A nossa sociedade é um organismo “vivo” e em constante
metamorfose. Nós fazemos parte desse organismo. O que fazemos, o que pensamos,
como o fazemos, porque o fazemos, tudo isso influência o seu rumo. “Do pequeno
se faz o grande.” Se pensarmos desta forma, e se começarmos a lutar pelo que
acreditamos, a mudança com certeza virá logo atrás.
Slut shaming, já
ouviram falar? Não é um termo que faça parte do nosso cotidiano, mas não é por
isso que merece menos consideração da nossa parte. Inspirada pelo livro o
Segundo Sexo de Simone de Beauvoir, decidi continuar dentro da temática tida
como feminista, mas desta vez falar sobre algo mais contemporâneo. É algo
relativamente recente, mas que traz consigo correntes culturais muito antigas,
que têm estado presentes nas nossas vidas desde há muitos anos.
Então o que é slut shaming? É o ato de compelir uma mulher a fazer-se sentir culpada ou inferior
devido à prática de certos comportamentos que se afastam das “expectativas
tradicionais” de seu género. Estes comportamentos incluem, dependendo da
cultura em que se encontra (mas de uma forma geral), possuir um grande número
de parceiros sexuais, ter relações sexuais casuais, agir ou vestir-se de uma
forma que é considerada excessivamente sexual. Simplificando, é uma tentativa
de impedir que a mulher disfrute da sua liberdade sexual. E ao praticar certos destes comportamentos, é
transformada num alvo a abater, ao objetificar a mulher e os seus
comportamentos, as pessoas acham-se no direito de julgar, criticar, e até
culpabilizar a mulher de forma implacável. No entanto quando se trata de um
homem, a situação é tida de maneira diferente, a sociedade tem para com o homem
e a sua autonomia sexual uma postura muito mais aberta e até vista como
natural, ao contrário da mulher.
O slut-shaming atua de forma a
policiar e restringir a sexualidade feminina e a sua expressão, definindo os
limites do comportamento sexual aceitável. É também utilizado como forma de
culpar a vítima por ter sido violada, declarando que o abuso foi causado (em
parte ou no todo), devido à mulher, por se vestir de determinada forma ou agir
de forma atrevida e imoral, incitando assim “conscientemente”, o abusador a
atuar como atuou, e ilibando a culpa do transgressor. Como se o homem se
tratasse de um simples animal incapaz de se conter ou raciocinar como qualquer
ser humano consegue. É por estes e outros motivos que estes tipos de
comportamentos face à mulher são extremamente perigosos e retrógrados e devem
ser evitados de todo e impedir que continuem a ser vistos como valores
comportamentais “normais”. Recentemente tem começado a haver uma aderência por
parte das mulheres e homens, para contradizer então o slut-shaming, sendo que
apareceram assim as Slut Walk. Basicamente são manifestações a demonstrar o
descontentamento face a este tipo de bullying.
Quanto a mim creio que tanto as mulheres como
os homens, têm todo o direito expressarem-se e serem quem quiserem ser, e
fazê-lo da forma que acharem mais apropriado e do seu gosto, desde que não
prejudiquem ninguém durante esse processo. Seja a vestir-se de uma certa
maneira, ou ter comportamentos tidos como não tradicionais. Todos temos esse
direito, e não deveríamos ter medo ou receio de sermos sujeitos a
discriminações e julgamentos devido a isso.
Deixo aqui alguns vídeos sobre este tema, que
achei serem pertinentes para este post: