terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Discriminação e problemas sociais com base em "Adorno, Horkheimer, indústria cultural"


Cada vez mais é notável um aumento da discriminação nas faixas etárias mais jovens. Numa altura em que os jovens são mais vulneráveis, na fase da adolescência, começam a surgir certas discrepâncias nas suas atitudes e nos valores. Numa altura em que os jovens deviam começar a ganhar mais responsabilidade, estes certas vezes começam por excluir os outros e a formarem grupos com base na aparência e nas posses. Deixam assim de se preocupar com o desenvolvimento intelectual dando apenas valor a coisas banais como as marcas de roupa e o gadgets adquiridos. Muitos destes adolescentes começam a ganhar maus vícios apenas para se integrarem em grupos de jovens que têm as mesmas atitudes, dando assim um mau começo à sua vida adulto e de responsabilidade. Também é bastante notável as horas dedicadas à televisão e às redes sociais, fazendo os jovens crescer numa sociedade sem cultura e com um desenvolvimento muito precário.

Alienação

O conceito de alienação, segundo Karl Marx, nos Manuscritos Económico-Filosóficos de 1844, 
demonstra em parte a actividade productiva, no acto de produção. Deste modo, a essência do 
trabalhador não é o trabalho mas aquilo que lhe é exterior. A sua energia torna-se negativa, não se 
desenvolve com o intuito livre mas sim de modo a arruinar o seu espírito. Consequentemente o 
trabalho é visto como uma obrigação, deixa de ser a satisfação de uma necessidade e passa a ser um 
meio de sacrifício para satisfazer as necessidades exteriores a ele. Toda a sua vida roda à volta 
do trabalho para satisfazer as necessidades exteriores e materiais enquanto se deveria focar em 
satisfazer as suas necessidades interiores e espirituais. Deste modo o sujeito iria viver uma vida 
mais pura e feliz consigo mesmo. 

“Considerámos o acto de alienação da actividade prática humana, o trabalho, segundo dois 
aspectos: 1) A relação do trabalhador ao produto do trabalho como a um objecto estranho que o 
domina. Tal relação é ao mesmo tempo a relação ao mundo externo sensível, aos objectos 
naturais, como a um mundo estranho e hostil;” 

Heidemarie Schwermer vivia confortavelmente. Tinha dois carros estacionados à porta, um 
emprego enquanto professora, outro como psicóloga. Dois filhos criados, a vida perfeita para muitos. 
Mas não para esta alemã: concluiu que “vivia dominada pelo ter e não pelo ser”. E renunciou a 
tudo. Aos 53 anos, vendeu os carros, o apartamento e encerrou as suas contas bancárias. 
dinheiro foi distribuído pelos filhos e por aqueles que considerou necessitados. Deu os móveis, os 
objectos pessoais e as roupas aos amigos e aos vizinhos. Desfez-se dos seus bens materiais. 
Em 17 anos de vida sem casa, sem emprego, sem dinheiro, não teve o que comer durante um 
dia e meio e dormiu algumas noites no Centro Cultural Wissenschaftsladen de Dortmund, que 
nunca lhe fechou as portas. A experiência tem, em suma, corrido bem, sustentada pela filosofia 
de “troca por troca”. Heidemarie troca roupas, noites, refeições em casa de amigos por serviços 
como tomar conta dos filhos, cozinhar ou passear os cães. Ou, simplesmente, usufrui da 
generosidade alheia. O modo de vida é admirado pelos filhos, amigos e pelos que questionam a 
economia actual, mas ao mesmo tempo criticada por aqueles que consideram a sua escolha 
“conveniente”.


O modo de vida escolhido por Heidemarie, foge a toda a ideia de materialismo incutida na nossa 
sociedade. Enquanto que uns trabalham para satisfazer as suas necessidades fúteis, a alemã realiza 
tarefas em troca de satisfazer as suas necessidades mais báscias, dormir, comer e beber.

Medo de arriscar

Agora que chegámos ao fim do ano pomo-nos a pensar no que poderíamos ter feito, no que planeámos (finalmente) fazer há trezentos e sessenta e cinco dias atrás mas que pelos vistos adiámos para o ano seguinte. O que é que realmente nos impede de tentar? Porque é que não arriscamos? Porque é que não lutamos pelo que queremos?

Temos medo. Receamos falhar em frente a uma plateia que não hesitará em apontar o dedo. Não queremos tropeçar num degrau porque toda a gente se vai começar a rir. Vão gozar. Vão julgar. Consequentemente não subimos as escadas. Contentamo-nos em ficar no chão. 
"- Tenho medo do chão
- Queres dizer alturas.
(...) 
- Eu sei o que quero dizer! O que nos mata é o chão!" 
 Terry Pratchett

Somos aquilo por que lutamos. Nos tempos de hoje ainda mais. A atitude derrotista não nos leva a lado nenhum. Se queres, vai e arrisca. Chega de andar às voltas! De nos contentarmos com pouco. Basta de usarmos a expressão “é melhor que nada”!
Queres aprender a desenhar? Treina. Pratica até não conseguires mais. Queres sair de casa? Arranja um emprego. Arranja dois. É riqueza que ambicionas? Estuda, tira um curso, vai a entrevistas de trabalho. Adoravas ser um actor de renome? Estuda, pratica e procura castings a que possas ir. Gostavas de mudar de país? Tens mais de quarenta países na Europa por onde escolher. Claro que convém aprender a língua, claro que tens que arranjar onde ficar e emprego que te permita ganhar dinheiro. Mas só tu podes fazer com que estes desejos se tornem realidade.
Não queiras ter cinquenta anos e estar estendido no sofá a imaginar o que poderias ter conquistado na vida. O rumo diferente que poderias ter seguido. Troca os arrependimentos pelo sentimento de concretização. Vida só temos uma. Cabe-nos a nós, e só a nós, ser a personagem principal desta história. Não queiras ser o figurante.


Não te esqueças que és tu quem te impede de ser bem-sucedido. Luta. Faz. Sonha. Arrisca!

The greatest mistake you can make in life is to be continually fearing you will make one. (Elbert Hubbard)

Bunker

A semana passada estive na Suiça e reparei que existem casas que incorporam anexos inferiores, os quais se designam de "Bunkers". Contaram-me que os primeiros surgiram na América por ser um país eminente a guerras e a conflitos sociais. Mais tarde, perante catástrofes completamente demolidoras construíram-se outros pela a Europa, e a Suiça é actualmente o único país do mundo com abrigos nucleares, capazes de acomodar toda a população, caso um dia isso seja necessário.
Interroguei-me com a quantidade de comida e de objectos de sobrevivência estavam lá dentro. 
A porta blindada, o dobro da largura de qualquer outra porta.  

