As grandes superfícies comerciais fazem
parte do quotidiano da maioria dos habitantes das grandes cidades. A possibilidade
de acesso a alimentos, vestuário e lazer num só lugar é o maior atractivo
destes locais, que recebem diariamente milhares de visitantes. Neles estão
presentes por vezes centenas de lojas diferentes, comportando no seu total
talvez mesmo milhares de marcas. Mas com tanta variedade dos mesmos objectos,
como se sobressaem uns sobre os outros? Que fazem as empresas e fabricantes,
para que os seus produtos sejam mais vendidos e não os da concorrência?
É aqui que encontramos a falsa
evolução. Os produtos que consumimos têm um “prazo de validade” cada vez mais curto. Nas
roupas, este prazo é ditado através da moda, nos alimentos com a constante
alteração dos componentes que os constituem, dizendo tornarem o que comemos
mais saudável, nos objectos utilitários com a constante alteração das formas,
cores, padrões, nos objectos electrónicos com o constante acréscimo de características
que, apesar de pequenas, são pregadas aos ventos como “fazendo toda a diferença”
no seu funcionamento total.
No entanto esta falsa evolução a que
assistimos hoje não é algo que propriamente “novo”. Podemos olhar como exemplo
o primeiro carro da Ford, model T (1908) que cerca de vinte anos após a sua
criação (que foi teve um número de vendas enorme), teve que dar o seu lugar de
exclusividade na fábrica para outros modelos (sendo o modelo A o primeiros dos
que o sucederam) que viriam a estimular um mercado adormecido, e replecto de
consumidores que fugiam cada vez mais para a concorrência que se gerava, pois
nela era-lhes oferecida variedade.
Tal como aconteceu com a Ford à pouco menos de cem anos, também as empresas
hoje em dia não têm outra hipótese a não ser actualizar constantemente os seus
produtos. Não se pode criar o objecto que as pessoas podem usar todos os dias,
mas sim o objecto que, mais cedo ou mais tarde, irão querer substituir por uma
versão melhor.
O consumidor da sociedade em que
vivemos abraça esta constante actualização dos produtos. Deixa-se enganar, e
espera incansavelmente pelas versões melhoradas, mais recentes, mais “bonitas”
de coisas que já têm na sua posse. Deixa portanto de consumir o objecto, mas
sim as novas características que vêm com ele, os novos gadgets. O produto já não se consegue vender a si mesmo unicamente
através das suas funções principais. O produto vende-se com as suas pequenas características
que os diferenciam das outras milhares de versões que existem “da mesma coisa”.
Não é preciso muito para assistir a este “espectáculo”. Enquanto existem casos
em que isto acontece de forma mais discreta, no campo dos objectos electrónicos
(computadores, telemóveis, máquinas fotográficas, tablets) este acontecimento é algo tão comum e constante, que se
torna alarmante a descartabilidade com que tais objectos, tão dispendiosos são substituídos
com tanta facilidade. Porque a verdade é que cada vez mais compramos algo, não
com o objectivo de que tenha uma “longa vida” mas apenas que dure, até que a
próxima “melhor versão” do nosso agrado esteja à venda.