socialmente aceitável. Não damos por ela, pois parece natural.Os costumes e ideias vão sendo alterados de cultura para cultura, e o ser humano tem de ser ir adaptando. Um ser humano rodeado de utensílios como machados ou pontas de flechas já não se encontra á vontade no seu meio como acontecia com o homem primitivo , que se servia apenas das suas mãos: "está alienado no meio e a cultura protege-o ao mesmo tempo que constitui a sua prisão". As fábricas, por exemplo, são lugares em que os seres humanos tornam-se cada vez menos naturais e cada vez mais artificiais, na medida em que as coisas são transformadas em outras coisas que se reproduzem no próprio ser humano.Podemos dizer então que as fabricas são lugares onde se produzem sempre novos tipos de seres humanos: o homem das mãos, depois o dos utensílios (machados, facas, etc), depois o das máquinas e por fim os robots"São os homens que, desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, transformam , com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos desse pensamento. "

Tatuagens e Saussure?




  Poderá o acto de tatuar o corpo, marcar o corpo, estar ligado com a alteração de uma imagem, mudando o seu significado? Pois bem, ao tatuar uma imagem, como por exemplo uma flor, cada pessoa poderá associa-la a diferentes simbologias, a diferentes significados.  A necessidade de marcar algo na nossa pele, muitas vezes como memoria, ou por um simples gosto pessoal, faz com que mudemos o sentido de uma imagem (ou significante) mudando assim a sua simbologia, atribuindo-lhe um novo “símbolo”.  Este símbolo, como para Saussure, maioritariamente, não é completamente arbitrário, não é vazio, também nele, há um “rudimento de ligação natural entre o significante e o significado”. Podemos assim dizer, que ao tatuar uma determinada imagem, voltando ao exemplo de uma flor, tornamo-la num símbolo de algo mais, dando-lhe outro significado alem dos que já possui a priori, dando-lhe um significado pessoal.

  Também dependendo do sitio em que nos encontramos, da nossa cultura, podemos assistir a “repetições” do mesmo símbolo tatuado, como as famosas tribais, celtas ou maoris, ou até mesmo as típicas carpas koi , que adquirem um significado muito próprio inseridas na cultura em que nasceram, tornando-se um símbolo da própria cultura.  As chamadas tatuagens “old school”, que se popularizaram após a segunda guerra, remetem-nos imediatamente para historias de marinheiros, e para um símbolo de bravura, personalidade e uma certa “rebeldia”, possuem também, significados muito claros desde então e ainda hoje são usadas como símbolos. São, também reconhecíveis de todos, as chamadas “tatuagens de guerra”, que usualmente descrevem o ano e o sitio onde a pessoa, militar, esteve em guerra, estas também, com um significado e símbolo muito explicito, uma memoria de guerra.

  Em suma, poderemos dizer que cada símbolo (tatuagem) pode ter vários significados, consoante a cultura, contexto e experiencia em que está inserido ou associado, e, assim sendo, cada um pode atribuir um significado “pessoal” a um símbolo.

domingo, 24 de novembro de 2013

Assalto ao Castelo

“A categoria do sujeito é de uma ‘obviedade’ primária” Louis Althusser (1976) “Idéologie et appareils idéologiques d´État”.
Consideramos como óbvio o facto de sermos sujeitos, ou seja, de sermos “nós” próprios. Se nos disserem que nós não somos “nós”, ficaremos indignados, porque isso é algo que tomamos como certo e garantido. Temos consciência da nossa existência enquanto seres separados do mundo e dos outros. O facto de sermos “re-conhecidos” por outrem e vice-versa é consequência desta consciência de que somos sempre sujeito e sempre o mesmo sujeito.
Esta noção de existirmos como seres separados do que nos rodeia recordou-me uma história chamada “Assalto ao castelo”, que narra uma visita de estudo de uma creche a um castelo, com o imaginário de uma assalto ao castelo. Chegado ao local, todas as crianças com um escudo e uma espada de fantasia saltam da camioneta à indicação da educadora e correm em direcção ao castelo. Contudo, uma criança permanece sentada no seu lugar do autocarro a chorar. A educadora pergunta-lhe qual a razão pela qual ele chora, ao que o menino lhe responde, “o meu pai está em Paris”.
A ausência do progenitor significa um abalo na sua sensação de segurança e na certeza de protecção. Apesar da criança não estar vinte e quatro horas por dia com o pai, esta tem a certeza de que este estará com ele no final do dia. Quando isso não ocorre durante dias consecutivos, o menino sente-se inseguro e desprotegido, porque  este encontra-se vinculado ao progenitor, uma vez que ainda existe entre os dois uma ligação forte e dependente. O menino ainda se vê a si próprio como um ser dissociado do seu pai, não lhe permitindo possuir a coragem necessária para enfrentar o desconhecido e “assaltar o castelo”.

