domingo, 29 de dezembro de 2013

Faz hoje um mês

Há uns dias caiu um avião da companhia LAM. Ia de Maputo para Luanda, mas caiu na Namíbia. Lá dentro ia o meu tio B. Consciencializar que nunca mais o vou poder abraçar ou rir-me com ele é impossível. Quando soube a notícia foi estranho, disse-me por telemóvel a filha dele, a maior amiga que tenho. Estava eu em Londres a sentir-me impotente por não conseguir dar algum apoio, algum conforto.

Nunca via o meu tio, estava sempre em viagem. Há 10 anos e picos que estava constantemente fora do país em trabalho. Aqui há uns dias foram analisadas as caixas negras do avião, nas quais foram descobertos, registos intencionais pela parte do piloto. Trancou o cockpit, não deixou o copiloto entrar, pôs o avião em piloto automático e deixou-o ir. Ou melhor cair.


Curioso o nome deste blogue. Todos os dias oiço estas duas palavras, por más razões, o que me tira a vontade de vir aqui escrever. Só para terem a noção, antes desta publicação estava a escrever sobre presentes de Natal.


Esse piloto, esse homem é um ladrão, ou melhor era. Com que direito esse piloto roubou as vidas dos passageiros?


Tenho saudades do meu tio.


Não me sai da cabeça a imagem do avião em queda e o meu tio lá dentro. Era um homem bom. Fez muito por África e em África. Era um santo, às vezes dou por mim a olhar para a palanca em pau preto que o meu tio deu à minha mãe quando fez 50 anos. Lembro-me dos Verões, lembro-me das palhaçadas, das histórias, da voz rouca, da figura importante e imponente que ele era. Diria quase reconfortante. Estar ao lado dele, o que acontecia uma vez por ano se tanto, acalmava-me.

Só gostava de o ver mais uma vez, só gostava que a Francisca, filha dele, não sofresse como está a sofrer. E tudo por causa de um piloto que, provavelmente, se queria matar.  Foi um desabafo. Precisava de o ter. Agora tenho que ir para a missa do trigésimo dia da morte deste Homem de quem falo.