Para Benjamim, na arte pré-moderna as obras possuíam um caráter
aurático uma vez que procuravam atender
aos rituais religiosos .Para o autor , uma obra pré-moderna era caracterizada como sendo única, singular e relacionada com o seu contexto histórico e
temporal.
No entanto, pensando na
reprodutibilidade técnica da arte na época moderna, parece que
contribuiu de algum modo para que a
arte perdesse esse caráter de singularidade e de unicidade de outrora. A arte
contemporânea, ao longo dos anos ,
desprendeu-se cada vez mais do
conceito tradicional de arte. Este fato, não é visto por Benjamin como algo
"nocivo", como tal
defendia que a obra ficasse mais
próxima das massas, como era o desejo dos surrealistas, segundo Benjamin:
Cada dia fica mais irresistível a necessidade de
possuir o objeto, de tão perto quanto possível, na imagem, ou antes, na sua
cópia, na sua produção (…) Retirar o objeto do seu invólucro, destruir sua
aura, é a característica de uma forma de percepção cuja capacidade de captar o
“semelhante no mundo” é tão aguda, que graças à reprodução ela consegue
captá-lo até no momento único.
(BENJAMIM,1994, p170)
Deste modo Benjamim defendia que
a reprodutibilidade técnica nega
a aura artística e que o próprio significado da
da arte se modifica como também a sua função, deixando de fundar-se no ritual e passando a ter uma
função política, uma vez que passou a
permitiro acesso aos bens culturais a um
maior numéro de pesoas e
possibilitou deste modo a
democratização da informação. Benjamin no ensaio" A obra de arte na era
de sua reprodutibilidade técnica" , análisou com especial atenção o
cinema ,observando algumas vantagens de
caráter político na utilização de uma arte baseada na reprodutibilidade. O autor fez uma
comparação entre o papel do cinegrafista com o do pintor. Afirma que o
cinegrafista penetra profundamente na realidade comparando com o cirurgião que intervém no corpo do paciente, enquanto o
pintor mantém certa distância.Ou seja, para ele o cinema tem maior potencialidades em desvendara realidade do que a pintura.
Na minha opinião, o que fundamenta tamém esta afirmação e o fato do cinema ter como "matéria" a própria
realidade, enquanto a pintura tem
basicamante, como matéria a imaginação
do artista. Mas também , pensando melhor em relação ao cinema -o filme também
pode dedicar-se a manipulação do real.
Assim, a descrição cinematográfica
da realidade é para o homem moderno infinitamente mais significativa que a
pictórica, porque ela lhe oferece o que temos o direito de exigir da arte: um
aspecto da realidade livre de qualquer manipulação pelos aparelhos,
precisamente graças ao procedimento de penetrar, com os aparelhos, no âmago da
realidade.(BENJAMIM,1994, p187)
Um outra obsevação do autor a
respeito da comparação entre o cinema e a pintura foi: numa exposição ,por
exemplo, existe uma separação entre aquele que observa a
pintura e o especialista que faz a
crítica da obra, enquanto que no cinema,
segundo Benjamin, isso não acontece devido ao a sua manifestação coletiva onde
as as reações dos cinéfilos se autocondicionam, no momento em que comentam em conjunto aquela recepção coletiva. Mas qual sera o potencial crítico do filme em
penetrar a realidade?
A
câmara foi o instrumento que serviu para manifestar o meio social ,
deste modo o cinema abriu novas possibilidades estéticas e novas análises da realidade através dos grandes
planos, da câmera lenta que
possibilitaram a observação de detalhes e outros ângulos de um modo
coletivo que na reaidade nunca se pensava poder ver. O espaço em que o ser
humano agia conscientemente foi substituído por outro em que a sua ação é inconsciente.
O gesto de pegar um isqueiro ou uma colher nos é aproximadamente
familiar, mas nada sabemos sobre o que se passa verdadeiramente entre a mão e o
metal (…) Aqui intervém a câmara com seus inúmeros recursos auxiliares, suas
imersões e emersões, suas interrupções e seus isolamentos, suas extensões e sua
miniaturizações. Ela nos abre pela primeira vez, a experiência do incosciente
ótico, do mesmo modo que a psicanálise nos abre a experiência do inconsciente
pulsional. (BENJAMIM,1994 p189).
O autor afirma que o cinema possui
o poder de registrar os estereótipos individuais, realizando um
papel semelhante ao realizado pela psicanálise- o filme transforma o espectador
num ser que sofre de psicose, alucinações ouna perspetiva de um sonhador. Deste
modo , Benjamin conclui que o filme é
capaz até mesmo de representar os estereótipos sociais- por exemplo: um filme
de ficção ou de caráter documental, é formado em grande parte por concepções
coletivas, que em certo sentido constituem o inconsciente coletivo.O
público-massa, sem se aperceber , é “envolvido pelo ritmo de suas vagas”
(BENJAMIM, p.191).Ao envolver o público no seu ritmo o filme coloca-o diante de novas questões as
quais mesmo distraído consegue responder.
Penso que o autor tentou perceber e
apontar as caracteristicas de uma nova
arte baseada nas técnicas industiais de
produção. Para ele o instrumento técnico - a camara -era capaz de devolver ao
homem a dimensão mítica e onírica da arte,que sempre existiu na antiguidade.O
autor deixa a sensção de que pretende
extrair dessa nova arte que se baseia no sonho e no inconsciente coletivo a
libertação do homem em relação aos seus condicionamentos sociais e á opressão
do capital .Pois, segundo o raciocínio de Benjamin qualquer proposta
revolucionária passa pelo nível do inconsciente- o sonho representa desejos, o
“desejo verdadeiro (latente) pode ser quase invisível, em um nível manifesto, e
só pode ter acesso a ele através da interpretação do sonho” (BUCK-MORSS,
337) Deste modo, coclui-se
segundo o raciocínio de Benjamim, as inovações tecnológicas e estéticas
são suficientes para dar origem a uma arte revolucionária.
Walter Benjamin demonstrou com a sua análise que os novos recursos poderiam sim ampliar a
expressão artística, originar novas
linguagens e como tal e novas funções da
arte e, atualizando o conceito de arte na contemporaneidade.