Após se iniciarem os movimentos Sobrevivencialismo na América na década de 60, a Suiça adoptou leis específicas de sobrevivência por receio a ataques nucleares e pelo fantasma de uma invasão soviética. Ainda assim, existem túneis, como o de Sonnenberg em Lucern, capaz de abrigar 20.000 pessoas. 

E agora pergunto, como é que é possível a Suiça ser dos únicos países, da Europa, que melhores condições de segurança oferece á população?  Se alguma catástrofe ocorre serão eles a salvação?
Até que ponto eles nos conseguiram auxiliar ?
Numa sociedade capitalista e industrial, e sendo um país independente de reconhecível estabilidade económica face aos restantes países inseridos na União Europa, não deviam cair no comodismo e orgulho de grandes feitos, de certo logicamente bem estruturados, mas sob uma falsa identidade universal.

O poder absoluto do capital, mostra como é possível um país pequeno poder ser da mesma forma um país industrialmente tão grande !

Akira & Nietzsche


Akira é um filme de animação japonês realizado em 1988. Considerado um marco no que toca à animação japonesa (e se à japonesa, também à mundial), Akira foi um sucesso de bilheteira tanto quando saiu como quando foi relançado em 2001 nos Estados Unidos. De uma forma rápida, o filme relata a história da cidade de NeoTokyo (uma Tóquio reconstruída após ter sido destruída 34 anos antes), o modo como a cidade se tem vindo a desenvolver, e a óbvia luta contra a tentativa da sua segunda destruição. Num universo pós-apocalíptico onde lutas de gangues acontecem com relativa frequência, cabe a um grupo de jovens impedir que Akira renasça e crie a destruição pela segunda vez.
Talvez pela forma como a segunda guerra mundial terminou,e com a onda de destruição que esta espalhou pelo Japão, as criações japonesas, principalmente no ramo da animação, do cinema e da literatura encontram-se quase que de forma embrionária relacionadas com um medo apocalíptico. Esse vinco social gera alguma conversa entre os admiradores do género, mas o que mais me chamou a atenção no filme Akira foi a ligação profunda que ele aparenta estabelecer com algumas linhas do pensamento filosófico ocidental, neste caso, Nietzsche. Acontece que teorias são apenas teorias, e ideias são apenas ideias, por isso, baseado na minha observação do filme, nalgumas obras do filosofo com que tive contacto, e algumas “teorias online” desenvolvidas por outros interessados, tentarei ilustrar os pontos convergentes de coisas que parecem tão distantes de início.
O mais claro e explicito é aquela que é das principais linhas da filosofia nietzschiana, a vontade de poder, sendo que é o poder (no caso do filme, a “força”) o principal gerador de toda a acção do filme, sendo que uma das personagens principais, Tetsuo, é também aquele que mais facilmente se deixa afectar por tal poder, procurando obter sempre mais, até que tal resulta do seu fim.
Por fim, Nietzsche aqui presente é o eterno retorno. Nietzsche apoia que o tempo é circular, e que todo o acontecimento que ocorre ocorre porque tem precedentes, um modelo temporal no qual todo o tempo interage e se afecta e no qual distinções como passado, presente e futuro não fazem sentido, uma vez que tudo é o mesmo. Em Akira encontramo-nos prestes a enfrentar a segunda grande destruição de Tokio, um remake do que aconteceu pela segunda vez, pela mão da mesma “força”. Após essa força se manifestar pela personagem de Akira/Tetsuo, este volta a ser uma criança, dando-se assim a terceira metamorfose. Ao longo do filme, são também as crianças aquelas que conseguem utilizar livremente e mais efectivamente a “força”, em todo o seu espirito lúdico e inocente, tal como Nietzsche refere nas três metamorfoses do espirito em Assim Falou Zarathustra.

Romances e afins

É raro encontrar uma bela historia de amor que não emocione o público. Um filme bem feito é isso, não quer dizer que o seu conteúdo seja por si só de muito interesse, mas se conseguir prender a atenção do espectador, já foi bem conseguido. 
Prende a atenção na medida em que este se revê como protagonista da hitória, da cena, do romance, sendo que cada vez mais o homem enquanto espectador , idealiza o seu domínio nas cenas representadas, naquelas que foram inicialmente desenhadas a medida da mulher, é ela que é protagonista, é ela aquela que todas sonham ser, estar na pele dela, encontrar-se na mesma situação em relação ao homem. É neste sentido que o cinema que antes era feito tendo como ícone a mulher, cultivando o prazer erótico produzido, revelando-a como objecto a observar, se remete agora também no homem, e no seu papel sedutor para com o público feminino.
Nos conhecidos filmes românticos, nas grandes histórias de amor vividas atrás das câmaras, são refletidos os desejos secretos daquele que é o publico alvo. O homem é explorado, como perfeito, ideal, gerando cenas de igualmente prazer ao publico feminino e ao masculino. 
"O instinto escopofílico (prazer em olhar para outra pessoa enquanto objecto erótico) e, em oposição, a líbido do ego (formando processos de identificação) actuam como formações, mecanismos, com os quais este tipo de cinema tem agido.", L.Mulvey, Visual Plesure and Narrative Cinema
Assim neste filme deparamo-nos com a correcta utilização das camaras e das montagens, da correcta realização, como produtores da ilusão de espaço e de tempo, transpondo a audienciência para lá da sala de cinema, incorporando-a e encaminhando-a para dentro do ecrã. O cinema atua a título construtivo de ideologias, vive disse e para isso, cria ilusões e apropria-se das representações fetichistas dos corpos e dos desejos neles expressos.
O olhar é a sua definição, a sua idealização, e, como Laura Mulvey refere, é através dele que se criam os egos, que se descobrem os corpos, e também as faltas e necessidades neles implícitas.
Os romances trazem à superfície os desejos mais íntimos de cada índividuo, na medida em que expoe situações que socialmente são as idealizadas e que vivem da metáfora do perfeito ideológico da comunidade em que se encontram inseridas.


