sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Feminino vs Masculino

"Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino".[1]
Nunca tinha pensado que de, de facto, nos impõem um sexo. Ou será que não? É verdade que temos uma cultura/educação um bocado “vestimental”, sendo que comentários do género “Ah, se é menina deve vestir cor-de-rosa; se é menino, azul, de certeza”, ou “Não parece uma rapariga, de cabelo curto! Não tem as orelhas furadas!”. Além disto, sabemos que desde sempre a mulher foi estereotipada como a dona de casa, a Mãe, a caçadora de maridos – o seu papel era o de educar, de limpar, de cozinhar, de se dedicar ao casamento e aos filhos, não podendo exercer outra função que não essa. Passados de geração em geração, contrariar estes ideais não lembrava a mulher nenhuma. Só no período posterior à II Grande Guerra é que começaram a questioná-los, depois de provado que também poderiam trabalhar, ser independentes; ocupando o lugar do homem. Manifestaram-se também, através das roupas que vestiam: libertaram-se dos espartilhos que as oprimiam e subiram os vestidos; cortaram os cabelos e passaram a fumar, a beber e a frequentar sítios públicos sem os seus maridos.

Nada disto é novidade. Mas o engraçado é que – tive uma conversa com um amigo, também ele com 20 anos – a maioria, ainda hoje em dia, acha que o maior desejo de uma mulher é casar e ter filhos. Disse-me ele: “As mulheres precisam disso, ainda que inconscientemente. O casamento é o poço seguro. Hás-de reparar que as raparigas todas procuram nos homens o pai ideal: bonito, educado, com um trabalho decente, um carro. Tem de pagar os jantares todos! São mais machistas do que eles.” Fez-me rir, e pensar nisso. Se calhar até é assim. Eu adoro ser mulher, na maior parte dos dias. É mais divertido. Mas sendo eu tipicamente feminina, como anteriormente referido, pois sempre vesti cor-de-rosa e usei acessórios, pintei as unhas, etc, será que isso quer dizer que me influenciaram a fazê-lo? Não sei. Penso que não. Beauvoir diz que não somos biologicamente definidos como feminino ou masculino, mas eu acredito que somos. Tanto que, por exemplo, grande parte da comunidade transexual (não querendo generalizar) diz que sempre se sentiu aprisionada no corpo errado.

Para terminar, é necessário pensarmos que tanto homem como mulher são importantes. Não vou na conversa do “somos iguais” porque na verdade não somos. E não faz mal. Acredito na igualdade de género no trabalho, na educação dos filhos. Mas uma mulher nunca substituirá um homem, nem vice-versa. É por isso que existem os dois sexos; para se complementarem. Para Beauvoir, os dois sexos são vítimas ao mesmo tempo do outro e de si. Propõe a libertação tanto da mulher como do homem, afirmando que será mais fácil encontrar um acordo. Hoje acho que, pelo menos enquanto sociedade ocidental, estamos mais perto disso.






[1] pág.9, BEAUVOIR, Simone de, O segundo Sexo. A experiência vivida, 1967, disponível em  http://brasil.indymedia.org/media/2008/01//409680.pdf