terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Akira & Nietzsche


Akira é um filme de animação japonês realizado em 1988. Considerado um marco no que toca à animação japonesa (e se à japonesa, também à mundial), Akira foi um sucesso de bilheteira tanto quando saiu como quando foi relançado em 2001 nos Estados Unidos. De uma forma rápida, o filme relata a história da cidade de NeoTokyo (uma Tóquio reconstruída após ter sido destruída 34 anos antes), o modo como a cidade se tem vindo a desenvolver, e a óbvia luta contra a tentativa da sua segunda destruição. Num universo pós-apocalíptico onde lutas de gangues acontecem com relativa frequência, cabe a um grupo de jovens impedir que Akira renasça e crie a destruição pela segunda vez.
Talvez pela forma como a segunda guerra mundial terminou,e com a onda de destruição que esta espalhou pelo Japão, as criações japonesas, principalmente no ramo da animação, do cinema e da literatura encontram-se quase que de forma embrionária relacionadas com um medo apocalíptico. Esse vinco social gera alguma conversa entre os admiradores do género, mas o que mais me chamou a atenção no filme Akira foi a ligação profunda que ele aparenta estabelecer com algumas linhas do pensamento filosófico ocidental, neste caso, Nietzsche. Acontece que teorias são apenas teorias, e ideias são apenas ideias, por isso, baseado na minha observação do filme, nalgumas obras do filosofo com que tive contacto, e algumas “teorias online” desenvolvidas por outros interessados, tentarei ilustrar os pontos convergentes de coisas que parecem tão distantes de início.
O mais claro e explicito é aquela que é das principais linhas da filosofia nietzschiana, a vontade de poder, sendo que é o poder (no caso do filme, a “força”) o principal gerador de toda a acção do filme, sendo que uma das personagens principais, Tetsuo, é também aquele que mais facilmente se deixa afectar por tal poder, procurando obter sempre mais, até que tal resulta do seu fim.
Por fim, Nietzsche aqui presente é o eterno retorno. Nietzsche apoia que o tempo é circular, e que todo o acontecimento que ocorre ocorre porque tem precedentes, um modelo temporal no qual todo o tempo interage e se afecta e no qual distinções como passado, presente e futuro não fazem sentido, uma vez que tudo é o mesmo. Em Akira encontramo-nos prestes a enfrentar a segunda grande destruição de Tokio, um remake do que aconteceu pela segunda vez, pela mão da mesma “força”. Após essa força se manifestar pela personagem de Akira/Tetsuo, este volta a ser uma criança, dando-se assim a terceira metamorfose. Ao longo do filme, são também as crianças aquelas que conseguem utilizar livremente e mais efectivamente a “força”, em todo o seu espirito lúdico e inocente, tal como Nietzsche refere nas três metamorfoses do espirito em Assim Falou Zarathustra.