ref: Laura Mulvey, Visual Plesure and Narrative Cinema

O Erro dos Media

A função educativa dos media tem vindo a aumentar consideravelmente no ultimo século. A era da comunicação chegou, e somos todos vitímas e beneficiarios desta. O grande problema desta é sem dúvida o efeito endoutrinador que pode ter em qualquer um, e que pode ser, por vezes, moralmente incorrecto. A mentalidade de um povo é moldada pela informação que recebe, o que pode ser muito perigoso. Esta é então a responsável mais importante por vários conceitos racistas e sexistas da sociedade. Numerosos são os anúncios na história da publicidade que estéreotipam pessoas, quer pela sua posição social, sexo ou cor. Nos anos 50, observavam-se inúmeros produtos cujas publicidades ilustravam mulheres cuja única função era servir o seu homem e tratar de sua casa, e o negro como empregado do branco, um fantoche engraçado e ingénuo. Qualquer que fosse o produto, remetia ao mesmo: a superioridade e poder do homem branco, uma vez que era este o comprador. No entanto, estes conceitos discriminatórios não se encontravam somente nos anúncios, mas eram ilustrados igualmente em artigos de jornais, comentários na rádio e programas de televisão. Roland Barthes refere esta problemática num comentário sobre um artigo da revista francesa Match chamada “Bichon Entre Os Pretos”. Neste artigo contou-se a história de dois franceses que levaram consigo o seu filho de 4 anos, Bichon, numa excursão ao ‘país dos Canibais’. Aqui, esta civilização diferente é ilustrada pelo olhar inocente da criança, que consegue uma aceitação entusiasta por parte dos assustadores comedores de homens. Desde já, o negro equivale ao desconhecido e ao perigo, é um ‘objecto bizarro”. Este é rejeitado pelo branco burguês por representar uma realidade diferente da sua, que o assusta, a não ser que este seja domesticado consoante as leis brancas, que ele considera irrefutáveis. Hoje em dia, cada vez são mais raras estas demonstrações racistas nos media, pelo menos de forma tão visível. Houve uma evolução na mentalidade do europeu, mas persiste ainda muito esta sua ideia de que o mundo deveria ser estruturado consoante o ideal deste. A internet permite a qualquer um fazer parte das discussões dos media, tendo um papel activo na recepção de informação. No entanto, nunca deixará de ser importante ao emissor de uma mensagem ter cuidado com a informação que transmite, podendo esta assumir aspectos insultuosos ou errados; e o receptor desta, por sua vez, tem de ser extremamente crítico na sua recepção.
“A ciência anda depressa e a direito; mas as representações colectivas não a seguem, têm vários séculos de atraso, são mantidas em estagnação pelo erro pelo poder, a grande imprensa e os valores de ordem.” - Roland Barthes




Não é raro encontrar um destes filmes a passar na televisão de sábado à tarde: aqui o homem é o protagonista, que lidera a acção acompanhado de outros homens com quem vai discutindo os eventos da sua vida. É comum também que nele existam papéis desempenhados por actrizes. No entanto, a norma é que estes papéis apoiem apenas o papel masculino, servindo de mera «muleta» ao seu retrato e às suas vivências. Os «rapazes» fazem um churrasco - e que fariam eles senão um churrasco, ou outra actividade que, numa visão distorcida, prejudicial e também ela injusta confirmasse a sua masculinidade perante os espectadores? Enquanto isso, no pequeno tempo de antena que lhes é permitido, as suas mulheres são vistas a conversar sobre assuntos fúteis, enquanto assistem ao espectáculo de "homens a serem homens". 

Face a alguns destes filmes, e não tendo outros parâmetros pelos quais se guiar, uma pessoa ingénua e impressionável poderia pensar que a mulher não passa de um acessório à existência do homem - alguém que o procura conquistar, deslocando-se prontamente e voluntariamente para um plano secundário no qual permanece atraente, desinteressante, e nunca demasiado incómoda. É claro que aqui se fala dos produtos de Hollywood - no circuito alternativo a realidade é outra, e não se verifica tão marcadamente esta tendência. 

Laura Mulvey diz que "o prazer do olhar foi fracturado entre activo / masculino e passivo / feminino", resultado de uma sociedade de desigualdades entre sexos (Mulvey, 1975). Exemplos desta noção são claramente os produtos de Hollywood. Numa entrevista ao The New Yorker (Friend, 2011), a actriz de comédia Anna Faris revela o sexismo que sente existir na indústria cinematográfica. Através das observações que faz desta indústria, Faris transmite mensagens importantes acerca do papel da mulher no cinema actual. Embora o artigo mencionado fale sobre uma indústria e não sobre a sociedade em si, e a indústria cinematográfica parecer desempenhar um papel que é ao mesmo tempo poderoso e trivial, o artigo revela aspectos impressionantes sobre a forma sexista como a mulher é tratada, mencionada e desempenhada enquanto papel. Faris menciona que uma argumentista bem sucedida diz: 

"Tens de a arrasar no começo. É algo consciente que faço - abuso-a e destroço-a, dispo-a da sua dignidade, e depois ela consegue viver as nossas fantasias e divertir-se. É tão simples como fazer a rapariga chorar aos quinze minutos do filme. A habilidade de nos relacionarmos com ela baseia-se na vulnerabilidade, que cria empatia."

Se seria já perturbador ter sido um homem o autor das frases anteriores, o quão doentio é elas terem sido ditas por uma mulher? Neste cenário, é mostrado que a personagem feminina não pode ter poder ou confiança em si mesma sem que seja destroçada - para relembrar aos espectadores que é humilde e conhece o seu lugar enquanto mulher. Para além disso, existe a ideia de que uma mulher só poderá inspirar empatia a partir do momento em que o seu humor e comportamento agradem aos outros. É assim que se torna normal, enquanto mulher, a crítica a si própria - quer a um nível físico quer a um nível intelectual. Uma mulher que valorize publicamente a sua imagem ou intelecto - ou se glorifique de qualquer forma - é vista como alguém pouco modesto e, a um último nível, alguém que não provoca qualquer empatia. Essa valorização deve então, sem excepção, vir do exterior. A aprovação do outro torna-se fundamental para que ela se aprove a si mesma, já que parece impensável e de todo correcto ou aceitável que ela se aceite a si mesma e possua confiança nas suas habilidades. Essas características devem estar, claro, reservadas ao homem.

De volta ao universo cinematográfico, tomei conhecimento da existência de um teste que pretende examinar filmes de acordo com o sexismo nele presente. O Bechdel Test foi criado em 1985 por Alison Bechdel e Liz Wallace, e é composto por três perguntas: O filme contém duas ou mais personagens femininas que têm nomes? Estas personagens falam entre si? E, se for esse o caso, falam sobre algo que não seja um homem? Será um boa ideia, em forma de resolução para o novo ano, certificar-me de que vejo apenas filmes que passem neste teste; numa sociedade já sexista, é certo que não precisamos de uma indústria cinematográfica que vinca e mantém vivas estas noções.



