Em todos os grupos sociais, existe
uma maioria que dita o que é o suposto correcto. Um acumular de tradições,
vivências, modas, leis, costumes, aparências. No entanto, há sempre uma grande
parte que vive excluída da maioria, que se desvia ao “normal”, seja pela
vontade de se destacar, pelas suas atitudes, etc.
Há também quem não escolha ter um
comportamento desviante; que sob certas condições ou circunstâncias, age na sua
vida de uma forma inconsciente, alheio à preocupação do que será ou não correcto.
A pessoa até pode discordar com as regras ditadas pela sociedade, mas por ter
um comportamento diferente da maioria das pessoas, por quebrar uma certa regra
imposta, acaba por ser quase completamente alienada da sociedade em seu redor. O
seu mundo é diferente, mas não percebe porquê.
É essa a
temática tratada no filme de 2009 “Mary and Max”. Baseado numa história
verídica, o filme trata uma amizade muito única e genuína, embora decorra em
circunstâncias um tanto sinistras e invulgares. Mary é uma menina australiana de
8 anos, filha de um pai desaparecido, e de uma mãe alcoólica. Estes dois factos
já são motivos suficientes para exercer pressão numa criança, mas Mary é ainda
sobrecarregada diariamente com maus tratos por parte de outras crianças. Sendo
uma criança singular, leva uma vida destituída de amizade, o que a leva a pegar
numa edição de páginas amarelas dos Estados Unidos da América e escolher um
nome ao acaso para começar uma troca de correspondência. A pessoa aleatória acaba
por ser Max, um quarentão nova-iorquino que sofre de Síndrome de Asperger1.
Estas duas personagens peculiares unem-se através dos seus interesses comuns,
das suas dúvidas existências (que apesar de ser algo compreensível vindo de uma
criança, também estão presentes neste portador de Asperger), da solidão e do
ponto de vista inocente sobre a vida que partilham.
Ao longo
do filme surgem pequenos episódios de reflectem os problemas que pessoas com
este tipo de perturbação se deparam; como terem noções biológicas irrealistas (eg
Max achava que as crianças nasciam de ovos colocados por rabbis), não
interpretar certas frases para além da sua face literal, ter objectivos de vida
diferentes dos demais, e especialmente bem menos significativos (como conseguir
fazer um amigo que não fosse invisível e comer chocolate).
Por mais
ingénuo que os pensamentos e comportamentos de Max fossem, não eram vistos como
apropriados num homem de quarenta anos, e daí ser vítima de alienação por parte
da restante comunidade. “Mary and Max” obriga-nos então à reflecção; a
questionarmos quem é que aqui é insólito, o estranho - tudo depende do ponto de vista.