segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

 A ideologia e o símbolo


     Todos os dias, desde o início até ao final do dia, somos bombardeados com escolhas. Estas referem-se tanto ao que se come, como ao que se deve vestir, pensar ou agir. Somos condicionados desde a mais tenra idade a optar pelo que é socialmente aceite, e assim crescemos e consumimos, a pensar que as nossas opções e atitudes traduzem a nossa vontade e as nossas necessidades. Pura ilusão. As ciências que se dedicam ao estudo do comportamento humano, fornecem à classe económica dominante apuradas técnicas destinadas a condicionar todas as nossas escolhas. E, se a publicidade é, talvez, o exemplo mais flagrante, também o cinema, a arte, a música e a literatura traduzem os interesses desta classe.
     Qualquer movimento que a confronte acaba, na maioria dos casos, incorporado e vendido por ela. Por exemplo, a indumentária descuidada e irreverente que constitui a moda masculina dos dias de hoje, caracterizada pelas calças largas que se seguram milagrosamente no fundo das nádegas, teve origem nas prisões americanas, e rapidamente se espalhou para as comunidades negras da América. Hoje em dia estas calças são fabricadas e vendidas em larga escala, e são usadas por milhões de rapazes que as utilizam porque é moda. O que começou como um protesto acabou por se tornar um golpe de marketing.
     Assim, o que prevalece é o símbolo, e não o conteúdo ou a ideologia.
     Ainda hoje, quando as mulheres se passeiam equilibradas em sapatos de saltos vertiginosos, conscientes da sua sensualidade, terão noção de que se limitam a aceitar e a perpetuar a dominância do poder patriarcal? Embora os movimentos para a emancipação das mulheres tivesse começado mais cedo, é a partir da 2ª Guerra Mundial que estas começam a traçar, inexoravelmente, o seu caminho para a igualdade. Actualmente, na sociedade ocidental, milhões de mulheres frequentam ou já concluíram estudos superiores com resultados tão bons ou melhores do que os dos homens. No entanto, estes continuam a ter um acesso mais facilitado aos lugares de topo e, de um modo geral, melhor remuneração. Enquanto isso for uma realidade, a mulher continuará sob o domínio do poder masculino, independentemente do tamanho dos saltos.