sábado, 28 de dezembro de 2013

Falsa Evolução



As grandes superfícies comerciais fazem parte do quotidiano da maioria dos habitantes das grandes cidades. A possibilidade de acesso a alimentos, vestuário e lazer num só lugar é o maior atractivo destes locais, que recebem diariamente milhares de visitantes. Neles estão presentes por vezes centenas de lojas diferentes, comportando no seu total talvez mesmo milhares de marcas. Mas com tanta variedade dos mesmos objectos, como se sobressaem uns sobre os outros? Que fazem as empresas e fabricantes, para que os seus produtos sejam mais vendidos e não os da concorrência?
É aqui que encontramos a falsa evolução. Os produtos que consumimos têm um  “prazo de validade” cada vez mais curto. Nas roupas, este prazo é ditado através da moda, nos alimentos com a constante alteração dos componentes que os constituem, dizendo tornarem o que comemos mais saudável, nos objectos utilitários com a constante alteração das formas, cores, padrões, nos objectos electrónicos com o constante acréscimo de características que, apesar de pequenas, são pregadas aos ventos como “fazendo toda a diferença” no seu funcionamento total.
No entanto esta falsa evolução a que assistimos hoje não é algo que propriamente “novo”. Podemos olhar como exemplo o primeiro carro da Ford, model T (1908) que cerca de vinte anos após a sua criação (que foi teve um número de vendas enorme), teve que dar o seu lugar de exclusividade na fábrica para outros modelos (sendo o modelo A o primeiros dos que o sucederam) que viriam a estimular um mercado adormecido, e replecto de consumidores que fugiam cada vez mais para a concorrência que se gerava, pois nela era-lhes oferecida variedade. Tal como aconteceu com a Ford à pouco menos de cem anos, também as empresas hoje em dia não têm outra hipótese a não ser actualizar constantemente os seus produtos. Não se pode criar o objecto que as pessoas podem usar todos os dias, mas sim o objecto que, mais cedo ou mais tarde, irão querer substituir por uma versão melhor.
O consumidor da sociedade em que vivemos abraça esta constante actualização dos produtos. Deixa-se enganar, e espera incansavelmente pelas versões melhoradas, mais recentes, mais “bonitas” de coisas que já têm na sua posse. Deixa portanto de consumir o objecto, mas sim as novas características que vêm com ele, os novos gadgets. O produto já não se consegue vender a si mesmo unicamente através das suas funções principais. O produto vende-se com as suas pequenas características que os diferenciam das outras milhares de versões que existem “da mesma coisa”. Não é preciso muito para assistir a este “espectáculo”. Enquanto existem casos em que isto acontece de forma mais discreta, no campo dos objectos electrónicos (computadores, telemóveis, máquinas fotográficas, tablets) este acontecimento é algo tão comum e constante, que se torna alarmante a descartabilidade com que tais objectos, tão dispendiosos são substituídos com tanta facilidade. Porque a verdade é que cada vez mais compramos algo, não com o objectivo de que tenha uma “longa vida” mas apenas que dure, até que a próxima “melhor versão” do nosso agrado esteja à venda.