segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Tomb Raider - Machista ou Feminista?

Têm sido tecidas muitas considerações ao longo do tempo acerca do género da personagem principal do jogo Tomb Raider. As proporções exageradas de Lara Croft, personagem principal do jogo, e a possibilidade que este dá de jogadores de sexo masculino controlarem uma figura feminina levam alguns interessados a defender que Tomb Raider é um jogo machista. Por outro lado, o facto de a personagem representar o poder feminino, fazendo aquilo que aos olhos da nossa sociedade só os homens são capazes de fazer, suporta as teses de quem defende que o jogo cumpre ideias feministas.
Recentemente foi lançado um novo jogo da saga, em que se vê o desejo por parte dos produtores de tirar o suporte às acusações de machismo. Foi feita uma mudança radical na estética da personagem, sendo-lhe conferido um aspecto mais realista e cumpridor dos bons costumes: As curvas de Lara deixaram de ser exageradas e a área do corpo coberta com roupa aumentou substancialmente. Estas medidas anularam a questão da objetificação do corpo da mulher.
Também a nível psicológico se deu uma significativa alteração em Lara. Esta, que nos jogos anteriores não mostrava sentir qualquer sofrimento e parecia imbatível, agora parece mais humana, deixando transparecer alguma fragilidade, especialmente no início do jogo.
Porém, em relação ao facto de se estar efetivamente a controlar um ser de sexo feminino não houve qualquer alteração – a única solução para este problema seria trocar Lara Croft por um ser assexuado. A esta última questão, o produtor executivo de Tomb Raider responde que os jogadores não se sentem na pele da personagem. Sentem, sim, um dever de a proteger. A meu ver isto sim pode ser considerado sexista. O jogo mostra uma heroína, uma mulher independente que consegue sobreviver num ambiente adverso sozinha, unicamente com as suas próprias habilidades. Vendo pelo prisma do Produtor, a mulher passa a ser frágil, membro de um segundo sexo, que é dependente do outro e que requer proteção.

Visto que o público-alvo dos videojogos é principalmente masculino (cerca de 80% dos jogadores), é normal que a personagem, tendo sido feita por homens e para homens, seja o mais apelativa possível para os mesmos, por interesses económicos. Mas outro factor importante é o que sentem as mulheres ao jogar na pele de Lara Croft. Se a maior parte dos jogos apresenta como personagem principal um homem, permitindo aos jogadores de sexo masculino entrar na personagem, também deve ser levada com naturalidade a existência de jogos em que a personagem é uma mulher, de modo a que os outros 20% dos jogadores (correspondentes às mulheres) se possam sentir na pele dela, corajosas e fortes.
Em suma, talvez as próprias reflexões sobre a possibilidade de haver algo de sexista no jogo sejam sexistas, pois não tomam como algo natural a presença do sexo feminino no mundo dos videojogos.