segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Frappuccino para Marx

"Ir a um Starbucks é como um ritual compulsivo para algumas pessoas na nossa era pós-moderna?" (MacGrath)
Nesta era pós-moderna, as marcas têm um papel fundamental na cultura de consumo que, espalhadas nas mais diversas plataformas, procuram “seduzir” o sujeito quase como numa forma de afecto. A sociedade de consumo tem vindo a ser cada vez mais fiel a marcas, usando-as para compor a própria identidade do indivíduo e anunciar o próprio ao mundo, desde roupa até à alimentação.
Entre milhares de marcas, destaco a marca Starbucks, pois penso que usa uma abordagem que pode ser aceite dentro da área de cultura visual pela experiência de conteúdo que oferece que resulta de uma combinação visual e textual. Estas "técnicas de branding subtis incentivam um estilo de vida específico para seu mercado-alvo" (MacGrath), desde compreender os nomes Venti ou Frappoccino ao reconhecer o logotipo que de nada está relacionado com café, são como um processo para entrar neste círculo aparentemente exclusivo.
À marca Starbucks associa-se o fenómeno social e psicológico denominado por Marx como Fetichismo da Mercadoria, onde atribui-se a este objecto inanimado um poder sobrenatural e a que se presta culto. Este fenómeno de atribuição de um valor simbólico aos produtos vai resultar numa venda irreal e infundada, como se não fosse fruto do trabalho humano e nem pudesse ser mensurado. Já Barthes mostra que o novo Citroen é criado para consumidores sem qualquer conexão com o produtor. O facto de que a vasta maioria de consumidores da marca Starbucks viver no Norte da América e na Europa, a milhares de km dos campos de café, apenas vai acentuar este fenómeno.
“(…)a forma-mercadoria e a relação de valor dos produtos de trabalho em que ela se expõe não têm absolutamente nada a ver com a natureza física e com ligações próprias de coisas que daí brotam.” (Marx, p.88, 1867)
Também na teoria marxista encontra-se o termo Pseudoindividualização, usado para descrever a maneira que a cultura de consumo cria uma falsa sensação de individualidade em consumidores culturais. Este termo refere-se a um fenómeno já descrevido neste texto e que se revela como toda a base da marca Starbucks. A publicidade da marca aborda o consumidor especificamente como um indivíduo, alegando que o seu produto vai aumentar sua individualidade, enquanto se dirige a várias pessoas ao mesmo tempo.
Todos os dias, milhares de consumidores do mundo bebem várias chávenas de café por dia, no entanto a marca Starbucks não vende aos seus consumidores café, mas sim um estilo de vida. Vende a imagem de um indivíduo cosmopolita, socialmente consciente e culto e é com esta ideia que o consumidor faz uso para construir a imagem de si próprio. A fim de atingir esta imagem, o produto surge de forma independe, necessário para as dietas diárias e dos rituais sociais. Assim, o seu produto aparenta ter uma vontade independente e um valor económico ligado com o que é valorizado socialmente.

Obras
Marx, K. (1867/1990): O Capital: Crítica da Economia Política, vol.1. Moscovo. Lisboa: Progesso, Avante!
Brock, D. & Raby, R. & Thomas, M. (eds.) (2011). “Coffee and Commodity Fetishism”, in Power and Everyday Practices. Toronto: Neilson.

Artigos