Referências:
  • Friend, T.  (2011), Annals of Comedy 'Funny Like a Guy' The New Yorker, 11 de Abril, p. 52.
  • Mulvey, L. (1975) "Visual Pleasure and Narrative Cinema" Screen, vol. 16 (Autumn), p. 16. Tradução de João Paulo Queiroz. Acedido em 2013-12-26. Disponível em URL: <http://textos.ueuo.com/mulvey.pdf>



segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Fátima, Futebol e Fado

Os 3 F's! Os pilares do regime Salazarista, como muitos resumiam visto que o Estado Novo fomentava o milagre de Fátima, o Fado e o Futebol, para tentar desviar as atenções do povo para o subdesenvolvimento do País. 
Então desde o 25 de Abril o que mudou? Bem Fátima continua com o mesmo fervor, onde todos os anos milhões de pessoas visitam. E economicamente está mais robusto com os investimentos efetuados nas infraestruturas, tornando-o num importante centro de turismo religioso.
Em relação ao Futebol, esse vai de vento em popa. Desde a seleção nacional que vai dando alegrias, com o apuramento para o Mundial do Brasil; pelos salários absurdos que os jogadores de futebol recebem; as telenovelas semanais que vão dando muito que falar, desde lances polémicos a "bocas" que dirigentes dos clubes vão lançando entre si. Este de facto é um grande fenomeno cultural que dá muito que falar e entretem as massas, e está a tornar-se cada vez mais um espetáculo e que envolve milhões! Mas se por um lado temos a alegria que dá, também podemos falar da que não dá! Os investimentos que são feitos para este espetáculo valem a pena os "não investimentos" na satisfação das necessidades das populações? Tão e na cultura? Na ciência?
Por fim temos o Fado. Sinceramente não sou um grande fã deste estilo musical melancolico, mas acho que já viu melhores dias devido a sua queda de popularidade após o 25 de Abril (devido à sua associação com o regime), apesar de estar novamente a ganhar força, principalmente quando em 2011 foi considerado Património da Humanidade. Actualmente temos nomes como Mariza, Ana Moura (entre outros), mas que não têm um nome tão forte como o da Amália (com a sua inovação músical), isto porque o fado estava a tornar-se de tal forma popular que o regime decidiu associar-se a este fenómeno e incluí-lo no repercutório oficial nacional, tornando a Amália num simbolo do regime fazendo dela um icon internacional.

Tão e o que mudou? Tanto investimento feito, principalmente com o futebol...e as pessoas e as suas necessidades?
 






A Mulher uma Estrela Ofuscada

 No seu artigo Visual Pleasure and Narrative Cinema, de 1975, Laura Mulvey afirma que o cinema narrativo clássico de Hollywood expõe as desigualdades entre géneros, inegáveis na sociedade patriarcal, assumindo que este cinema foi concretizado a pensar no espectador masculino heterossexual, em detrimento do feminino.

Mulvey critica este cinema porque expõe a mulher como mero objeto erótico para satisfação do olhar masculino. As diferenças entre as personagens femininas e masculinas, revelam esta mesma ideia de que a mulher, no cinema clássico, serviu para ser olhada e exibida. Segundo Mulvey, as personagens femininas e masculinas no cinema narrativo clássico são profundamente distintas. Enquanto as personagens masculinas são ativas e são a chave do desenvolvimento da ação, as personagens femininas são passivas, paralisando o fluxo da acção de forma a originar momentos de contemplação erótica por  parte do olhar masculino. Este olhar, ao qual Mulvey designa por  male gaze , tanto se refere às personagens masculinas do filme como ao espectador masculino heterossexual.
Pelo contrário, a mulher no cinema, ao revelar-se passiva e utilizada como forma de proporcionar prazer visual ao homem, assume-se como um meio, ela é a representante do desejo masculino.

Os close-ups das estrelas femininas e os números musicais executados pela mulher no cinema são exemplos claros de cenas e situações que permitem que este olhar masculino possa contemplar a beleza e sensualidade da atriz. Como é exemplo a atriz Grace Kelly, que aparece pela primeira vez no filme Rear Window (Alfred Hitchcock, 1954). Esta aparece em close up , aproximando-se de James Stewart e acordando-o com um beijo. Também os números musicais interpretados por Rita Hayworth em Gilda (Charles Vidor, 1946) permitem que a sensualidade da atriz seja contemplada e admirada por este male gaze

As personagens femininas são quase tratadas como “imagens” que servem para ser admiradas pelos personagens e os espectadores masculinos. Mulvey, no seu artigo aqui estudado, considera que os números musicais executados pelas personagens femininas consistem em exemplos claros de cenas em que o fluxo da ação é interrompido para que o olhar  masculino possa contemplar a performance da actriz. Neste sentido, Mulvey considera que, num mundo sexualmente desequilibrado, o prazer de olhar está dividido entre ativo/masculino e passivo/feminino: o homem, sendo o portador do olhar, vê a mulher; e esta, sendo a “imagem” passiva, é vista pelo olhar ativo do homem. 

 Muitas vezes são feitos inúmeros close-ups ao rosto e busto da actriz Rita Hayworth. O seu voluptuoso corpo também se torna  perceptível através dos seus ousados vestidos usados em todas as cenas. É Johnny Farrell, personagem masculina principal interpretada por Glenn Ford, que conduz toda a ação do filme. É ele que narra a história, sendo que o espectador ouve e sabe aquilo em que ele está a pensar. Johnny está sempre a movimentar-se em cena. É ele que persegue Ballin Mundson (personagem encarnada por George Macready), depois de descobrir os seus maléficos planos. É ele também que prende Gilda em casa depois de se casarem. E é ele que lhe dá uma estalada, após esta dançar ousadamente em frente a outros homens, de forma a provocá-lo. Já a personagem feminina do filme revela um papel muito mais passivo: é Gilda quem recebe a estalada e vê toda a sua vida ser conduzida pelas decisões tomadas pelos personagens masculinos. É ela também quem executa duas sensuais danças, congelando, dessa forma, a ação e permitindo ao espectador e a todos os personagens masculinos em volta dela que se deleitem com a sua beleza.

Segundo o olhar de Mulvey, as diferenças existentes entre as personagens femininas e masculinas no cinema narrativo clássico, verificando-se como a mulher funciona como um objeto erótico a ser olhado. Esta ideia da mulher enquanto “imagem” e do homem enquanto portador do olhar aponta claramente para a noção de escopofília, termo utilizado por Sigmund Freud. De facto, Mulvey baseia-se na psicanálise desenvolvida por Freud, para desenvolver e sustentar a sua crítica sobre o cinema narrativo de Hollywood.  A escopofilia consiste na prática de obtenção de prazer que um indivíduo tem em olhar e observar alguém. Para Freud, esta é um dos instintos que compõem a sexualidade e consiste em tomar as outras pessoas como objetos, sujeitando-as a um olhar controlador e curioso. Pode dizer-se que a escopofilia pressupõe o desenvolvimento de uma certa identificação com o objeto/pessoa observado. Para Mulvey, a escopofilia é um dos muitos prazeres que o cinema pode proporcionar ao espectador, (sobretudo ao masculino, uma vez que a generalidade dos filmes pertencentes ao cinema clássico foram dirigidos a este). Vemos muitas vezes hoje em dia que os grandes sucessos de bilheteiras de cinema recorrem a mulheres que aparecem de forma apelativa, e são exploradas em função disso. Vemos isso em Portugal na grande maioria de filmes que expõem muitas vezes a mulher como objecto de apreciação e persuasão. 