Após os três anos, a criança aumenta as suas capacidades cognitivas o que lhe permite apenas suportar o afastamento da figura de vinculação durante um curto período de tempo. Só alguns anos depois, a criança passa a ter consciência dos seus pais como um elemento exterior.

Poder de expressão

Vou falar sobre uma questão que ainda hoje é algo de certa forma tabu. Algo tão comum e impregnado na nossa sociedade desde tempos pré-históricos, mas que no entanto na nossa sociedade contemporânea é algo que contém regras sociais muito rígidas.
Falo pois do uso de maquiagem, mas não apenas o seu papel e o que representa, mas como é algo que ao longo dos tempos foi mudando de significado e de praticalidade. No entanto nos dias de hoje é algo comum categorizá-la como algo pertencente à esfera feminina. Mas nem sempre foi assim, e mesmo com padrões sociais muito definidos e sem grande margem de escape, podemos ver que o seu papel nem sempre é tão feminino, sendo pois utilizada pela comunidade masculina, não num âmbito tão geral como com o seu sexo oposto, mas em determinadas categorias. E porque? Por quem? Em que circuito?
Tentarei abordar esta temática, dando a conhecer um pouco sobre o história da própria maquiagem, e tentando dar a saber alguns exemplos.

Nos tempos mais antigos a maquiagem tinha vários papéis, pelo que podemos supor, tais como pura ornamentação, distinção de clãs, povos, aldeias; uso “mágico” usada pelos xamãs, para distanciar alguém e assim dar-lhe um maior grau de poder social, tentar atrair o sexo oposto destacando algumas partes da fisionomia humana, religião, enfim um sem fim de motivos. Com o passar dos séculos o seu papel foi adquirindo diferentes nuances e padrões mais pré-estabelecidos.
Hoje em dia quando pensamos em maquiagem, pensamos quase que instintivamente em mulheres, que a usam com o intuito primário de se tornarem mais atrativas, embora haja outras razões, tais como: conseguir sentir-se integrada num determinado ambiente social, escolar, trabalho, lazer; para de certa forma sentir-se “melhor consigo própria”, ou seja com a utilização da maquiagem, pensa conseguir corrigir certas “falhas” ou melhorar algumas áreas onde acha que necessita ou quer melhorar. Se formos a pensar bem, e falo mais no que eu própria experienciei, na minha geração dos anos 90 até agora, foi algo que progressivamente teve mais ênfase e importância nas vidas das adolescentes e jovens adultas. E porque?

Talvez o maior impulsionador deste “fenómeno” seja a indústria multimilionária que é a “media”. Esta entidade tão presente nas nossas vidas desde a nossa juventude, tem vindo a criar cada vez mais uma ideia altamente padronizada e impossível de atingir, de como é que as mulheres devem ser, ter um determinado aspeto, usar determinados objetos, roupas, sapatos etc. E a maquiagem faz parte dessa imagem de suposta perfeição feminina, onde queremos uma pele perfeita, lábios voluptuosos, nariz alongado, pestanas com um quilómetro de comprimento, entre uma infinidade de outros aspetos. No entanto nem todas as mulheres sentem tanto esta espécie de pressão social de assimilação, havendo muitas que simplesmente ignoram ou menorizam a sua importância, ou não lhe dando qualquer importância, havendo outras em que a maquiagem são uma espécie de bens preciosos e todos os dias têm que passar por aquele “ritual sagrado” ou então sentem-se quase “nuas” ou demasiado expostas, como se a sua própria naturalidade fosse chocar as outras pessoas, ou o próprio espelho as olha-se com olhos de poucos amigos.
Passando agora para o outro lado da esfera, encontramos a comunidade masculina. Uns gostam, outros preferiam arder na estaca a ter qualquer tipo de maquiagem tocando uma célula que fosse do seu ser. Pois assim manchariam a sua imagem de “macho”, e isso não é algo que ponham sequer em questão. É uma ideia tão inerente ao seu próprio eu, o ter que passar a ideia que é puramente macho, forte, poderoso, garanhão, sempre pronto a se reproduzir. Embora nem todos pensem nem ajam desta forma. Há sempre exceções, a maquiagem é usada por homens na indústria da moda, tanto numa forma de expressão artística tanto numa forma de “melhorar”, atenuar ou enfatizar certos atributos físicos. Havendo outros homens que simplesmente gostam de maquiagem, ou da ideia que ela passa, e usam-na regularmente, uns mais discretos outros nem tanto. Mas é quase garantido que ao fazê-lo atraíram olhares curiosos, ou julgadores na rua. Pois é algo onde não existe uma tolerância social abrangente, falo de maquiagem, cosméticos, mas poderia também falar de vestuário, certas peças têm o mesmo diferencial sexual, como saias. Mas porque esta atitude na grande maioria das pessoas? Com certeza que a forma como foram educados tem um grande papel nestas atitudes, há pessoas com uma mentalidade mais “antiquada” onde outras têm uma mais progressiva e aberta às constantes mudanças do mundo. Gerem-se por certos valores, e quem não os segue é imediatamente tornado num alvo. Sair da norma, quebrar as regras, fugir à tradição.

