segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O bikini e o homem

Escopofilia é tido como o desejo de obter prazer a partir do olhar ou observação.
Um caso onde se pode alcançar com facilidade é o cinema. Por vezes só o olhar é uma fonte de prazer.  Freud tratou a escopofilia “ como um dos instintos componentes da sexualidade que, enquanto pulsões, são independentes das zonas erógenas. A partir de aí a escopofilia é associada com o tomar de pessoas por objectos tornando-as alvo de um observador controlador e curioso.

Em Junho de 2013, um vídeo que vai de encontro a este tema, obteve muitas visualizações na internet. Neste, Jessica Rey fala na evolução do fato-de-banho. A meio da sua apresentação ela refere que a Universidade de Princeton realizou à uns anos, um estudo em vários alunos homens, que consistia na forma de como o cérebro masculino reage perante pessoas com diferentes quantidades de roupa. “Brain scans revealed that when men are shown pictures of scantily clad women, the region of the brain associated with tools, such as screwdrivers and hammers, light up.” Logo, a figura humana aqui exibida é equiparada a um objecto. Os investigadores acharam chocante a forma como o cérebro ‘desligou’ daquela forma. As mentes desses estudantes reagiram às imagens de mulheres em bikini como se elas não fossem completamente humanas. Num estudo feito pela mesma universidade, mas completamente separado deste, perante imagens de mulheres em bikini, os homens regularmente associaram com verbos na primeira pessoa, tais como ‘eu empurro’, ‘eu apanho’, ‘eu seguro’. Quando estes viam imagens de mulheres vestidas modestamente eles associavam com verbos na terceira pessoa, tais como ‘ela empurra’, ‘ela apanha’. A revista Nacional Geographic, que também aborda o tema, ainda acrescenta que os bikinis realmente incentivam os homens a ver as mulheres como objecto, como algo para ser usado em vez de alguém com quem relacionar.

O instinto, tanto no cinema como no caso do bikini, prevalece como uma base erótica para o prazer de olhar para outra pessoa como um objecto. Pode-se também ir ao extremo e fixar-se como perversão, cuja única satisfação sexual vem de olhar outro, no sentido activo do controlo.
O cinema enquadra-se bem neste tema, pois é indiferente à presença dos seus espectadores. O facto da sala ser escura, e do grande brilho vir das figuras na tela, cria uma ilusão no espectador, de entrar num mundo privado, como se não fosse suposto ele ali estar. Este observador é absorvido pelo filme, quase como fazendo parte dele, de modo a satisfazer os seus prazeres sexuais. O espectador tal como no estudo realizado, perante a figura humana também tem o tal desejo de manipular ‘eu empurro’, ‘eu apanho’, é criado o desejo, visto que muitas vezes na mente de muito, o ser humano é transformado num objecto.


http://news.nationalgeographic.com/news/2009/02/090216-bikinis-women-men-objects.html
Mulvey, Laura - "O Prazer Visual e o Cinema Narrativo"