A mulher é muitas vezes, mesmo em filmes de animação, colocada como um astro que roda em orbita à volta do homem, que a salva, que lhe dá vida, que a resgata, que lhe dá um beijo e a ressuscita…A mulher  dá nome a grande obras dos clássicos Disney, “A pequena Sereia”, “A Bela adormecida”, “A Cinderela”, mas em todos a acção é determinada pelo homem, e é muito curioso que ainda nos dias de hoje assim seja. A mulher hoje é a grande maioria de licenciados, ocupa inúmeros cargos de poder tanto político como social, e no entanto ainda se encaixa no papel descrito no Segundo Sexo de Simone Beauvoir, como inferior, secundário, obediente, necessitado, até por si própria, especialmente em função da sociedade que continua a tentar limitá-la a esse lugar.
A sociedade educa a criança para se situar num lugar, depender de um homem ou viver em função de um, e deixa que os olhos dos homens sejam aqueles pelos quais se vêem, por isso a imagem das mulheres de Hollywood é criada em função do desejo masculino e exposta também em função do mesmo. 




Publicidade e o Poder da Mente

Todos os dias somos bombardeados por milhares e milhares de imagens. Mas não são simples imagens, são figuras e composições que promovem algo ou alguém, que são posicionadas naquele exato local para nós as conseguirmos ver bem, sem distrações, são aquilo a que nós chamamos de publicidade.

Atualmente, a quantidade de anúncios que vemos num ano é a mesma quantidade que a sociedade dos anos 50 observava, em média, durante toda a sua vida e apesar desta quantidade de anúncios ser imensa, ainda nos deixamos afetar pela publicidade.
A publicidade e o marketing têm uma influência sobre as nossas vidas assoberbante, pois conseguem atingir a nossa mente de tal modo que são capazes de alterar o que pensamos (nem que seja por breves instantes) e fazer-nos ter a atitude que eles pretendem. É algo inconsciente, nós nem sentimos, mas a força que isto tem é verdadeiramente poderosa.

Tudo o que está presente num anúncio é pensado ao pormenor, desde as cores à sua posição, e os estudos que se realizam até chegar a um resultado considerado “bom” são imensos. Mas isto faz-me pensar… Depois de tantos anos a ver centenas de imagens e anúncios, de já sabermos as técnicas e truques que a maioria das marcas usa na promoção dos seus produtos e de sermos seres racionais, o facto de ainda cairmos nos enganos do marketing e da publicidade é algo extremamente intrigante.

Como é que um simples slogan ou imagem de uma água refrescantes ou uma camisola com um preço “super acessível” nos fazem levantar do sofá e adquirir certos produtos? É incrível o poder que a nossa mente tem para manipular mas também a vulnerabilidade que tem de se deixar enganar. Numa promoção de um produto bem-sucedida (que leva alguém a adquirir esse produto) derivou da mente de alguém que teve a capacidade de criar algo que manipulou o suficiente a outra pessoa para levá-la a comprar o produto mas também, a fragilidade que a mente tem de ser enganada que levou a outra pessoas a consumir.


Tudo é gerido pelo nosso raciocínio, o que é preciso é termos uma boa estrutura e conseguirmos distinguir o que está certo e errado, o que é realmente necessário e dispensável, etc., para viver a vida descontraidamente, sem sermos manipulados.

Em si, fora de si

Recentemente vi um filme intitulado “Memento” do ano 2000. A história desenrola-se à volta de uma personagem que sofre de uma doença rara. Esta manifesta-se, entre outros sinais e sintomas, com uma de perda de memória, mas só depois de um acontecimento apocalíptico no seu percurso de vida. Nesse período algo conturbado da sua vida, a vítima sofre um acidente em que lhe ocorre um traumatismo craniano e emocional. A sua vida familiar e afetiva é assim alterada num enredo em que a sua companheira também está envolvida.
Depois desse incidente, todo o seu universo vivencial, experiencial e emocional, surgem como algo que lhe é estranho de alguma forma impessoal. Não tendo qualquer memoria do seu enquadramento familiar e cultural, estes mundos de referencia ficam como que esquecidos. Tudo o que ele conhecia no seu mundo vivencial e de referência é desconhecido para si e sem qualquer memória do seu conhecimento ou interiorização.
          Tudo o que ele fez antes desse acidente, relembra constantemente e tudo o que aconteceu e acontece depois esquece completamente. Resolvi pegar na ideia deste vídeo pois, apesar de ser um bom filme, mexe com um aspeto diferenciado que se enquadra na disciplina: a alienação. Esta apresenta-se como uma renúncia ou transferência para outra parte de algo que pertence ao próprio. De algum modo pode ser um processo de estranheza de si, ou isolamento em que se separa dos contextos sociais.
O final do filme é efectivamente o que mais me impressionou e inquietou, fez com que me questionasse sobre o verdadeiro significado do conhecimento: “Qual será o peso que o verdadeiro conhecimento carrega?”
No fundo, nós tendemos a iludir-nos de que o verdadeiro conhecimento é a salvação, é aquilo que nos dá sentido para a vida, por exemplo: quando somos novos, a pessoas que nos envolvem fazem com que nós nos sentimos especiais, únicos. Quando crescemos reparamos que nós somos banais, com os mesmos direitos e deveres que o outro, mas, na realidade, não sabemos o que esse verdadeiro conhecimento é.
Concluo então, que cada um de nós constrói o nosso próprio conhecimento, isto é, inconscientemente nós criamos uma realidade paralela, fechamos os olhos ao que não queremos e abrimos os olhos ao que nos parece ser uma vida com rumo. O conhecimento pode ser enganoso e engana-nos. Ou seja, nós renunciamos para outra parte aquilo que pertence ao próprio conhecimento. O desconhecido é oposição, anseio, dúvida, mas também faz parte do equilíbrio da procura incessante do conhecimento e da construção do Eu.     

O Male Gaze Da Perspectiva Da Mulher

Dentro dos grandes fenómenos que vieram a aparecer desde a popularização da internet, está o surgimento das fandoms. Uma fandom é o nome dado a uma comunidade que segue apaixonadamente um certo nicho dos média, como a popular saga literária do Senhor dos Anéis, a série televisiva Supernatural ou os filmes da Marvel. Dentro destas comunidades, há um número incrível de fanart: arte feita pelos fãs acerca da fandom da sua preferência. Estas têm tendência a apresentar casais geralmete homossexuais que, embora sejam personagens da respectiva fandom, não são canon, ou seja, não são um casal na série, sendo esta relação uma criação dos fãs, que acham interessante ou credível o envolvimento romântico dessas duas personagens. Isto normalmente advém de uma observação de subtilezas nas interacções das personagens.