O mais interessante é o facto de se falar tanto em mudança e aceitação, mas estarmos numa época histórica em que podemos observar uma das maiores barreiras entre “masculino” e “feminino”, com regras sociais muito fortes e presentes nas vidas das pessoas, e de uma maneira geral um pouco da mesmo forma por todo o mundo, pois a globalização é algo que já se faz sentir e muito, mesmo que nos passe de certa forma despercebido pois é algo cada vez mais comum e o óbvio nem sempre é tão percetível.
Pondo isto podemos ver como Simone de Beauvoir também fala sobre a temática dos dois sexos.

A infiltração de simbologia oculta nos produtos da indústria musical é algo que nos parece improvável. Talvez pudéssemos associá-la a estilos musicais que bebem mais desse mundo e cuja imagem remete de facto a esse imaginário. E no entanto, como explicamos o recente empenho por parte da indústria musical mainstream para incluir estes símbolos nos seus produtos, glorificados por artistas idolatrados pelo público? A sua abundante e repetida presença torna esta infiltração num fenómeno real que não deve ser ignorado ou menosprezado. 

São inúmeros os websites, fóruns e blogs que se dedicam à procura, identificação e análise de vários símbolos e temáticas específicas que podem ser actualmente encontradas nos vários objectos produzidos pela cultura pop. Os exemplos são demasiados; basta uma pesquisa rápida para que sejamos confrontados com eles. É importante salientar, porém, que não me interessa falar das teorias de conspiração relativas a este tema que povoam a Internet. Interessa-me sobretudo a introdução destas imagens e conceitos em produtos pop de grande consumo - na sua maioria, vídeos de música - e as suas possíveis consequências.

É difícil identificar o momento a partir do qual símbolos como o triângulo, o olho da providência ("all-seeing eye"), o pentagrama, o esquadro e compasso, o padrão em xadrez - ligados à maçonaria e à sua prática -, a repetição do número seis, a cabeça de Baphomet, o conceito de dualidade e de controlo da mente foram introduzidos de forma tão óbvia neste meio. Mesmo ignorando a conotação que estes símbolos possuem, é interessante verificar que foi através da cultura pop (nomeadamente de cantores e artistas) que os mesmos se propagaram.

Os símbolos são vários e facilmente identificáveis em inúmeros vídeos de música de grande sucesso. No entanto, perante estes símbolos, o indivíduo que não está com eles familiarizado irá ignorar o sentido latente que em si encerram. Esta simbologia oculta torna-se, então, parte do imaginário que relacionamos com determinado artista (ou mesmo com a música pop no geral). Considerando que a pop é maioritariamente consumida por uma camada mais jovem da sociedade - e por isso mais influenciável - tais símbolos, já aparentemente afastados do seu real significado, transformam-se em algo "cool"; numa tendência que os jovens mimetizam nos seus gestos e poses e usam no corpo, sob forma de estampados de temática descaradamente maçónica ou satânica.
     
Para além do estranho conteúdo que a indústria musical nos tem vindo a proporcionar, ainda a ele se alia uma visão submissa e extremamente sexualizada da mulher - que na maioria destes vídeos se torna num objecto passivo destinada a satisfazer fantasias masculinas. A título de exemplo basta olharmos para recentes êxitos pop: o novo single do cantor Justin Bieber utiliza uma expressão que se refere ao abatimento de um animal de modo a insinuar um acto sexual on the roofbalconywe don’t care who sees/girlI’mma put you down/all the way down down down»); um dos maiores êxitos dos últimos meses, "Blurred Lines", tem versos como «tried to domesticate you/but you're an animal/baby, it's in your nature/just let me liberate you» ou «I hate these blurred lines/I know you want it», que remetem demasiado a palavras que um abusador diria à sua vítima para que as ignoremos; já o perturbador vídeo da música "Love me" do rapper Lil Wayne está povoado de mulheres enjauladas em redor dos intérpretes. 

Com tanto que parece errado neste cenário, é difícil continuar a pensar na música pop como algo inócuo. Quais os efeitos da permanente presença destes símbolos e conceitos na indústria pop? Ser-nos-á sugerido que, por detrás daquilo que é mostrado ao público, existe uma realidade não tão apelativa; e quereremos nós apenas ser entretidos e ignorar o que se passa por detrás da cortina?