Têm sido tecidas muitas considerações ao longo do tempo
acerca do género da personagem principal do jogo Tomb Raider. As proporções
exageradas de Lara Croft, personagem principal do jogo, e a possibilidade que
este dá de jogadores de sexo masculino controlarem uma figura feminina levam alguns
interessados a defender que Tomb Raider é um jogo machista. Por outro lado, o
facto de a personagem representar o poder feminino, fazendo aquilo que aos
olhos da nossa sociedade só os homens são capazes de fazer, suporta as teses de
quem defende que o jogo cumpre ideias feministas.
Recentemente foi lançado um novo jogo da saga, em que se vê
o desejo por parte dos produtores de tirar o suporte às acusações de machismo. Foi feita uma mudança radical na estética da personagem, sendo-lhe conferido um
aspecto mais realista e cumpridor dos bons costumes: As curvas de Lara deixaram de ser
exageradas e a área do corpo coberta com roupa aumentou substancialmente. Estas medidas anularam a questão da objetificação do corpo
da mulher.
Também a nível psicológico se deu uma significativa alteração em
Lara. Esta, que nos jogos anteriores não mostrava sentir qualquer sofrimento e
parecia imbatível, agora parece mais humana, deixando transparecer alguma
fragilidade, especialmente no início do jogo.
Porém, em relação ao facto de se estar efetivamente a
controlar um ser de sexo feminino não houve qualquer alteração – a única
solução para este problema seria trocar Lara Croft por um ser assexuado. A esta última questão, o
produtor executivo de Tomb Raider responde que os jogadores não se sentem na
pele da personagem. Sentem, sim, um dever de a proteger. A meu ver isto sim
pode ser considerado sexista. O jogo mostra uma heroína, uma mulher
independente que consegue sobreviver num ambiente adverso sozinha, unicamente com as suas próprias habilidades. Vendo pelo prisma do Produtor, a mulher passa a ser
frágil, membro de um segundo sexo, que é dependente do outro e que requer
proteção.
Visto que o público-alvo dos videojogos é principalmente
masculino (cerca de 80% dos jogadores), é normal que a personagem,
tendo sido feita por homens e para homens, seja o mais apelativa possível para os mesmos, por interesses económicos.
Mas outro factor importante é o que sentem as mulheres ao jogar na pele de Lara
Croft. Se a maior parte dos jogos apresenta como personagem principal um homem,
permitindo aos jogadores de sexo masculino entrar na personagem, também deve ser levada com naturalidade a existência de jogos
em que a personagem é uma mulher, de modo a que os outros 20% dos jogadores (correspondentes às mulheres) se possam sentir na pele dela, corajosas e fortes.
Em suma, talvez as próprias reflexões sobre a
possibilidade de haver algo de sexista no jogo sejam sexistas, pois não tomam como algo natural a presença do sexo feminino no mundo dos videojogos.