Ora, sendo que este acto é geralmente algo feito pela parte feminina da fandom, estas acabam por ser desprezadas como "lamechas" e "iludidas" acaba por ser uma expressão da interpretação feminina do Male Gaze. Ao longo da sua vida, as mulheres são forçadas pelas circunstâncias da vida a interpretar a expressão de desejo e tensão sexual na face masculina, portanto isto vai para além da ideia de "as mulheres só querem romance". Se uma pessoa entrasse no espaço pessoal de uma mulher, ou lambesse os lábios ao falar com ele, ela saberia interpretar isso. Se não soubesse, desnecessário será dizer as possíveis consequências disso. Sendo mulher, tem-se de prestar atenção aos mais breves olhares para evitar perigos que nem deveriam existir, mas infelizmente são algo muito presente nas nossas vidas.

E no entanto, constantemente, há uma subvalorização da "romantização" das personagens masculinas pela parte das mulheres. É óbvio que os escritores devem utilizar os seus personagens como querem, não obstante a opinião das fãs, mas é preciso desmistificar que a perspectiva feminina da interacção humana é menos válida do que a dos homens, e de que isto não vem de pensamentos esperaçosos, muito pelo contrário.

Domingos de Chuva

“A que Arte esteve reservado um sonho, que... fosse, em simultâneo, poético e real? Considerado de tal ponto de vista, o cinema representaria um meio de expressão absolutamente incomparável e, na sua atmosfera, só poderiam mover-se pessoas de pensamento muito nobre, em momentos de total perfeição e mistério do trajecto da sua vida.”
Séverin-Mars

Muitos julgam ter sido perdida muita reflexão vã em torno da questão da fotografia enquanto arte e, consequentemente, da questão do cinema enquanto arte. A realidade é que esta problemática  pode ser posta noutros termos para uma melhor compreensão: Será que a arte contemporânea se tornou fotográfica? Depois da invenção da fotografia, que deu lugar ao cinema, o carácter global da Arte parece ter mudado e, como tal, não é possível julgar a Arte nos mesmos termos que eram válidos até à altura.
Walter Benjamin, em “A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica”,  expõe um interessante paralelismo entre o Teatro e o Cinema, enunciando em que pontos é que estas duas manifestações artísticas divergem. Considerando o teatro como uma manifestação artística mais fidedigna, real e pura na sua essência temporal e espacial, Benjamin diferencia o Actor de Teatro do Actor de Cinema. Uma das conclusões principais da sua reflexão é que o Cinema não pode ser considerado uma arte que assente no valor de Culto uma vez que o Actor, ao contrario do Actor de Teatro, actua com a sua totalidade de pessoa mas sem a sua Aura (o Aqui e o Agora  que o Teatro proporciona).
Apesar da perda da Aura do Actor, e da personagem que representa, não considero que tal postulado retire ao Cinema o seu estatuto de expressão artística. Acredito que desde que o cinema se capitalizou, os interesses comerciais se sobrepuseram aos interesses culturais e o “culto da estrela” se instalou que ele se traiu a si mesmo, perdendo muito do seu valor cultural e artístico.
Porque é que penso assim? Há uns tempos para cá que decidi que deveria alargar a minha cultura cinematográfica. Foi com este pensamento que peguei numa das muitas listas dos melhores filmes de sempre e comecei a fazer uma selecção. Citizen Kane, Psycho e A Desaparecida foram os primeiros que quis ver. Comecei pelo Citizen Kane, aparentemente considerado o segundo melhor filme de sempre depois do Vertigo. Depois de os ver comecei a associá-los a outros já vistos como O Terceiro Homem, o Cinema Paraíso etc. O que todos estes filmes têm em comum é uma preocupação estética muito forte e sensível e uma dimensão humana ausente na grande maioria dos filmes da actualidade.
A capacidade dos actores (e realizadores) de transmitir emoções e sensações, como a nostalgia tão presente em Cinema Paraíso, foi substituída pelos efeitos especiais e excesso de grafismo em cenas violentas. A preocupação com os cenários e jogos de luz nas filmagens, incríveis na sua materialização em O Terceiro Homem, foi substituída por maquetas pré-feitas. Os filmes lentos em que podíamos apreciar a naturalidade do movimento e o desenvolvimento do raciocínio e da emoção humana, como A Janela Indiscreta, foram substituídos por filmes com cenas rápidas e cheias de acção que garantem a concentração do espectador. Também toda a grande dimensão do cinema é perdida com a “mania” de ver filmes em pequenos ecrãs como o dos computadores.

Creio que o Cinema tem vindo a perder o seu estatuto enquanto Arte desde que se tornou uma industria e se afastou do seu primeiro propósito, uma exploração Artística. A realidade é que esta Industria produz uma quantidade absurda de filmes, sem qualquer tipo de qualidade no enredo ou preocupação estética e intelectual só para entreter a população nos domingos de chuva.

Libertação da sociedade de alienação

A inteligência humana possibilita hoje a libertação do trabalho alienado que presenciamos na sociedade em que vivemos.  Novas tecnologias tem cada vez mais capacidade de executar o papel que, outrora, foi desempenhado pelo ser humano (indivíduo alienado),  emancipando-o da mecanização de trabalho a que era submetido,  possibilitando agora novamente o despertar das capacidade critica inerente a natureza humana.
Talvez o maior avanço tecnológico que proporcionou este despertar de consciência tenha sido a criação da internet, onde não existe barreiras físicas nem políticas a qualquer indivíduo que queira manifestar a sua opinião. No entanto, a internet sendo uma tecnologia recente é preferenciada pelas gerações mais novas, que nasceram já inseridos neste mundo das novas tecnológicas, ao contrário de anteriores gerações que, apesar de haver excepções, na generalidade encontram dificuldades de adaptação a esta nova potencialidade. Como tal,  encontramos em novas gerações uma nova mentalidade a nível global , mais conciente e activa em relação ao mundo em que vivemos, mais preocupados com problemas ambientais e humanitários causadas pelo modo de vida desta sociedade.

Em suma, acredito que aos poucos irá haver uma revolução face a vida sistematizada que a sociedade criou para cada indivíduo.  Uma libertação deste sistema e das suas ideologias em prol de questões verdadeiramente ligadas ao "ser humano" enquanto ser pertencente a este mundo. 







Realização Pessoal


O que é a realização pessoal? Considera-se que uma pessoa está realizada quando consegue alcançar a sua consciência moral e os seus objectivos, não havendo mais nada que possa desejar.

Para mim, a realização pessoal não surge apenas da execução de um grande objectivo ou feito, mas é algo que se vai construindo e cada pequeno acontecimento pode contribuir para essa realização. Quando uma pessoa procura alcançar um grande objectivo, como por exemplo ter um bom emprego ou ganhar um prémio conceituado, por vezes esquece-se de algo importante: apreciar o percurso. Por vezes, é durante a “viagem” percorrida que acontecem as melhores coisas, e é necessário dar valor às coisas pequenas, pois a nossa felicidade e realização pessoal vai-se construindo ao longo do tempo.

Não há nenhuma regra de como chegar à realização pessoal. Há quem leia, quem estude, quem organize eventos, quem reze, quem medite... Tudo o que surge ao longo da nossa vida ajuda-nos a evoluir, só temos de conseguir dar a volta da melhor forma e não nos podemos levar pelos desejos, porque assim nunca alcançaremos a satisfação.
Um dos primeiros passos a fazer para nos conseguirmos sentir realizados é ter consciência de que não podemos controlar tudo o que é exterior a nós, porque isso apenas nos causa uma sensação de ansiedade e infelicidade. A nossa felicidade não pode depender do nosso estatuto na sociedade, nem da nossa profissão, das pessoas, desejos e emoções. O facto de nos querermos sentir realizados só depende de nós: o aspecto mais importante para a procura da realização pessoal é a busca do próprio “ser”, da singularidade.
Há pessoas que aparentemente têm tudo o que precisam para serem felizes, como o dinheiro, a saúde e beleza, mas no entanto sentem-se irrealizados. E há pessoas sem dinheiro, pouco atraentes e sem estudos que são optimistas e fazem de tudo para tentarem ser felizes.
Penso que é extremamente importante para o ser humano fazer uma reflexão sobre a verdadeira natureza da nossa existência, de quem realmente somos e o que realmente queremos. É necessário conseguirmo-nos definir como indivíduos para conseguirmos alcançar a realização pessoal.
Mas será que o ser humano consegue alcançar a realização pessoal? Sendo um ser bastante dinâmico e em constante evolução, penso que é difícil sentirmo-nos satisfeitos por um longo período de tempo, uma vez que estamos sempre à procura de algo melhor.
Abraham Maslow foi um psicólogo americano que elaborou uma teoria centrada na realização pessoal. Segundo ele, este conceito transmite "o desenvolvimento máximo dos potenciais de cada ser humano; cada pessoa atinge a sua auto-realização na medida em que procura actualizar os seus potenciais".
Esta teoria baseia-se numa hierarquia constituída por cinco necessidades, onde as de nível mais alto só podem ser realizadas depois das de nível mais baixo. As básicas são as necessidades fisiológicas, como comer, beber e dormir; as necessidades de segurança, como ter um emprego ou religião; as necessidades sociais ou de amor, como pertencer a um grupo; as necessidades de estima, como o reconhecimento das nossas capacidades; e finalmente as necessidades de auto-realização. Este estado é a consequência da utilização activa de todas as qualidades e habilidades, e do desenvolvimento e aplicação do potencial do indivíduo.

troca da vida pelo sem-vida


É um facto que com o tempo as pessoas tornaram-se devotas do materialismo e procuram confortos e, para obtê-los, sujeitam-se a horas semanais de trabalho.
Antigamente, o artesão detinha conhecimento de todos os passos para a fabricação dum determinado produto, pelo que com o surgimento da industrialização o operário foi encaminhado a exercer unicamente uma função e, assim, passou a desconhecer o produto final para o qual investia trabalho. Esta divisão de tarefas implicou, por isso, que os trabalhadores desenvolvessem um trabalho muito mecanizado, pelo que deu rumo a um desvanecimento do prazer por trabalhar.
Trabalhar, deste modo, não trás realização ao trabalhador, pelo contrário, escraviza-o. Escravo do objeto, o trabalhador ao exercer a sua atividade mecânica está, simultaneamente, a valorizar o mundo dos objetos e a desvalorizar o mundo dos homens, pelo que deveria exercer superioridade no objeto, e não o contrário. Além deste pressuposto, o que o trabalhador parece não se aperceber é que o tempo que investiu (de vida) no objeto a construir, não volta, pelo que deixa de pertencer a si para pertencer ao objeto.
Exercer a atividade no trabalho deixa de ser uma manifestação essencial do homem, para ser um trabalho forçado e não voluntário, pelo que deixa uma crescente pobreza na vida interior do ser humano. O facto de por vezes trabalhar mais do que o necessário faz com que ele mesmo se afaste de si próprio e da sua natureza, pois no trabalho não existe o desenvolvimento de uma livre energia física e espiritual, mas um sacrifício, prejudicando-se continuamente a si mesmo, tal como confirma Karl Marx, que insiste na verificação de uma sobreposição do objeto face ao Homem, “O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz(…)” (O Trabalho Alienado, 1993).
Entretanto, levanto uma questão: - “porque é que as pessoas se sujeitam a isto?” - porque, como havia referido inicialmente, a sociedade procura saciar as suas necessidades e confortos e, por isso, além de trabalhar mais do que necessário, desenvolveu uma cegueira pelo dinheiro, pois é enfeitiçada pelos objetos físicos maioritariamente através da publicidade, sabendo que a tecnologia e a inovação sempre lhe despertaram fascínio. Posto isto, não é por acaso que na época natalícia existe um maior número de anúncios a brinquedos, por exemplo.
As pessoas trabalham exaustivamente para ganhar dinheiro, para obterem coisas que não têm, muitas delas de que não precisam realmente e, portanto, evocando novamente o natal, sentem uma necessidade implacável de comprar, comprar e comprar, pois entendem que esta época representa sempre uma boa oportunidade para se encherem, como se costuma dizer, de “mimos”. Pois é aí que se enganam redondamente. A verdadeira felicidade nunca será descoberta nos objetos. A história vulgar de as pessoas abdicarem do seu tempo a trabalhar miseravelmente durante um mês para acabarem uma tarde num centro comercial a colecionar objetos não parece refletir muita felicidade.
Pessoalmente, faz-me alguma confusão que as pessoas, “encantadas” pela novidade, estejam dispostas a trocar 700€ por um iphone 5, quando esta quantia corresponde a um valor superior ao que muitos indivíduos recebem por mês, além de se tratar de um objeto completamente desnecessário, o que prova que o ser humano sobrevaloriza os objetos físicos ao invés da sua própria vida, gasta pelo sobre trabalho.
Esta alienação no trabalho e “obsessão” pela obtenção de mercadoria faz com que o objeto fique a “ganhar” a duplicar, ao passo que o trabalhador/consumidor fica ingenuamente em desvantagem, pelo que mal não faria se os consumidores, isto é, todos nós, parássemos instantaneamente esta alienação para refletir uma curta frase como “O que possuis possui-te”.

O "objecto" na sociedade

No mundo de hoje deparamo-nos com uma sociedade que se preza muito pelos bens materiais, que consegue julgar a partir de uma cultural material. Isto é, com base na aquisição de bens revela-se o estatuto social a que pertence cada indivíduo. Com esta fome pelos bens materiais revelou-se cada vez mais uma certa falta de criatividade artística como um número menor de objectos que reflictam o seu criador, que contenham o seu toque característico.

Com base nas obras produzidas manualmente pelos artesãos, numa época em que a máquina não se encontrava perto do que é capaz de fazer hoje, era capaz de se notar o cunho pessoal do artesão. Numa altura em que o trabalho reflectia o seu criador, e a quantidade de produção era muito menor, o trabalho demonstrava as influências externas, e era criado em sintonia com a natureza, com o "mundo externo sensível"1.

Numa luta entre a qualidade e a quantidade, a quantidade ganhou. Com a quantidade veio uma futura alienação do produto realizado. Quero com isto afirmar uma desapropriação do produto, onde a criação já não pertence ao criador, e consequentemente, com maior produção, o objecto apodera-se da vida do trabalhador transformando-a numa "força hostil e antagónica"1. O trabalhador, cada vez mais, tem de produzir mais e trabalhar mais de forma a receber os "meios de subsistência", o salário que lhe permite substanciar as condições necessárias para a sua vivência diária.

Com o salário que recebe acaba adquirindo produtos produzidos em massa, quer seja o próprio produto que ajuda a produzir ou outros. Ou seja, de certo modo, trabalhamos para consumir. Todos os dias trocamos o dinheiro que recebemos por diferentes bens, alguns essenciais à nossa sobrevivência, e outros mais materialistas, que se infiltraram já tanto na sociedade que passaram a ser indispensáveis para o nosso dia-a-dia.

Ao criarmos cada vez mais objectos tecnológicos que passam a ser um "must have" da nossa sociedade, começa a existir uma barreira social entre quem os tem, quem não os tem, e os que tem. Por exemplo, existe uma diferença de preços entre os que não são considerados muito bons, e os que já têm um nome mais divulgado e que são considerados melhores, e a partir do modelo exacto que cada indivíduo compra vai poder reflectir o estatuto do mesmo, como a que grupo social pertence.

E é assim que nós cada vez menos possuímos objectos originais e únicos (no sentido em que agora seguem todos um modelo/padrão esquematizado e não têm o cunho pessoal que tornava cada peça única) em prole da quantidade, de diversos produtos de vários sectores. Ao trabalharmos para consequentemente consumir reflectimos o ciclo vicioso já existente há muito, mas com a evolução tornou-se cada vez maior e distribuído por mais sectores que passaram a existir devido à própria evolução.



1  Karl Marx (1993) "O Trabalho Alienado" in Manuscritos Económico Filosóficos

A mulher no contra-cinema

O contra-cinema surge em oposição ao cinema clássico, como expressão de uma vontade de cineastas feministas com Mulvey. Rompe com a narrativa em que a figura masculina protagoniza e condiciona o papel da mulher, que é secundarizada e transformada em objecto sexual, para prazer visual, quer da personagem masculina, quer do espectador masculino. Procura que a figura feminina abandone esta configuração de objecto sexual passivo, que surge na narrativa com esse propósito explícito e pretende que a mulher adquira um papel principal e activo na narrativa, com um uma personalidade própria e independente de um ser masculino, rompendo com o enredo característico de Hollywood.
Partindo do lugar-comum do príncipe e princesa dos contos de fadas, em que a acção se desenrola em função do salvamento da princesa pelo seu ‘príncipe encantado’, que apesar de não ser personagem principal, é a personagem que possui a coragem e a determinação, enquanto que a princesa simboliza a fraqueza e a subjugação ao poder masculino, que permite que a a história possua um final feliz. A história desenvolve-se em função deste. O próprio final feliz, remete para o preconceito da sociedade patriarcal, em que a mulher encontra a sua felicidade e está destinada a encontrar o seu marido, a casar e a viver com ele ‘para sempre’.
No cinema foi-se verificando um desenvolvimento na abordagem deste aspecto.
À medida que a mulher foi alcançando uma uma posição na sociedade cada vez mais equiparada à do homem, a narrativa foi-se alterando, e a mulher foi conquistando gradualmente um papel mais activo. Contudo, a narrativa clássica perdura e a mulher continua a aparecer para prazer visual. Temos por exemplo as  conhecidas ‘musas’ de de Woody Allen, em que estas, para além de existirem para prazer visual do espectador e do protagonista masculino, são também prazer visual para o cineasta, que cria em torno dessas mulheres uma aura de veneração.
É através do “contra-cinema” que Mulvey, entre outras feministas, pretende tornar a mulher um elemento tão activo como o elemento masculino e explorar novas representações da mulher.
Existem já um conjunto de filmes que expressam este ideal feminista, como Million Dollar Baby, de Clint Eastwood, em que a mulher, Maggie Fitzgerald, desempenha um papel à partida desempenhado por um homem, o de jogadora de boxe, o que dificulta o sucesso da sua carreira, por as outras personagens não acreditarem no seu futuro sucesso por Maggie ser mulher. Maggie é o suporte activo da acção e uma mulher corajosa e determinada, características associadas ao homem no cinema clássico.
Frankie Dunn (Clint Eastwood) é a personagem masculina, que inicialmente se recusa a treinar Maggie por esta ser uma mulher, mas que, perante a sua personalidade forte e credível, acaba por se convencer da sua força de vontade e possibilidade de sucesso.
A actriz Meryl Streep é ela própria uma mulher de personalidade forte e determinada, o que transparece nos papéis que desempenha e no sucesso da sua carreira. Em The Iron Lady, representando Margaret Thatcher, a primeira mulher a conseguir ocupar o cargo de primeira-ministra britânica. Em Doubt, é a irmã Aloysius Beauvierdirectora de uma escola no Bronx, que perante o comportamento duvidoso do padre Flynn para com um aluno decide intervir e expulsá-lo a todo o custo da escola. Em The Devil Wears Prada, desempenha o papel da directora de uma revista de moda, com uma postura sempre altiva e liderante, escondendo a tristeza sentida em relação à sua vida familiar e pessoal.
Todas estas mulheres desempenham um papel activo na acção, afastando-se da concepção da narrativa clássica de objecto sexual passivo, o objectivo de Mulvey e das cineastas feministas ao propagar a ideia de contra-cinema.